Fugas - hotéis

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Um refúgio no meio dos negócios

Por Samuel Silva ,

A Casa da Baiona parece uma ilha no meio das fábricas têxteis no vale do Ave. Parece mentira, mas é um bom lugar para descansar.

Aqui estamos em Santo Tirso. Do outro lado da estrada fica Vizela. Mais além, depois do rio, é Guimarães. Confuso? É assim mesmo no vale do Ave. Ali ao lado é uma fábrica, mais à frente há outra e depois uma mais. Aqui, estamos numa guest house. Parece estranho? Certamente, mas é assim mesmo no vale do Ave. Casas, fábricas, rio e vinhas entrelaçam-se numa teia complexa. Encontrar uma unidade hoteleira com bom gosto, serviço atento e uma cortina que a desliga deste mundo o mais das vezes feio parece um achado. É isso mesmo a Casa da Baiona.

Até aqui chegarmos, o GPS fez-nos perder entre caminhos estreitos que contornam terrenos agrícolas, passar em frente a casas humildes, cafés de aldeia, grandes e pequenas fábricas (para evitar igual experiência, siga as nossas indicações na página ao lado). Encontrar o lugar da nossa estadia no meio de tantas unidades industriais fez-nos entrar com receio. A Casa da Baiona fica quase literalmente entalada entre fábricas, que pertencem aos mesmos proprietários, mas uma “muralha” de pinheiros e abetos cria uma barreira visual imprescindível.

“A localização não joga muito a nosso favor”, reconhece Sara Pinto, directora do espaço, “mas, uma vez aqui, não nos apercebemos onde estamos”. Pudemos conferir isso mesmo. A casa está num patamar elevado, pelo que se afasta da envolvente. O espaço verde à sua volta joga a seu favor e amortece o som. Dentro do edifício, o silêncio é absoluto. Mesmo no meio da indústria, a Casa da Baiona pode ser um refúgio, mais do que uma unidade hoteleira para quem viaja em negócios.

A unidade é pequena – tem quatro quartos duplos, sendo que um deles é uma suíte –, mas tem um serviço aprimorado e charmoso ao nível de um bom hotel. Os hóspedes têm também ao seu dispor um campo de ténis e uma piscina exterior, que é apoiada por um bar, também aberto ao público. Na zona de auxílio à piscina existe também um centro de relaxamento, com uma sala de massagens, um pequeno ginásio e sauna. 

A Casa da Baiona abriu em Agosto num espaço que, nos últimos dois anos, os proprietários já usavam para o alojamento para alguns clientes especiais. O grupo empresarial aproveitou as condições que o edifício oferecia para o transformar numa unidade hoteleira que pode continuar a acolher os clientes do grupo, mas está agora aberta ao público. 

Esta guest house não está só no coração do vale do Ave. Fica também localizada bem no centro de uma das maiores empresas da região, o grupo Polopique, que tem várias fábricas situadas nesta área. Ao todo, são 40 mil metros quadrados de instalações industriais, onde trabalham mais de mil pessoas. A firma tem toda a produção integrada, desde a produção do fio a partir de algodão até aos produtos finais, que são peças de vestuário destinadas, em grande medida, às várias marcas do cardápio da Inditex, como a Zara ou a Massimo Dutti, por exemplo. A Polopique é, de resto, o terceiro maior fornecedor mundial do grupo galego.

A história da Casa da Baiona está intimamente ligada à da produção têxtil no vale do Ave. O edifício foi mandado construir pelo empresário José Magalhães, que era proprietário de algumas das fábricas das imediações, nos anos 1950. Era então uma residência particular, que foi usada até aos anos 1980. A partir de então teve muitas outras vidas, antes de ter aberto, no Verão, como guest house. A casa foi refeitório da administração e dos quadros das empresas da família, foi creche para os filhos dos seus funcionários. 

A ligação com a têxtil é sublinhada em vários pormenores da decoração, como os porta-chaves dos quartos, que são pequenas rodas dentadas como o velho símbolo da indústria ou as fotografias espalhadas pelas paredes das zonas comuns, feitas em meados do século anterior em várias unidades de fiação e confecção da região. Os tecidos são uma presença incontornável nos interiores, desde os sofás e canapés às almofadas abundantes nas várias salas de estar. Não é um acaso: todos aqueles padrões foram desenvolvidos nas empresas do grupo têxtil e escolhidos para serem uma marca da decoração da Baiona Guest House.

No entanto, os aspectos mais distintivos – e realmente bonitos – são ainda resultado da sua primeira utilização como casa particular, a partir da década de 1950. O edifício tem várias marcas do modernismo possível no Portugal daquele tempo, em especial uma sala de estar no rés-do-chão com o interior inteiramente em madeira e grandes janelas envidraçadas, que são muito acolhedoras. Nos quartos, os rodapés e rebocos dos tectos são ainda preservados como em meados do século XX e as grandes ventoinhas de madeira sobre as cabeças dos hóspedes sobrevivem ainda funcionais desde esse tempo.

O grande ex-líbris da Casa da Baiona foi também obra da década de 1950, ainda que tenha um ar mais antigo, com inspiração Art Déco: uma grande escadaria de mármore, em caracol, protegida por um corrimão de ferro e madeira, faz a ligação entre o rés-do-chão – onde estão duas salas de estar – e o piso superior, onde se situam os quatro quartos e a sala de refeições. 

É aqui que funciona o restaurante que é uma das mais-valias que a Casa da Baiona tem para oferecer ao público. Com capacidade para 20 pessoas e uma varanda encantadora para comer em dias de calor, o espaço serve menus à hora de almoço com pratos contemporâneas e saudáveis (entre os 15 e os 20 euros). Mas é ao jantar que a criatividade da ementa pode sobressair, com algumas propostas realmente tentadoras. Começámos por um interessante gaspacho de morango, antes de umas clássicas gambas salteadas al ajillo. O pregado impecavelmente grelhado foi servido sobre um puré de couve-flor, acompanhado por legumes salteados e a coxa de pato confitada guarnecida com polenta em ponte nova e uma quenelle de escabeche de legumes. Óptimos pratos no sabor, com aspecto requintado e esmero no serviço.

Como ir

Apesar de localizar-se formalmente no concelho de Santo Tirso, a cidade mais próxima da Casa da Baiona é Vizela, a menos de três quilómetros. Portanto, o melhor a fazer para encontrar a unidade hoteleira é tomar a A3/A7 a partir do Porto em direcção a Vizela e, uma vez na cidade, seguir as indicações que o levam em direção à VIM – Via Intermunicipal. É preciso passar duas rotundas até chegar a essa estrada, que quase não se chega a usar. Menos de 100 metros depois de entrar na via, saia na primeira saída, ainda antes da placa que identifica o início da freguesia de Vilarinho. Percorra a estrada secundária durante cerca de 50 metros, sempre com as fábricas ao seu lado direito e vire na primeira rua à direita. O primeiro portão que encontrar, mais uma vez à direita, é o da guest house.

Onde comer

O restaurante é um dos trunfos da Casa da Baiona, mas, uma vez que estamos no Minho, interessa também procurar os sabores característicos da região. Há muitos e bons restaurantes nas redondezas, mas deixámo-nos encantar pelo Águia d’Ouro, em Vizela. É um ambiente de típica cozinha minhota – paredes em pedra, lareira e ambiente acolhedor – que encontrámos neste recanto obrigatório, bem no centro da cidade. As doses são fartas, como impõe a tradição da gastronomia regional, com entradas robustas onde sobressaem os enchidos e as pataniscas de bacalhau e uma salada sem subterfúgios: tomate, alface e cebola, preparados de forma simples, para deixar brilhar o sabor natural dos seus ingredientes. O serviço é cuidado e todos os pratos são bem confeccionados, com o toque caseiro que o espaço propõe. Para prato principal, optámos por carnes grelhadas, de grande qualidade, com batata a murro e grelos. Acompanha-se com vinho Verde, pois claro. E o da casa é muito bom. Ainda há tempo – e estômago – para ir a Braga pedir emprestado um dos ex-líbris da doçaria da região, o pudim do Abade de Priscos, que segue a receita original e é abundante em doçura.

O que fazer

Se a Baiona Guest House está no centro de uma região de indústria e negócios, é de esperar que a unidade seja procurada preferencialmente por quem viaja em trabalho. Mas as suas características jogam a seu favor para quem procura um local para uma jornada de retiro e descanso. Se vier em passeio, estará no centro de uma região com vários motivos de interesse, a começar por Vizela, logo ao lado, uma pequena cidade de origem romana, que preserva ainda a sua ponte milenar e uma relação interessante com o rio do mesmo nome, que é um dos mais importantes afluentes do Ave. Guimarães, cidade que é Património Mundial e tem uma intensa vida cultural, também não fica muito longe: são cerca de dez quilómetros desde a guest house que se percorrem rapidamente pela estrada nacional. E se a cultura e o património são um dos seus interesses, aconselha-se uma visita a Santo Tirso. Afinal, é a sede do concelho ao qual pertence esta unidade hoteleira e tem, desde Maio, um novo motivo de interesse: o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, uma obra assinada conjuntamente pelos dois grandes vultos da arquitectura nacional, Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura, que também estiveram envolvidos na da remodelação do histórico Museu Abade Pedrosa, em edifício contíguo. 

A Fugas esteve alojada a convite da Casa da Baiona

Nome
Casa da Baiona
Local
Santo Tirso, Vilarinho, Rua Chã da Raposa, 52, Bairro da Baiona
Telefone
271 708 225/226
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