Fugas - hotéis

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No Flora Chiado estamos mesmo, mesmo como em casa

Por Bárbara Wong ,

No coração de Lisboa, o prédio de apartamentos de arrendamento temporário recebe turistas, sobretudo estrangeiros, que procuram experiências sofisticadas como experimentar uma refeição com uma estrela Michelin em casa.

Está a ver a livraria mais antiga do mundo? Aquela que fica no Chiado, em Lisboa. Entra-se pela Bertrand e é um corredor longo com livros de um lado e do outro, atravessando as entranhas de vários prédios pombalinos, na esquina da Rua Garrett com a Rua Anchieta . Nesta rua, há uns anos, a livraria tinha um armazém que servia também para eventos como lançamentos de livros. Hoje, esse armazém é o restaurante Alma, com uma estrela Michelin, do chef Henrique Sá Pessoa, e, na porta ao lado, no mesmo prédio da Rua Anchieta, fica o Flora Chiado Apartments, e na porta seguinte a loja Vida Portuguesa.

Há anos e anos que o arquitecto Ricardo Flora tentava recuperar o prédio — desde o tempo do seu bisavô, Biagio Flora, que a propriedade está na família, conta Julien Di Tuoro, gerente do espaço. Ali estavam vários arrendatários, entre eles a Bertrand, com rendas que não podiam ser actualizadas. Com a mudança da lei do arrendamento, o arquitecto conseguiu recuperar todo o prédio e pôr em prática o seu sonho. Na verdade, a ideia inicial começou por ser voltar a arrendar os apartamentos, mas Ricardo Flora imaginou um espaço diferente onde pudesse acolher turistas. E assim nasce o Flora Chiado Apartments.

Quando a recepcionista abre a porta do duplex de dois quartos no último andar, dá-nos as boas-vindas e diz que ali podemos ficar uma noite ou as que quisermos. É assim, não há limite, confirma Di Tuoro. A casa tem tudo o que é preciso para ficarmos quanto tempo quisermos: uma cozinha equipada e com um frigorífico cheio, e livros que não ficam só bem na decoração mas sobre os quais nos podemos demorar.

Como chove lá fora, subimos até às águas- furtadas — onde ficam os quartos com vista para as traseiras dos prédios da Rua Ivens e para o Castelo de São Jorge — para nos pormos confortáveis. Há chinelos e roupões. Voltamos para baixo, abrimos a garrafa de vinho e experimentamos o queijo e as tostas. Não apetece ir jantar fora, mas ficar ali, na mesa de vidro, iluminada pelos candeeiros Tom Dixon e com as paredes decoradas com as fotografias a preto e branco de Rui Palha, onde identificamos a calçada das Ribas, na Ericeira. É mesmo como se estivéssemos em casa.

Quando as obras começaram, os azulejos pombalinos foram guardados, assim como foram protegidos determinados espaços das casas, como as chaminés dos fogões das cozinhas que agora são chaminés de lareiras, por exemplo. Ao todo são dez apartamentos e a decoração ficou a cargo de Sofia Bragança. Ali ficamos, na sala, a ler um livro sobre a vida e obra de Paula Rego, enquanto os miúdos sobem para os quartos — um abre os livros para estudar, outro aproveita para ver televisão. Não viemos fazer turismo, só passar uma noite fora, mas conseguimos imaginar os franceses, os brasileiros ou os italianos a sair porta fora e a experimentar a vida nocturna no Chiado e no Bairro Alto. Por isso, subimos escada acima, calçamo-nos, chamamos os miúdos, vestimos os casacos, sem esquecer o chapéu-de-chuva, e a saímos porta fora.

A recepcionista avisa que a porta do prédio fecha às 23h, mas que há um código para abri-la. Despedimo-nos, apertamos bem os casacos e saímos. Na volta, introduzimos o código, entramos no elevador que também só funciona com o cartão de acesso ao apartamento e regressamos ao quente do acolhedor duplex. Na parte de baixo, além da sala e da cozinha, existe uma pequena casa de banho com um lavatório de pedra. Lá em cima são as duas suítes com uns colchões altos e muitíssimo confortáveis. Serão daquela marca escandinava que diz ser detentora dos “melhores do mundo”? “São portugueses”, responde, divertido, Di Tuoro.

No rés-do-chão, no restaurante Alma, há sempre uma mesa reservada para os clientes dos apartamentos, garante o gerente. E, caso queira, em vez de o cliente ir até ao restaurante, este pode ir até ao cliente e ao seu apartamento. Existe esse serviço a que Di Tuoro chama de “mordomo” que serve uma refeição fora do Alma.

O pequeno-almoço é da responsabilidade dos clientes que, a partir das sete da manhã, têm um saco de pão e croissants, tudo quentinho, pendurado na porta do apartamento. É só abrir a porta, puxar o saco para dentro, levá-lo para a cozinha, pôr as três variedades de pães no cesto e levá-los para a mesa. Para acompanhar há doces, portugueses, assim como manteiga biológica e charcutaria diversa — está tudo no frigorífico, lembra-se? Também há ovos que podem ser mexidos ou cozidos, como queira. Iogurtes, leite, chá e café.

Se a noite foi de chuva, a manhã é de sol e com aquela luz quente que maravilha os turistas que chegam a Lisboa e que entra pela clarabóia e pelas janelas que dão para as traseiras. Enquanto cozinhamos, espreitamos as escadas de serviço e varandas dos outros prédios, onde ainda existem residentes, daqueles que assinarão petições contra o excesso de turismo, apostamos.

A experiência do pequeno-almoço é a única que fica por conta do cliente, o resto — a abertura da cama (feita entre as 17h e as 19h), bem como a mudança das toalhas, fica a cargo do pessoal do Flora. Basta informar se quer, por exemplo, que mudem os lençóis diariamente. Di Tuoro gosta também de indicar os melhores sítios para visitar, bem como os cuidados a ter, por exemplo, com os carteiristas. “Tentamos personalizar a estadia, gostamos de saber se vêm de férias, em lazer ou negócios e personalizar o serviço”, informa.

Onde comer

Estamos no centro da cidade. Mesmo na porta ao lado funciona o Alma, que conquistou uma estrela Michelin este ano. É preciso marcar mesa no restaurante de Henrique Sá Pessoa com antecedência, caso contrário dificilmente conseguirá experimentar esta cozinha durante a sua estadia. Um hipótese é, quando reservar o hotel, fazer logo o pedido para o Alma, que só tem uma mesa para os hóspedes do Flora por noite.

Praticamente à frente da porta do Flora fica a porta das traseiras do Belcanto, de José Avillez, que tem não uma, mas duas estrelas Michelin. Aliás, outros projectos deste chef ficam por perto, nomeadamente o Bairro do Avillez.

Para quem não quer estrelas Michelin e procura algo mais descontraído, o To.B – To Burguer or not to Burguer fica mesmo na esquina da Anchieta com a Rua Capelo e é mais do que uma hamburgueria, tão na moda por estes dias. Trata-se de um espaço com uma filosofia sustentável, por exemplo as cadeiras são feitas de alumínio reciclado e todas as madeiras, das mesas à decoração, foram reaproveitadas. Aliás, ali não existe um microondas, ou seja, a preocupação com a sustentabilidade estende-se aos alimentos, explica o responsável pela sala. São comprados diariamente, de preferência são biológicos, assim como o pão é fabricado todos os dias e sem aditivos ou conservantes. Quanto à carne, é 100% de vaca e oriunda dos Açores.

As sugestões passam por experimentar Camembert Panado como entrada. Há hambúrgueres, saladas, legumes grelhados, batata-doce aos palitos… Para os que gostam de carne, há um hambúrguer de seu nome Meatlover com rosbife, agrião e mostarda. No campo das saladas pode optar pela Veggie Grill com legumes assados, cebola caramelizada, rúcula, rebentos de soja, amêndoas e molho de gengibre e mel. A refeição pode terminar com um doce como morangos com suspiros ou um pudim de ovo. Um final feliz.

A Fugas esteve alojada a convite dos Flora Chiado Apartments

 

Nome
Flora Chiado Apartments
Local
Lisboa, Lisboa, Rua Anchieta, 13
Telefone
211 391 436
Website
www.florachiadoapartments.com
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