Florença vai ficando para trás à medida que a auto-estrada se transforma em curvas cada vez mais apertadas pelo volante do motorista italiano. A noite cobre a estrada de névoa mas a abóbada celeste brilha como só acontece quando as cidades se afastam. No coração rural da Toscana, uma aldeia abandonada foi transformada em resort de luxo, onde quase nada falta para cumprir o imaginário típico da região sem falhar as comodidades exigidas pelos tempos modernos.
Há um castelo e um pequeno burgo com pelo menos 800 anos de história, vinhas e campos a verdejar o vale. Mas também alojamentos, piscinas, lojas, golfe. Castelfalfi é uma fénix turística que só a pulso — e com uma boa dose de determinação alemã — renasceu das cinzas. Ao fim de dez anos e de muitos solavancos, os trabalhos estão quase concluídos. No último dia de Março nasce o Il Castelfalfi, o hotel cinco estrelas do complexo.
É precisamente o seu corpo comprido entre o aparato das obras que vislumbramos em primeiro lugar. Ainda por terminar, parece para já demasiado imponente e descontextualizado, talvez porque na pele moderna do edifício ainda não moram os retoques da antiguidade que envelhecem as restantes construções. Integralmente recuperada, dos passeios às chaminés tradicionais da região, a minúscula aldeia parece um truque de magia.
Os traços arquitectónicos são típicos da Toscana — as paredes de pedra, as portadas de madeira, as telhas de barro — mas a perfeição dos pormenores denuncia o passe de ilusionismo. Não há negrume ou tinta a descascar paredes ou madeiras, a rua está impecavelmente pavimentada, os canteiros frondosos e os letreiros das lojas ainda a cheirar a novo. É como se estivéssemos numa aldeia construída para servir de cenário a um filme. Não tem as rugas da autenticidade, mas não vale menos por isso.
Estávamos em 2007 quando Michael Frenzel, então director-executivo do grupo alemão TUI AG, um dos maiores operadores turísticos da Europa, decidiu comprar a extensa propriedade onde se insere a pequena aldeia de Castelfalfi, no concelho de Montaione. A herdade, com mais de 1100 hectares de extensão, remonta à época medieval e chegou a pertencer à família Medici, que terá reconstruído o castelo, dando-lhe as formas que tem hoje.
Durante séculos, os campos agrícolas alimentaram a economia da fazenda, suportada, no início do século XX, por uma fábrica de tabaco. Mas, na década de 1960, começou a esvaziar-se de gentes, à medida que os habitantes partiam para melhores empregos na cidade. A pequena localidade — uma única rua com cerca de 200 metros de comprimento, erguida no alto de uma colina — foi caindo em decadência, passando de mãos em mãos sem que algum projecto chegasse a ver a luz do dia. Em 2007, restavam cinco moradores.
Foi então que a história da herdade italiana se cruzou com um gigante alemão. O grupo TUI AG adquiriu a propriedade — por cerca de 250 mil euros, diz-se — e deu início ao plano ambicioso: “dar nova vida a esta bela adormecida”, recuperando o edificado para transformá-lo num resort. O primeiro passo do monumental projecto foi restaurar o antigo burgo, dividindo os edifícios entre 48 apartamentos para venda e pequenas lojas no rés-do-chão. O antigo celeiro onde se secavam as folhas de tabaco foi igualmente recuperado e transformado no boutique hotel La Tabaccaia, com 31 quartos, a única unidade hoteleira do complexo turístico até à abertura do novo cinco estrelas, no lado oposto da rua. Foi aqui que ficámos alojados, num quarto com o tecto original em vigas de madeira e mobiliário simples e contemporâneo. Espalhadas pela herdade, existem ainda dezenas de villas e casas agrícolas — recuperadas ou à espera de comprador — e um bloco de novos apartamentos para alugar.
O processo tem sido moroso e dispendioso.Mas, dez anos depois, o projecto dá forma ao sonho inicial, com o último edifício concluído. O Il Castelfalfi será o primeiro hotel do catálogo Tui Blue Selection e conta não só com 120 quartos, como um spa e o restaurante La Via del Sale, de cozinha tradicional italiana. Será o terceiro restaurante do empreendimento, depois da trattoria Il Rosmarino, de ambiente mais informal e especializada em pizzas feitas em forno de lenha; e do La Rocca di Castelfalfi, o restaurante gourmet de inspiração na gastronomia típica da região. Fica no rés-do-chão do castelo, com três terraços-esplanada sobre a imensidão do vale.
A aldeia eleva-se numa colina, 250 metros acima do nível do mar. O suficiente para que uma neblina cerrada teime em cobrir os terrenos verdejantes ao nossos pés. Aqui e ali, uma aberta deixa escapar um pouco do clube de golfe lá em baixo, o maior da Toscana, com um campo de 18 buracos e outro de nove. Ou o Outono das videiras, o cinzento das oliveiras. A agricultura continua a ser uma parte importante da vida do resort. A vinha compreende 22 hectares de terreno, metade plantada em 2012. Na adega, provámos os quatro tintos e o branco já produzidos na herdade, com destaque para os tintos Poggio alla Fame e Cherchiaia, feitos a partir da casta local Sangenovesa. Há ainda o azeite produzido com as azeitonas de quase 10 mil oliveiras, os campos de farro e a horta. E ainda 350 hectares de floresta para explorar, integrados na reserva natural de Carfalo Torrent.
Esta pode até ser uma Toscana polida pelo conforto moderno dos resorts, mas a natureza e o dolce far niente eternizam-se no silêncio do vale. Um luxuoso refúgio para descansar ou servir de base à descoberta de vilas e cidades históricas da Toscana, à distância de poucos minutos de carro.
- Nome
- Toscana Resort Castelfalfi
- Local
- Estrangeiro, Itália, Castelfalfi - Montaione (Itália)
- Telefone
- +39 0571 891000
- Website
- www.castelfalfi.com