Fugas - hotéis

  • João Cordeiro
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O meu pé de laranja alentejana

Por Carla B. Ribeiro ,

Um dia alguém procurou um laranjal no Alentejo. E o que encontrou foi o sítio perfeito para ter esse laranjal e ainda desenhar um projecto que inclui uma unidade de turismo rural que pode concorrer com muitos hotéis de cinco estrelas. Abrimos as asas na Herdade dos Grous.

Tudo começou pela vontade de ter um laranjal. Reinfried Pohl, fundador da Deutsche Vermögensberatung, queria adquirir um pequeno laranjal no Alentejo. E, quando já estava prestes a desistir, surgiu uma oportunidade que o magnata não deixou passar: comprar um laranjal, sim, mas inserido numa propriedade de 793 hectares. “Pode-se dizer que o laranjal saiu caro”, brincam connosco.

Duas décadas volvidas, a Herdade dos Grous, visitada frequentemente pelas aves que lhe dão nome - e que, nos dias que lá passámos, foram agraciando a nossa estada com fascinantes voos coreográficos -, além do laranjal, tem um vasto olival e vinhas que lhe têm granjeado distinções. Mas não só.

A herdade revelar-se-ia um sítio perfeito para a criação de uma unidade de alojamento. Sempre seguindo a linha do grupo no sentido de desenvolver condições para alojar os seus funcionários e respectivas família em ambientes descontraídos, além de reunir o necessário para organizar uma variedade de conferências e seminários.

No entanto, a vasta dimensão da herdade acabaria por permitir abrir portas não só à equipa de consultores financeiros da empresa, como igualmente a todos quantos procurassem dias de contacto com a natureza e um ambiente descontraído, não estando disposto a abdicar dos requintes e confortos do quotidiano. E, talvez mais importante, do recato.

Assim que se chega à herdade, sendo noite cerrada, percebe-se que os sons dos nossos passos serão suficientes para denunciar a nossa presença. Como música de fundo, cantigas de pequenos insectos que vão aproveitando o fresco da noite para saírem dos refúgios que ocupam durante os dias mais quentes. No interior, somos aguardados para efectuar o registo, esperando sermos levados daí a nada para um quarto mesmo ali ao lado. Enganámo-nos.

Os aposentos que nos destinaram ficam do outro lado da herdade, depois de passar pela pequena barragem que alimenta estas terras, e ultrapassados ainda outros núcleos que nos lembram pequenas aldeias. Graças ao luar, consegue-se antever o que nos espera ainda antes de lá chegarmos. Pequenos aglomerados de casinhas alvas, debruadas a azul, rodeadas de verde e abraçadas pelo casamento de uma pequena capela nas suas costas e de um clássico coreto na sua dianteira.

Sono retemperador
Assim que se abre a porta que dá acesso a um quarto de dimensões magnânimas, percebe-se que a Herdade dos Grous deveria integrar uma categoria de turismo rural, certamente, mas com cinco estrelinhas a brilhar.

A decoração é regional, mas nota-se que nada foi deixado ao acaso. E verifica-se, com agrado, que houve uma preocupação genuína na escolha dos materiais. Não é à toa que, passados tantos anos de laboração, a unidade de alojamento se apresente (quase) como nova. Desde o mobiliário de qualidade até aos sofás cujos tecidos parecem reluzir de novos. E, muito importante, uma lareira deixa sonhar com noites mais frias mas também mais acolhedoras.

A cama, que já encontramos aberta e preparada, dá para nos esticarmos à vontade, e as roupas transmitem aquilo que mais se quer de uma noite de descanso: pureza e suavidade. Talvez por isso o sono, fala a voz da experiência, tenha sido no mínimo retemperador.

Mas o que de facto faz a diferença são os detalhes. E estes encontram-se um pouco por toda a parte. Desde a garrafa de vinho e o prato de fruta que fazem parte da oferta proposta e que, no dia seguinte, incluiria uma visita à adega (podendo escolher-se ainda integrar uma prova de vinhos), até aos objectos que encontramos no closet. O mais peculiar, provavelmente, terá sido uma lanterna. E assim que avistamos este pormenor percebemos que nos Grous é tudo pensado até ao mais ínfimo detalhe. Afinal, um passeio pela herdade à noite só poderá ser feito mesmo de lanterna em punho. Outras preciosidades incluem guarda-chuva ou chapéu para o sol.

Já no salão (a troca da palavra casa é, refira-se, propositada) de banho, uma banheira de canto convida a imersões demoradas. Não só a tina, como toda a decoração à sua volta, na qual não faltam nem velas nem pétalas de rosas vermelhas. E mais uma vez o pormenor que muitas vezes falta em hotéis mesmo de luxo: os fósforos sem os quais não se poderiam acender as velas.

A ideia parece-nos simples: o quarto, pelo seu conforto, quer-nos prender, enquanto os proprietários da herdade fazem de tudo para nos mostrar tudo o que está para além daquelas quatro paredes. E não há falta do que fazer, seja em que altura do ano for. Como agora, com o calor, em que imperam as actividades em torno da água, seja simplesmente o chapinhar pela piscina, seja entrar pelo lago adentro para praticar remo ou canoagem.

Para quem prefira programas mais tranquilos, há a possibilidade de se optar por uma gaivota e, tranquilamente, pedalar pela barragem. Se a água não bastar, então a herdade propõe desde piqueniques, workshops de como cozer pão alentejano, pesca desportiva ou passeios a cavalo. Além de que há sempre uma bicicleta em algum sítio pronta a ser montada para dar longos passeios pelo território dos Grous.

Fora da herdade, também há um mundo a descobrir. E, por isso, há parcerias desenvolvidas com várias entidades, uma das quais a Up Alentejo, que nos levaria num inesquecível voo de balão pela região: com direito a voos rasantes ao lago da herdade.

A Herdade dos Grous, porém, não oferece apenas uma boa noite de sono e uma panóplia de actividades ao ar livre. Com uma forte aposta no vinho e no azeite, a gastronomia é outra das suas damas, apresentando uma cozinha despretensiosa que aposta nas especialidades da cozinha regional alentejana.

Na carta não faltarão as sopas alentejanas, os aromáticos estufados de carne, o porco ibérico nem as mil e uma sobremesas, com uma forte presença dos doces conventuais (uma das propostas, aliás, é indizível a gulosos: uma tábua de doces que traz um bocadinho de tudo o que se pode imaginar). Já ao pequeno-almoço, a primazia é dada aos queijos caseiros, aos doces, ao pão acabado de cozer e aos sumos de fruta colhida na herdade. Nós sugerimos começar o dia com um sumo de laranja. Afinal de contas, esta herdade nasceu por causa de um laranjal.

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Como ir
De carro, seguir em direcção a Beja (do Porto, A1 e depois seguir para a A2; de Lisboa, optar pela Ponte 25 de Abril). A herdade fica a cerca de 15km da cidade e antes de chegar a Albernôa

Nome
Herdade dos Grous
Local
Beja, Albernoa, Herdade dos Grous
Telefone
284960000
Website
http://www.herdadedosgrous.com/
Observações
A parte de alojamento oferece 24 soluções: 12 quartos duplos, sete suites juniores, duas suites para duas pessoas e três suites para quatro pessoas. No restaurante há 90 lugares, sendo que o terraço deste oferece vista panorâmica sobre a propriedade e as vinhas. Uma noite em alojamento duplo reserva-se desde 125€
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