Tudo começou pela vontade de ter um laranjal. Reinfried Pohl, fundador da Deutsche Vermögensberatung, queria adquirir um pequeno laranjal no Alentejo. E, quando já estava prestes a desistir, surgiu uma oportunidade que o magnata não deixou passar: comprar um laranjal, sim, mas inserido numa propriedade de 793 hectares. “Pode-se dizer que o laranjal saiu caro”, brincam connosco.
Duas décadas volvidas, a Herdade dos Grous, visitada frequentemente pelas aves que lhe dão nome - e que, nos dias que lá passámos, foram agraciando a nossa estada com fascinantes voos coreográficos -, além do laranjal, tem um vasto olival e vinhas que lhe têm granjeado distinções. Mas não só.
A herdade revelar-se-ia um sítio perfeito para a criação de uma unidade de alojamento. Sempre seguindo a linha do grupo no sentido de desenvolver condições para alojar os seus funcionários e respectivas família em ambientes descontraídos, além de reunir o necessário para organizar uma variedade de conferências e seminários.
No entanto, a vasta dimensão da herdade acabaria por permitir abrir portas não só à equipa de consultores financeiros da empresa, como igualmente a todos quantos procurassem dias de contacto com a natureza e um ambiente descontraído, não estando disposto a abdicar dos requintes e confortos do quotidiano. E, talvez mais importante, do recato.
Assim que se chega à herdade, sendo noite cerrada, percebe-se que os sons dos nossos passos serão suficientes para denunciar a nossa presença. Como música de fundo, cantigas de pequenos insectos que vão aproveitando o fresco da noite para saírem dos refúgios que ocupam durante os dias mais quentes. No interior, somos aguardados para efectuar o registo, esperando sermos levados daí a nada para um quarto mesmo ali ao lado. Enganámo-nos.
Os aposentos que nos destinaram ficam do outro lado da herdade, depois de passar pela pequena barragem que alimenta estas terras, e ultrapassados ainda outros núcleos que nos lembram pequenas aldeias. Graças ao luar, consegue-se antever o que nos espera ainda antes de lá chegarmos. Pequenos aglomerados de casinhas alvas, debruadas a azul, rodeadas de verde e abraçadas pelo casamento de uma pequena capela nas suas costas e de um clássico coreto na sua dianteira.
Sono retemperador
Assim que se abre a porta que dá acesso a um quarto de dimensões magnânimas, percebe-se que a Herdade dos Grous deveria integrar uma categoria de turismo rural, certamente, mas com cinco estrelinhas a brilhar.
A decoração é regional, mas nota-se que nada foi deixado ao acaso. E verifica-se, com agrado, que houve uma preocupação genuína na escolha dos materiais. Não é à toa que, passados tantos anos de laboração, a unidade de alojamento se apresente (quase) como nova. Desde o mobiliário de qualidade até aos sofás cujos tecidos parecem reluzir de novos. E, muito importante, uma lareira deixa sonhar com noites mais frias mas também mais acolhedoras.
A cama, que já encontramos aberta e preparada, dá para nos esticarmos à vontade, e as roupas transmitem aquilo que mais se quer de uma noite de descanso: pureza e suavidade. Talvez por isso o sono, fala a voz da experiência, tenha sido no mínimo retemperador.
Mas o que de facto faz a diferença são os detalhes. E estes encontram-se um pouco por toda a parte. Desde a garrafa de vinho e o prato de fruta que fazem parte da oferta proposta e que, no dia seguinte, incluiria uma visita à adega (podendo escolher-se ainda integrar uma prova de vinhos), até aos objectos que encontramos no closet. O mais peculiar, provavelmente, terá sido uma lanterna. E assim que avistamos este pormenor percebemos que nos Grous é tudo pensado até ao mais ínfimo detalhe. Afinal, um passeio pela herdade à noite só poderá ser feito mesmo de lanterna em punho. Outras preciosidades incluem guarda-chuva ou chapéu para o sol.
Já no salão (a troca da palavra casa é, refira-se, propositada) de banho, uma banheira de canto convida a imersões demoradas. Não só a tina, como toda a decoração à sua volta, na qual não faltam nem velas nem pétalas de rosas vermelhas. E mais uma vez o pormenor que muitas vezes falta em hotéis mesmo de luxo: os fósforos sem os quais não se poderiam acender as velas.
A ideia parece-nos simples: o quarto, pelo seu conforto, quer-nos prender, enquanto os proprietários da herdade fazem de tudo para nos mostrar tudo o que está para além daquelas quatro paredes. E não há falta do que fazer, seja em que altura do ano for. Como agora, com o calor, em que imperam as actividades em torno da água, seja simplesmente o chapinhar pela piscina, seja entrar pelo lago adentro para praticar remo ou canoagem.
Para quem prefira programas mais tranquilos, há a possibilidade de se optar por uma gaivota e, tranquilamente, pedalar pela barragem. Se a água não bastar, então a herdade propõe desde piqueniques, workshops de como cozer pão alentejano, pesca desportiva ou passeios a cavalo. Além de que há sempre uma bicicleta em algum sítio pronta a ser montada para dar longos passeios pelo território dos Grous.
Fora da herdade, também há um mundo a descobrir. E, por isso, há parcerias desenvolvidas com várias entidades, uma das quais a Up Alentejo, que nos levaria num inesquecível voo de balão pela região: com direito a voos rasantes ao lago da herdade.
A Herdade dos Grous, porém, não oferece apenas uma boa noite de sono e uma panóplia de actividades ao ar livre. Com uma forte aposta no vinho e no azeite, a gastronomia é outra das suas damas, apresentando uma cozinha despretensiosa que aposta nas especialidades da cozinha regional alentejana.
Na carta não faltarão as sopas alentejanas, os aromáticos estufados de carne, o porco ibérico nem as mil e uma sobremesas, com uma forte presença dos doces conventuais (uma das propostas, aliás, é indizível a gulosos: uma tábua de doces que traz um bocadinho de tudo o que se pode imaginar). Já ao pequeno-almoço, a primazia é dada aos queijos caseiros, aos doces, ao pão acabado de cozer e aos sumos de fruta colhida na herdade. Nós sugerimos começar o dia com um sumo de laranja. Afinal de contas, esta herdade nasceu por causa de um laranjal.
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Como ir
De carro, seguir em direcção a Beja (do Porto, A1 e depois seguir para a A2; de Lisboa, optar pela Ponte 25 de Abril). A herdade fica a cerca de 15km da cidade e antes de chegar a Albernôa
- Nome
- Herdade dos Grous
- Local
- Beja, Albernoa, Herdade dos Grous
- Telefone
- 284960000
- Website
- http://www.herdadedosgrous.com/
- Observações
- A parte de alojamento oferece 24 soluções: 12 quartos duplos, sete suites juniores, duas suites para duas pessoas e três suites para quatro pessoas. No restaurante há 90 lugares, sendo que o terraço deste oferece vista panorâmica sobre a propriedade e as vinhas. Uma noite em alojamento duplo reserva-se desde 125€