Quando fica alojado numa unidade sobre a qual pouco ou nada sabe, além do seu nome e características essenciais, pode acontecer uma de duas coisas: a aventura corre mal e promete a si mesmo que jamais voltará a partir para o desconhecido; ou então a experiência revela-se uma agradável surpresa, levando-o a crer que a aposta em não criar expectativas até tem as suas vantagens.
Foi o que aconteceu à Fugas na sua estadia na Quinta da Pereira e Enricas, unidade de agroturismo, situada em Vila Flor, em plena região do Tua. Não era o propósito da nossa reportagem, apenas um meio para atingir um fim, mas acabou por captar a nossa atenção. Porquê? Pela beleza da casa principal da quinta, pelas delícias caseiras com que fomos brindados ao pequeno-almoço, pelo sossego à volta e, acima de tudo, pelo atendimento personalizado. Sentimos que éramos verdadeiros convidados da família proprietária da quinta — dois irmãos, que decidiram, em 2007, complementar a actividade agrícola com a vertente turística.
A propriedade, que conta com quase dois séculos de existência — 1823 é a data inscrita no grande portão de ferro que dá acesso à quinta, que é, agora, unidade de alojamento —, e que foi edificada por um tio-bisavô dos actuais proprietários, dispõe de seis habitações (entre as quais estão duas suítes), viradas para a zona da piscina e para a extensa área de cultivo da quinta (são cerca de 25 hectares de terrenos), e com quartos de banho privativos. A decoração, à semelhança do que acontece nas salas de uso comum, combina, na perfeição, estilo rústico e design moderno, tendo sido projectada, única e exclusivamente, pelos proprietários da casa.
No exterior, mantiveram as linhas clássicas e originais da fachada. A única alteração feita à estrutura já existente aconteceu na sala de jantar, onde foi rasgada uma grande janela que permite uma vista privilegiada para a área da piscina e para a área de cultivo — acredite: irá adorar tomar o pequeno-almoço com os olhos postos nesta paisagem ímpar. No interior, apostaram em cores fortes — como o castanho, rosa, laranja ou o verde — para criar ambientes surpreendentes. Também foram aproveitadas algumas peças de mobiliário e de decoração antigas, que sempre pertenceram à casa, complementadas com vários elementos decorativos modernos, entre os quais saltam à vista várias telas pintadas à mão. “Foram feitas pela própria proprietária da casa”, elucida uma das funcionárias da unidade de alojamento, quando repara que o nosso olhar já está preso àqueles quadros há vários minutos.
Na sala de estar, foram criados vários espaços para aproveitar os momentos de descanso na quinta: além das poltronas e mesas de chá, os hóspedes têm à sua disposição uma mesa de jogos e uma biblioteca. Se a temperatura estiver amena e o sol der o ar da sua graça, as cadeiras e mesas instaladas no exterior da sala de estar também são uma opção para os momentos de leitura ou de convívio. Também terá a possibilidade de o fazer na varanda dos quartos — que também dispõem de mesas e cadeiras —, com a vantagem de poder usufruir das vistas a partir de um ponto mais alto (todos os quartos de hóspedes estão instalados no primeiro andar).
Ajudar na faina agrícola
Graças à sua localização —Vila Flor é um concelho rico em património cultural e natural, fazendo parte do Parque Natural Regional do Vale do Tua —, a Quinta da Pereira e Enricas oferece aos seus hóspedes muitas possibilidades de passeios e visitas culturais. Desde viagens de barco no Douro — que podem ser reservadas na própria quinta —, passando pelas caminhadas ao longo dos vários trilhos do parque natural do Tua, há muito para descobrir neste concelho situado a sul do distrito de Bragança e que foi baptizado de Vila Flor pelo rei D. Dinis (de acordo com os registos históricos, o monarca, aquando da sua passagem pela região, decidiu alterar a anterior designação desta terra, Póvoa d’ Além Sabor).
A todas estas opções deve ainda juntar o desafio que lhe é lançado dentro da extensa área de cultivo da quinta: virar agricultor por umas horas ou dias, dando uma ajuda na faina. “Os hóspedes podem vestir uma t-shirt com o logótipo da quinta e participar nas actividades agrícolas”, conta-nos Rosa Trigo, uma das proprietárias. As vindimas e a apanha da amêndoa e da azeitona são as actividades que maior interesse conseguem suscitar junto daqueles que chegam à Quinta da Pereira e Enricas com o objectivo de cumprir um verdadeiro programa de agroturismo. Mas há outras actividades para cumprir, uma vez que a propriedade agrícola tem produção ao longo de todo o ano. E não se assuste: mesmo que a jornada de trabalho se revele extenuante, quando chegar ao quarto irá encontrar todo o conforto necessário para recuperar forças.
Nestes primeiros anos de funcionamento enquanto unidade de alojamento, têm sido “os hóspedes estrangeiros que mais têm demonstrado interesse em participar nas actividades agrícolas”, conta Rosa Trigo, mas já vão aparecendo alguns portugueses decididos a dizer “pronto” e a calçar umas luvas.
Mesmo para os hóspedes que optam por não participar nas actividades agrícolas da quinta, há algo que lhes é garantido: às refeições irão ter a oportunidade de degustar os produtos produzidos naqueles terrenos, sejam eles frutos, azeite ou vinho. Na mesa do pequeno-almoço irá, certamente, aparecer-lhe à frente a fruta da época — aquando da nossa estadia, eram as uvas e os figos as “estrelas” do momento — e umas compotas e bolos caseiros, que completam as tradicionais ofertas de pão, iogurtes, sumos e café e chá. O mesmo acontecerá durante os almoços e jantares. Ainda que não tenha restaurante permanentemente aberto, a Quinta da Pereira e Enricas tem capacidade para servir refeições mediante pedido prévio dos hóspedes — não se acanhe, a filosofia da casa é corresponder às necessidades dos hóspedes. E se lhe apetecer levar para casa uma recordação dos sabores caseiros da quinta, tem sempre a opção de comprar umas garrafas de vinho ou azeite, com a marca da propriedade.
Como ir
A partir do Porto, deve apanhar a A4, até Murça. Depois segue pelo IC 5 até Miranda do Douro, para apanhar a via de acesso a Vila Flor. A unidade de alojamento está situada bem no centro da vila.
Onde comer
Restaurante Dom Castro
Especializado em cozinha tradicional portuguesa, com destaque para a posta à Dom Castro
Rua João Paulo II, 2, Vila Flor
Tel.: 278 516 53
A Fugas esteve alojada a convite do Parque Natural Regional do Vale do Tua
- Nome
- Quinta da Pereira e Enricas
- Local
- Vila Flor, Vila Flor, Rua da Quinta da Pereira, 2
- Telefone
- 278 512 289
- Website
- www.quintadapereira.com