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Acordar com os socalcos vinhateiros do Douro em frente

Por Susana Pinheiro ,

No Douro vinhateiro, a Quinta da Pitarrela é um refúgio acolhedor e familiar rodeado de montes pincelados de verde e mantas de retalhos de socalcos. E a quietude da paisagem exterior prolonga-se para o interior das casas Xisto e Rosa.

Se há paixões que ficam para toda a vida e por elas vale a pena largar tudo ou quase tudo, a que Sónia Ribeiro, 48 anos, e o marido, Tiago Ribeiro, 44, têm pela região demarcada do Douro, Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, onde cresceram, é uma delas. Sónia deixou para trás 17 anos como educadora de infância e o rebuliço da cidade para dar nova vida à Quinta da Pitarrela, nos arredores do Peso da Régua, como turismo rural. Tiago é engenheiro e gestor automóvel no Porto, mas anda sempre numa roda-viva para a ajudar com as casas de Xisto e Rosa que, em pouco mais de meio ano, já conquistaram 9.8 de pontuação nos comentários do Booking.

É com essa paixão que nos acolhem quando cruzamos o portão da quinta, situada no pico do vale do Lugar da Pitarrela, com mantas de retalhos pinceladas de verde com socalcos de vinhas. Para trás deixámos quase três quilómetros de sinuosas estradas entre aldeias vinhateiras desde o Peso da Régua, onde nos deslumbrámos com o rio Douro a serpentear entre as margens salpicadas de verde. 

Recebem-nos com um sorriso e um “sintam-se à vontade, como se a casa fosse vossa”. E assim foi. Na primeira noite tivemos a quinta por nossa conta, ou melhor, a acolhedora Casa Xisto, reconstruída neste material e rasgada por enormes áreas envidraçadas - as portas de acesso directo aos cinco quartos, cozinha e salas de estar e de jantar. Todas as divisões têm vista para a piscina e montes em frente. A Casa Rosa, com duas suítes e casa de banho, só ficaria ocupada no dia seguinte. Ficámos, assim, sozinhos na quinta com dois edifícios que mantêm a traça original e típica da arquitectura local e surgem como um prolongamento da quietude exterior pela forma como estão decorados. Mas já lá vamos.

Refúgio vinhateiro

Com o calor que se faz sentir, a piscina convida a um mergulho refrescante, e as espreguiçadeiras no terraço a esticar as pernas para ali ficarmos a admirar a paisagem de fundo que se estende aos nossos pés. Acabamos por ficar no alpendre a ouvir Sónia e Tiago contarem a história de vida que os conduziu até aqui. “Filhos do Douro”, como gostam de se qualificar, os dois sempre adoraram a região onde cresceram e contactaram com o mundo da produção de vinho. Mais tarde, apaixonaram-se um pelo outro e foram para o Porto em busca de novas oportunidades profissionais, mas sempre com um piscar de olho ao Douro. 

“O bom filho a casa torna”, diz o provérbio, e foi o caso deles. “Sempre mantivemos uma paixão muito grande pelo Douro”, diz Tiago, que até estudou nos Estados Unidos. “Nunca deixei de cá vir”, acrescenta Sónia, que ainda se lembra dos tempos de infância, na Quinta da Prelada onde, mais tarde, nos vai levar. Recorda as correrias com os irmãos nos socalcos das vinhas e toda a azáfama que era (e ainda é) participar na vindima. Tiago também passou grande parte da infância nas quintas vinhateiras.

Foi assim, movidos pelo valor sentimental, que os donos da Pitarrela resolveram recuperar a propriedade que o pai de Tiago adquiriu há quatro décadas. E onde funcionava um centro logístico com armazéns, lagares, depósito de ferramentas e algum vinho a envelhecer. “Ali viviam os caseiros”, aponta Tiago para a Casa Rosa, que já teve três quartos, sala, cozinha e casa de banho, e que deram lugar às actuais duas suítes com casa de banho cada. 

Deixamo-nos contagiar e enamoramo-nos também pela paisagem e pela quietude do local, que nos convida a ficar. Quem chega do frenesim da cidade, como nós, acaba por encontrar um refúgio onde o impera o silêncio, apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros, de dia, ou, de noite, pelo cantar dos grilos. 

Sónia e Tiago vão logo dizendo que querem proporcionar experiências tradicionais e vinhateiras aos hóspedes, através do contacto com a produção de vinho, como fazem connosco, horas depois, na Quinta da Prelada, a uns quilómetros dali. A mesma que deu o nome ao quarto onde dormimos as duas noites – as outras quintas da família serviram de inspiração para os restantes quartos Vale do Corgo, Paradeita, Firveda, Estrada e Estrela. Os nomes estão inscritos em placas em cima das portas dos quartos que piscam o olho às placas das tabernas e das estações de comboios. 

Hospitaleiro e acolhedor

Quando entramos na Casa de Xisto, ficamos rendidos ao ambiente hospitaleiro, familiar e campestre em harmonia com o exterior. Sónia reciclou os móveis antigos com uma cunhada e pintou umas quantas peças tradicionais de casas de campo que por ali espalhou. Também restaurou e pintou portas e portadas antigas que transformou em cabeceiras de cama, por exemplo, e preencheu as paredes brancas com quadros, um deles com chaves enormes das portas de casas de campo antigas. Há ainda apontamentos de desenhos de borboletas, pássaros, flores e plantas por toda a casa, em almofadas e quadros, também em alusão à vida campestre. As caixas de vinho estão por todo o lado, seja no chão com um vaso no interior ou uma outra transformada em móvel de parede para guardar as toalhas numa casa de banho de uma das suítes. Depois os tons rosa, bege e azul da sala continuam a transmitir serenidade, com um baú restaurado pintado de rosa velho a servir de mesa de centro. Há ainda espaço para uma vitrina com os muitos troféus que Tiago ganhou nas corridas de carros. Na Casa Rosa, mais pequena, também há portadas que são cabeceira das camas e há motivos campestres por todo o lado. Sónia e Tiago chegaram a dormir ali, quando abriram a quinta ao público, mas os pedidos eram tantos para estadias que tiveram de a alugar também.

Os primeiros hóspedes entraram por altura da passagem de ano e, desde então, já contabilizaram 600 turistas – bem mais do que esperavam. Somam histórias engraçadas para contar, como uma que Sónia tão cedo não vai esquecer: a do israelita que pediu a namorada em casamento. “Ele até tinha trazido o vestido de noiva para ela vestir e celebraram uma cerimónia de troca votos, porque ele achou que era o sítio ideal e paradisíaco para o fazer”, recorda.


A Fugas esteve alojada a convite da Quinta da Pitarrela.

Como ir
A melhor forma de chegar à Quinta da Pitarrela é de carro pela A4. A partir do Porto, chega-se em pouco mais de uma hora ao espaço de turismo rural. Primeiro há que seguir pela A4 em direcção a Vila Real, passando pelo novo túnel do Marão. E depois sair na A24 em direcção a Viseu. Deve seguir as indicações até ao Peso da Régua para depois continuar pela estrada nacional até à Travessa da Pitarrela, Vilarinho dos Freires, e chegar à Quinta da Pitarrela. Também pode ir de comboio desde a estação de São Bento ou de Campanhã até ao Peso da Régua e depois apanhar um táxi até à quinta. Fica situada numa ruela apertada e tem parque de estacionamento privado.

Onde comer
Quem ficar na Casa Xisto e gostar de cozinhar, pode perfeitamente fazê-lo na cozinha de grandes dimensões e equipada com tudo do que precisa. Mas o pão de centeio é garantido, logo pela manhã, para as duas casas de turismo rural. O padeiro deixa-o ficar no saco pendurado do lado de fora do portão da Quinta da Pitarrela. Mas se preferir comer fora, há várias opções pelos arredores, nomeadamente, no restaurante panorâmico S. Leonardo, na Galafura, a uns quilómetros dali. E enquanto aprecia o rio Douro, lá bem no fundo, a serpentear os montes. Com o bacalhau à S. Leonardo e cabrito assado em forno de lenha como especialidades. Convém avisar com antecedência. 

O que fazer
O Museu do Douro fica a três quilómetros da quinta, no Peso da Régua, e vale a visita. Viajar de barco no rio ou de comboio entre a Régua e o Tua também é boa opção. Ou aproveitar a proposta de Tiago e Sónia de viver uma experiência vinícola na Quinta da Prelada, propriedade da família, a uns quilómetros da Pitarrela. Com um pouco de aventura num todo-o-terreno através de um caminho sinuoso e estreito de terra-batida, com paisagem de montanha como pano de fundo. Para visitar o armazém de tonéis - zona para envelhecer o vinho do Porto; cheirar depois o intenso aroma a vinho misturado com o perfume da madeira. Tempo ainda para provas de vinho tinto, branco, rosé e um Porto com dez anos. E ficar a saber que o vinho do Porto Quinta da Prelada - Vintage 2004 ganhou o troféu de melhor Vintage no International Wine Challenge 2007 e a medalha de ouro no Selections Mondiales des Vins, Canadá, 2007. Pode ainda deslumbrar-se no miradouro de São Leonardo da Galafura, a alguns quilómetros dali, donde se avista, ao longe, o rio a serpentear entre os montes. Um painel de azulejos numa das fachadas da capela tem memória do escritor Miguel Torga: “À proa dum navio de penedos,/ a navegar num doce mar de mosto,/ capitão no seu posto/ de comando, S. Leonardo vai sulcando/ as ondas/ da eternidade (…)”. 


Informações

Quinta da Pitarrela
Travessa da Pitarrela, 5050-361 Vilarinho dos Freires, Peso da Régua
T. +351 916 154 938
geral@quintadapitarrela.com
www.quintadapitarrela.com 
www.facebook.com/quintadapitarrela
Preços: Casa Xisto – 350 euros por noite - cinco quartos 
Casa Rosa – 120 euros – 2 suites para quatro pessoas

Nome
Quinta da Pitarrela
Local
Peso da Régua, Peso da Régua, Travessa da Pitarrela
Telefone
916154938
Website
www.quintadapitarrela.com
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