A relva até pode estar bem tratada e arrumadinha mas a areia no parque infantil irá garantir que, a determinada altura, as crianças vão desalinhar tudo. Quem é a miúda ou miúdo que resiste a uma descida no escorrega ou a umas boas andanças de balouço?
A vida de biberons e fraldas parece incompatível com a ideia de luxo mas foi esta combinação que a marca Martinhal quis explorar. O seu resort em Cascais, que recupera um antigo hotel no meio da Quinta da Marinha com mais de 80 quartos, está feito para conjugar as necessidades de uma família que chega lá sem biberons nem esterilizadores, berços ou banheiras, mas faz um telefonema para a recepção e ei-los no quarto. E está feito para a família que vai jantar ao restaurante O Terraço – que fica no piso térreo, com vista para um pátio central, o mesmo local onde é servido o pequeno-almoço – e pode deixar os filhos na “esquina das crianças” a brincar com outras sob o olhar de adultos.
Pensado também para famílias com crianças maiores, com quartos espaçosos e luminosos onde há camas que se abrem e parecem um beliche, o resort Martinhal Cascais dá várias possibilidades às famílias de fazerem programas juntos ou separados. Aos pais permite, por exemplo, irem gozar de um dos pacotes do spa Finisterra, fazendo massagens ou um tratamento de rosto, ou sair do meio do parque em que o hotel está inserido e ir até ao Guincho de bicicleta, passear em Cascais e Sintra, ir até Lisboa, com ou sem crianças – sem crianças porque logo à entrada do resort há um espaço cheio de cores, o Kids Clubhouse, com dois andares, onde bebés a partir dos seis meses até miúdos pré-adolescentes podem ficar a brincar sob supervisão (gratuita), e há ainda serviço (este pago) de babysitting.
Palavra de Chitra
O Martinhal Cascais é um dos quatro hotéis da marca Martinhal – há o de Sagres, do Chiado (Lisboa) e da Quinta do Lago (Algarve) –, cadeia que hoje emprega 500 pessoas. Nascida em Singapura, Chitra Stern é, com o marido, a proprietária do grupo de hotéis quase todos 5 estrelas. A relação do casal com Portugal começa com a descoberta do Algarve, quando Chitra Stern estava a terminar o seu MBA em Londres. Perceberam que era um destino “fantástico”, mesmo comparando com países como Indonésia ou Tailândia, lembra Chitra Stern em entrevista à Fugas.
Estávamos em 2001, Portugal e o Algarve ainda eram vistos como destinos turísticos “escondidos”. Acabados de casar, em 2000, Chitra Stern e o marido olharam para Lisboa como “a” cidade da Europa ocidental por “descobrir”. “Lembro-me que bastava dizer ‘bom dia’ em português para me responderem que eu já falava muito bem. Sentíamos este entusiasmo das pessoas.”
Na altura, Portugal estava a preparar-se para se juntar à moeda única europeia, a auto-estrada Lisboa-Algarve estava por terminar, a Via do Infante, que liga o Algarve todo, também só estaria completa em 2003. Muitas coisas iriam mudar no fluxo turístico a partir daí, sobretudo porque o aeroporto de Faro estava a aumentar a sua capacidade, e as companhias aéreas low-cost alterariam completamente a forma de se chegar a Portugal. “Sentimos que havia muito para oferecer, além da óptima comida e dos vinhos.”
Foi então que, em Dezembro desse ano, encontraram aquele que viria a ser o primeiro resort da marca, o Martinhal Sagres, onde investiram 85 milhões de euros (no de Cascais investiram 25 milhões, no do Chiado 15 milhões e no da Quinta do Lago 5 milhões). Isto quando “a maioria dos investidores estava a centrar-se na Quinta do Lago, Vale do Lobo, Albufeira.”
A escolha de Sagres foi “a combinação de uma relação amorosa muito racional”, confessa. Perceberam que queriam mais do que apenas um investimento, e mudaram-se para Portugal, país “muito orientado para a família”. Em 2002 nasceu o primeiro dos quatro filhos.
Agora têm promovido Portugal como “a Califórnia da Europa”, “porque há a variedade de 900 quilómetros de praias, a qualidade da comida e do vinho é excelente, e o compromisso com a sustentabilidade é comum”, explica, dizendo que sabe que é um rótulo por vezes criticado. “Ambos têm também laranjas fantásticas!”
Cappuccino com espuma
Chitra Stern explica o conceito de hotel familiar: nos últimos 20 anos, as pessoas têm filhos cada vez mais tarde; são mais selectivas na forma como usam o dinheiro; são mais exigentes; a oferta é maior. “O período de férias é cada vez mais precioso”, comenta. “Os pais estão a trabalhar, e os casais querem passar tempo de qualidade entre eles e com as crianças – que precisam de ser entretidas e também estão cada vez mais exigentes. O que queremos é que todos passem um grande momento”.
Normalmente, as famílias com filhos evitam ir de férias ou de fim-de-semana com crianças porque de repente se “sentem os párias da sociedade”, explica. “Vai-se a algum lado e as pessoas estão à espera que os nossos filhos estejam calados, ou ficam a olhar para nós por causa do barulho, coisa que todos os miúdos fazem. As famílias que vão aos nossos hotéis sentem que estão numa comunidade de outras famílias porque nos dedicamos completamente a elas – não têm que enfrentar os outros hóspedes que não querem ouvir os filhos chorar”, defende.
Além do restaurante principal O Terraço, no Martinhal Cascais há um italiano no edifício central, Os Gambozinos, e outro perto do lugar dedicado às crianças, o M Bar: pais e filhos têm menus para ambos, tanto há pizzas e hambúrgueres como risottos ou um peixe fresco para os pais. Tanto podem jantar todos juntos, como cada um à sua hora.
A filosofia é sempre esta: dar a oportunidade aos adultos de beberem um cappuccino com espuma (“às vezes beber um cappuccino é um desafio porque se está constantemente a correr atrás das crianças e a espuma desaparece…”, diz), um copo de vinho ou gozar de prazeres que se tornam difíceis nos primeiros anos de vida das crianças. É isso ou dar, toda a família, um grande mergulho numa das piscinas.
Um brunch descontraído a pensar nos mais novos
Avós, pais e filhos sentam-se à mesa ao domingo, mas também podem sentar-se ao sábado. A escolha é das famílias e o convite é do Martinhal Cascais, que até ao fim de Março oferece um brunch a pensar nas famílias (sábados e domingos, das 12h às 17h; custa 35€), sobretudo naquelas que têm crianças mais pequenas, com uma oferta de 20% de desconto no Finisterra Spa.
“Vi uma ‘lragrata’”, conta uma menina de quatro anos enquanto come ovos mexidos com batatas fritas. “La-gar-ta”, corrige a mãe, sublinhando bem as sílabas. “Lragrata!”, torna a miúda, com rapidez, sorrindo e voltando ao prato de plástico colorido que tem à frente. Do outro lado da mesa, a irmã mais nova está sentada numa cadeira adequada à idade e o pai ajuda-a a comer.
Há um casal que entra com dois rapazes, o mais velho espreita com curiosidade o buffet, o mais pequeno tem meses e a mãe pede ao empregado do restaurante para aquecer a sopa que traz numa caixa. É com naturalidade que o funcionário leva o recipiente para a cozinha. Afinal, o restaurante está habituado a receber os mais novos e trata-os com simpatia e atenção.
Noutra mesa, há um menino que insiste que quer “ir para baixo” e o pai faz-lhe a vontade, deixando a mãe a tomar um café enquanto contempla a envolvente – de um lado o edifício principal do Martinhal, do outro as várias villas. Por baixo fica o espaço onde as crianças podem fazer mil e uma actividades sempre supervisionadas.
Ou seja, este é um brunch que pode ser feito em família, mas se os adultos quiserem ficar mais um pouco a conversar, os mais pequenos podem ir brincar nas redondezas do restaurante. O Martinhal preocupa-se com a segurança dos mais pequenos e, por isso, para entrar ou sair daquele espaço é preciso abrir não uma, mas duas cancelas, com um cartão que é dado à entrada, na recepção do hotel.
E o que se pode comer neste brunch familiar? Além dos pães, croissants e uma agradável variedade de saladas leves, existem pratos quentes a pensar nos pais e nos avós, como o bacalhau com broa e grelos ou o arroz de enchidos; e outros mais vocacionados para os filhos – rolo de carne, peixe espada frito ou strogonoff com peru. A cozinha tem a preocupação de informar os clientes dos pratos que têm glúten, lactose ou frutos secos.
E as sobremesas são mesmo, mesmo pensadas para os mais pequenos. Há brownies com Smarties e gomas, mousse de morango que sabe a pastilha elástica, queijadas de leite; e depois há também escolhas mais requintadas, como o bolo de floresta negra, o parfait de manga ou a mousse de requeijão com compota de abóbora caseira.
O brunch do Martinhal é descontraído e também barulhento porque as crianças estão ali para se divertir, tal como os adultos, numa conversa animada como é, por norma, uma refeição em família.
- Nome
- Martinhal Resort Cascais
- Local
- Cascais, Cascais, Rua do Clube, 2
- Telefone
- 218 507 788
- Website
- www.martinhal.com