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Em Estremoz, entre sonhos de realeza e descansos milagreiros

Por Carla B. Ribeiro ,

Importante fortaleza militar durante o reinado de D. Dinis e Isabel de Aragão, rainha de Portugal, o castelo de Estremoz constitui uma das mais impressionantes pousadas históricas, onde uma única noite nos transporta a um passado mágico.

Altaneiro a todo o casario branco que compõe a malha urbana de Estremoz, o castelo, do qual se destaca a muito bem preservada torre de menagem construída em mármore da região e com 27m de altura, há muito que deixou de ter funções militares para servir de hospedaria: primeiro com gestão do Inatel e, depois, das Pousadas de Portugal, actualmente com o selo do Grupo Pestana.

O início da sua construção não é certo. Apenas se sabe que já existiria no reinado de D. Dinis e que seria a residência favorita da infanta aragonesa com quem aquele casou. A permanência de D. Isabel de Aragão, que ficaria conhecida como Rainha Santa Isabel (canonizada no pontificado de Urbano VIII — “São rosas, Senhor! São rosas...”), foi vital para a importância régia que Estremoz assumiu durante o início do século XIV. Por isso, não é de estranhar que a pousada tenha adoptado o seu nome. Aliás, se há estrutura que chama a atenção ainda antes de se atravessar a porta da pousada, é a estátua erigida em homenagem à monarca, posicionada como que a guardar o castelo e com as costas voltadas à vastidão das planícies que lhe parecem servir de moldura.

Lendas à parte, entrar hoje no castelo de Estremoz é como viajar no tempo. No entanto, o peso histórico das robustas paredes, também em mármore, não nos esmaga. E nem as dimensões tornam o espaço frio ou menos simpático. Antes, parece acolher-nos de forma serena, ainda que com certa cerimónia.

É certo que a pesada e enorme mesa de madeira nobre, com cadeirões fortemente trabalhados a condizer, transformada em recepção, consegue intimidar. Mas a postura de quem se senta do outro lado depressa alivia a inevitável tensão inicial. Aliás, o serviço, por altura da nossa estada, revelou-se de um profissionalismo ímpar: simpático e sem formalismos excessivos, mas ao mesmo tempo extremamente contido e discreto.

Voltam a ser as pessoas a quebrar toda a imponência observada a cada salão, corredor ou recanto. É que, um pouco por todo o lado, há peças de mobiliário pesadas, lustres imponentes, tapeçarias expostas, armaduras em ferro, tapetes de Arraiolos, pinturas, faianças... Qualquer divisão, aliás, poderia fazer parte de um museu, e atravessamo-las compassadamente — há por aqui peças que vale mesmo a pena observar com vívida atenção.

Não obstante o ambiente medieval, há por aqui também muita coisa que nos devolve ao presente. De sublinhar, por exemplo, o feito de ter sido montado um elevador nesta estrutura secular, muito apreciado após termos lançado um temeroso olhar à enorme e imponente escadaria...

Dormir como uma rainha

Se as áreas comuns nos remetem para um tempo faustoso, povoado por festas ao estilo medieval, conseguindo até imaginar que a qualquer altura irá irromper pelo salão uma travessa gigante com pernas de javali a fumegar ou cavaleiros barulhentos vestidos com cotas de malha e a arrastarem as suas pesadas armaduras, nos aposentos a magia é outra: a do descanso.

Há 31 quartos, uma suíte júnior e uma suíte presidencial, mas cada espaço é único, quer na estrutura quer na decoração. O quarto em que ficámos, milimetricamente aproveitado, era desafogado, não obstante a existência de uma cama de dossel, de uma robusta cómoda e de uns reposteiros que não ameaçavam (e cumpriram!) deixar entrar a luz do dia antes da hora. E o espaço não só se comprovaria muito satisfatório para dormir, como oferece boas condições para que, mesmo durante o dia, nos deixemos ficar entre o silêncio das suas paredes.

Já na casa de banho, a banheira, de difícil acesso para quem possa ter mais anos ou dificuldade de locomoção, poderia ser facilmente substituída por um duche, deixando também mais espaço livre.

Mas vamos ao que interessa: serão as camas dignas de uma rainha? Se pensarmos no (des)conforto das mesmas dos séculos XIII/XIV, naturalmente que não. São dignas de rainhas mas do século XXI, sendo observável uma boa aposta no conforto do colchão, assim como numa excelente qualidade das roupas de cama. E o conjunto, não temos dúvidas, produz verdadeiros milagres, ao conseguirmos acordar de forças e pensamentos retemperados.

Quanto às comodidades? Todas deste tempo: ar condicionado, minibar, acesso à Internet sem fios, TV com canais cabo, cofre...

A cereja chega com um pequeno-almoço que, não sendo do outro mundo, pode muito bem ser apreciado no terraço exterior. E só isso, nestes dias de sorridente Primavera, é o suficiente para completar a monárquica experiência. Mas, tome nota: os croissants são de comer e chorar por mais.

A experiência de uma noite na Pousada de Santa Isabel não pode, porém, ficar-se pelo usufruir do castelo. A “cidade branca” pode e deve ser calcorreada, com visitas obrigatórias, como são os casos do Convento e Igreja de São Francisco e do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho, que inclui uma preciosa colecção de arte sacra e barrística da cidade. Aos sábados de manhã, há Feira de Antiguidades e Velharias  na Praça D. José I, mais conhecida por Largo do Rossio.

Para uma experiência gastronómica inesquecível é de reservar mesa no restaurante A Cadeia Quinhentista (tel.: 268 323 400), localizado nas traseiras da Igreja de Santa Maria, mesmo junto à pousada, onde as propostas assentam na diversificada gastronomia tradicional recorrendo aos melhores produtos da região.

Nome
Pousada Rainha Santa Isabel
Local
Estremoz, Estremoz, Largo de D. Dinis
Telefone
351 268 332 075
Website
www.pousadas.pt
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