Fugas - viagens

Índia: Andar muito, devagar

Por Bruno Cabral, Xeca Robles e Nuno Milagre

Atravessar a Índia de Norte a Sul a uma média de 25 km por hora, conduzindo um pequeno veículo que não foi concebido para grandes distâncias, está longe do ideal de férias. Mas entusiasmou Bruno Cabral, Xeca Robles e Nuno Milagre, que se fizeram à estrada com uma provocante certeza: não vai ser fácil. Foram e voltaram, recompensados. Hoje contam, com as suas fotos e texto na primeira pessoa, por que é que vale mais viajar sem rede do que ficar a baloiçar na rede, de papo para o ar.

Nenhum de nós tinha experimentado conduzir um riquexó motorizado ou veículo semelhante. Fizemos o test drive em Jaisalmer nas voltas das compras de equipamento em falta e pincéis, tintas e enfeites para decorarmos o riquexó. Aulas de condução sem instrutor, directamente no trânsito da cidade, formação de choque para nos entregarmos sem rodeios à ciência oculta que rege o movimento rodoviário na Índia. Tráfego imparável à beira do caos, que tanto nos assustou como nos divertiu ao longo do caminho. Foram 2500 quilómetros, de Jaisalmer a Cochim, em todo o tipo de estradas: boas e más, percursos urbanos, auto-estradas, terra batida, montanha, deserto, floresta, praia. Passámos os primeiros 15 dias deste ano em marcha num país admirável, a ver de perto a paisagem, os sabores e o clima a mudar, devagar.

O riquexó não é um relógio suíço, tivemos que ir aprendendo alguma mecânica essencial à força de ter que avançar alguns centímetros no mapa todos os dias. A lógica do evento é que cada equipa decide a sua rota e o seu ritmo, entre o início e o fim não existe nenhum ponto intermédio onde se tenha que passar. É cada equipa por si, no melhor e no pior. A organização distribui informação sobre os trâmites para a partida e chegada, mas quase nada sobre tudo o que fica pelo meio. Ao entregar as fotocópias Matt adverte: "Está aí o meu número, não me telefonem, encontramo-nos em Cochim dentro de duas semanas!" Pode parecer que os participantes são abandonados à sua sorte, um rebanho de riquexós órfãos nas estradas da Índia, mas a descrição da corrida no site da organização explica com clareza: isto é uma aventura, portanto não há camiões de apoio, caso contrário deixava de o ser.

Basta um clique e já está

Como nós, outras equipas, formadas sobretudo por jovens de toda a Europa, e também norte-americanos, canadianos, indianos, australianos e argentinos, conduziram outros 60 riquexós em direcção ao Sul. Chama-se Corrida de Riquexós, mas não é uma corrida porque não há pódio nem prémios, chegar ao final com o veículo completo e os tripulantes ilesos é já proeza suficiente. Não vale a pena ter pressa. Embora de forma não convencional, a ideia é desfrutar o país, aproveitar o caminho sem correr para a meta.

Qualquer pessoa pode participar nesta ou noutras corridas organizadas pela associação inglesa The Adventurists. Há aventuras em África, na América do Sul e na Ásia, todas com um ponto em comum: a meticulosa escolha pela organização de veículos desapropriados para as enormes distâncias e condições do terreno. Para participar nas próximas aventuras, entre no site da organização -theadventurists.

com - no dia e à hora em que abrem as inscrições online. Muitos outros estarão a fazer o mesmo, e cinco minutos depois todas as vagas estão tomadas.

A simpatia do povo indiano torna esta aventura mais fácil: contar repetidamente com a ajuda de desconhecidos é uma vantagem que nem todos os países oferecem. Muito frequentemente, pedindo uma indicação a um motociclista, a resposta é: "Sigam-me" e dão-se ao trabalho de guiar os forasteiros. Em cinco idas a oficinas, ofereceram-nos o serviço por duas vezes. O senhor Narendrasinh, dono de um stand de tractores em Palampur, mandou chamar de propósito um mecânico de riquexós para nos ajudar.

Convida-nos a sentar, é servido chá, fala-nos sobre a História da região.

Estamos no Estado de Guzerate, mas as fronteiras aqui já foram muito batalhadas e negociadas, Palampur pertencia ao reino do Rajastão. Narendrasinh prontificou-se a ajudar-nos sem contrapartidas, amabilidade genuína. Aparenta cinquenta anos muito elegantes, o perfeito marajá; ele é descendente de monarcas do Rajastão. Depois de concluída a reparação não permitiu que pagássemos: "Vocês estão em minha casa, são meus convidados".

De tão em casa que estávamos, pedimos a Internet móvel ao seu filho para postarmos no nosso blogue de viagem, de maneira a podermos mostrar ali mesmo a actualização do blogue online.

Um agradecimento em inglês e fotografia de grupo: Narendrasinh, o seu filho Nirmalsinh, o mecânico, o ajudante e nós os três, todos em pose, do stand para o mundo, em estaviagemdavaumfilmeindiano.blogspot.com.

Arriscar a pele na estrada

Em momento algum os polícias de trânsito que nos mandaram parar ao longo da viagem entraram na sinuosa conversa de meias palavras que sugere o suborno. À entrada do Estado de Maharastra, quando já estávamos para seguir caminho depois de os documentos apresentados, um dos polícias mandou parar uma carrinha frigorífica de transporte de refrigerantes e pediu ao condutor uma Cola de meio litro fresca, que nos ofereceu. Ficámos impressionados com tanta simpatia por trás de uma farda policial.

Noutra operação stop, encostámos juntamente com dois riquexós de americanos que vinham atrás de nós. Documentos à mistura com chá que os polícias ofereceram e ficámos a fazer conversa, como se estivéssemos num salão de chá.

Scott tem na mão o jornal do dia com a notícia de quatro homens atacados por um leopardo "Mas a minha mulher deu-me esta notícia há dois dias!". A sua esposa está em Richmond, a 12.000 km do nosso chá da manhã, mas foi ela que lhe contou o que aconteceu a 17 km da cidade onde ele dormira no dia do ataque felino. Scott está desconcertado, ri-se, fala aos polícias da aldeia global e da fluidez da informação.

Embraiagem e punho das mudanças na mão esquerda, na mão direita acelerador e travão, accionado também pelo pé direito.

De resto, olhos bem abertos sem distracções com a conversa dos de trás. Nem sempre o condutor consegue apreender a totalidade do que se passa na via, por vezes a estrada é um enorme circo, cheio de artistas arrojados, lançando-se em manobras nunca dantes vistas, pelo menos por nós.

O riquexó pode andar em todas as vias, excepto na Express Highway entre Ahmedabad e Vodadora. Andámos sempre por onde andam os grandes.

Nos nós rodoviários e circulares urbanas há muito trânsito e conduz-se depressa, não é fácil; atravessar cidades e vilas repletas de veículos e peões também é exigente, tem que se combinar prudência com audácia. O co-piloto era fundamental: avistar antecipadamente buracos e lombas, avisar entradas desenfreadas na estrada, atenção às crianças que saem da escola, aos camiões, às vacas, às bicicletas, seguir o mapa de estradas e a informação nas placas, às vezes apenas escrita em hindi, tínhamos que memorizar a mancha gráfi ca do nome que indicava a nossa direcção.

Conduzir no estrangeiro nem sempre é fácil, mas pode ser mais difícil se for na mão esquerda e se o país for a Índia, recordista de acidentes na estrada, onde os turistas não conduzem e os expatriados também não. Para aumentar a parada só mesmo fazendo-o num triciclo motorizado, veículo de casta inferior, na base da cadeia alimentar rodoviária.

As estradas são realmente perigosas, ou melhor, há muitos automobilistas que dirigem de forma bastante perigosa; os restantes cumprem as regras do código, apimentadas pelas regras da prática, a saber: quanto mais depressa melhor; avançar com total confiança, mesmo que não seja seguro; desviar no último momento. Uma razia milimétrica é aceite por ambas as partes, a bem da fluidez do tráfego nacional. E buzinar, sempre! Apitar a toda a hora, não para dizer "chega p'ra lá", mas para informar "eu estou aqui."

Transformar café em água

Para a adrenalina da aventura não toldar o lado B do país, faz parte da inscrição no evento uma doação por equipa de 1200 euros à organização inglesa Frankwater para executar projectos que abrem fontes de água potável na Índia rural. Os participantes na corrida despertam para problemas de um país onde milhões de pessoas não acedem a bens de primeira necessidade. Os donativos contribuem para transformações a médio prazo na vida de milhares de pessoas, comunidades que se tornam mais saudáveis.

Sendo conhecida por apoiar projectos culturais e filantrópicos, pedimos o patrocínio da Delta Cafés. Associando-se à nossa equipa, a empresa fez a doação dos 1200 euros em nosso nome.

Também organizámos um jantar em Lisboa para angariar fundos, e assim conseguimos entregar 1650 euros à Frankwater.

A economia cresce na Índia e o consumo dispara, mas os bairros de lata alargam fronteiras e agudizamse problemas sérios de poluição.

O país dá cartas na indústria digital, moderniza-se, orgulha-se do seu programa espacial, mas não consegue deter o aumento da pobreza. A Índia harmonizou a convivência das tecnologias de ponta com as tradições milenares e a opulência asiática com a miséria crónica. O hi-tech e o rudimentar cruzam-se já sem se dar por isso.

No Rajastão, ultrapassa-nos um jipe veloz a fazer de ambulância, atrás vai um jovem que segura alto o balão de soro do lado de fora do jipe. No sentido contrário, camiões transportam peças industriais enormes que saem fora dos limites dos reboques, peças do desenvolvimento. Mukesh, um humilde taxista de Disa, diz-nos: "A esta hora não há cybercafés abertos, vejam aqui" carrega num botão e estende o seu telemóvel para consultarmos o e-mail, gentileza e tecnologia. Em Indapur, foi apenas com a luz do seu telemóvel que um mecânico limpou o carburador do nosso riquexó, já era noite e na oficina não havia luz.

Turismo lento e aleatório

Andar a 60 km hora só numa boa estrada e a descer, a velocidade de cruzeiro com pouco trânsito rondava os 45 km hora. Fazer em 15 dias o que se pode fazer em quatro dias de carro é andar devagar, e assim tão devagar estabelecese uma relação diferente com o território que se atravessa, de maior intimidade. O riquexó não tem portas nem janelas, o frio e o calor, os sons e os cheiros invadem a cabine. A fronteira entre os viajantes e a estrada é ténue, a Índia passa lá fora, mas também dentro do riquexó.

Concluímos que viajávamos ao ritmo da nova tendência, o turismo lento, seguindo alguns dos seus princípios: andar devagar, sem criar impacto, interacção permanente com as pessoas, adaptação a novos hábitos, curiosidade recíproca: nós curiosos e atentos ao país que atravessávamos, e por todo o lado éramos o alvo dos olhos curiosos.

A pergunta normal: de onde vêm, para onde vão? Poucos se espantavam com a nossa odisseia de 2500 km a generalidade das pessoas tem pouca mobilidade, por isso as grandes distâncias são abstractas. Trezentos e sessenta quilómetros a Sul de Bombaim, no parque de estacionamento de um hotel de praia, começámos a falar com um grupo de jovens, nós de partida, eles acabados de chegar de Bombaim. Quando dizemos "Jaisalmer-Cochim" uma das raparigas pede para repetirmos, não estava a acreditar. Eles acharam uma eternidade a manhã na estrada para chegar ali, onde vão passar o fim de semana; nós vamos a meio da nossa viagem, que é sete vezes mais longa que a deles.

Eles chegaram de Land Cruiser, nós conduzimos um riquexó, da famosa construtora indiana Bajaj -Distinctly Ahead.

As inesperadas avarias acrescentavam mais lentidão ao lento turismo e davam um toque de aleatório à viagem. Visitámos templos e mesquitas nas vilas onde fomos ao mecânico e ficámos a dormir em cidades aquém do planeado porque o riquexó não deixou cumprir a etapa. Indapur foi um desses casos: escureceu e ali ficámos porque evitávamos conduzir de noite. Um quarto com casa de banho, mas sem água, três camas, luz branca ou luz vermelha, é escolher. Em baixo, no bar, os empregados animaram com os hóspedes internacionais e, embora falassem muito pouco inglês, comunicámos durante horas por gestos, fotos, mapas, palavras soltas, falou-se de tudo. No dia seguinte ficámos em Ganapatipule, uma praia sugerida por eles.

Cansar por gosto não cansa

Dentro do riquexó, à mesa para comer, ou na cama antes de dormir, com ou sem o mapa à frente dos olhos, às vezes a consciência dos quilómetros que faltavam caía sobre nós como um fardo de peso calculável, mas do qual não se viam os limites. Falávamos entre nós de "pagar quilómetros", de manhã antes de sair ou após o almoço, com um sorriso nos lábios: "Vamos embora, temos muitos para pagar", pagar com gosto.

Esta era uma de muitas expressões que inventámos, um calão rico de humor para amenizar a tensão da estrada, linguagem própria de quem passa muito tempo junto. Um triangulo, cada um de nós a puxar para a frente, força anímica para contagiar as três rodas do riquexó; não é o veículo que nos leva, somos nós que o levamos a ele. Ao mergulharmos na água quente do mar, num fim da tarde de Janeiro, a frase é outra."Afinal de que é que se queixam? É só boa vida!" Em Ahmedabad já só faltam 500 km para Bombaim, passar Bombaim é uma festa, mas agora faltam 500 para Goa, e chegando a Goa faltam 800 para Cochim.

Jaisalmer-Cochim é como ir de Braga a Faro quase cinco vezes, se alguém quiser experimentar sem ir à Índia. Parece que a estrada nunca mais acaba, mas todos os dias acaba, num sítio diferente.

Nos restaurantes já não há kashmir pulau -arroz de frutos, mas passou a haver gelado kulfi; ouvimos outras línguas e por vezes o inglês não tem utilidade porque poucos o falam; a mesma religião apresenta preceitos e evidências diferentes do que vimos 500 km atrás. Comentamos: e se estivéssemos de jipe? Sensação de perda, desapareceria metade da graça. Os imprevistos, as dificuldades e as soluções é que marcaram a viagem. De acasos surgem boas surpresas. O turismo de massas é aborrecido porque aposta na máxima programação, afasta o acaso com uma fórmula estanque, onde todos vêm o mesmo, sem nuances.

Três rodas, duas metades

Durante vários dias da viagem, problemas mecânicos no nosso riquexó fizeram-nos perder muito tempo e alguma paciência.

Desesperávamos quando o veículo se engasgava até parar e isso aconteceu muitas vezes.

Após uma pausa para arrefecer, voltava a andar até se engasgar de novo, cinco, 50 ou 100 km depois. Não havia um padrão para estas quebras. As causas discutiam-se à beira da estrada com outras equipas era prática comum parar para oferecer ajuda quando se via outro riquexó na berma. Havia quem se queixasse do mesmo. Os entendidos atribuíam o problema às impurezas que se acumulavam no carburador. Em seis dias limpámos o carburador cinco vezes, a pensar que cada uma delas seria a última. Ao sétimo dia comprámos um filtro para o carburador, grande de mais, mas era o único disponível, para o aplicar havia que fazer adaptações: cortes e enxertos, coisas de especialistas. Resolvemos guardá-lo e logo se veria. Voltamos à estrada, são dez da manhã do sétimo dia de viagem, até ao décimo quinto e último dia da viagem o riquexó nunca mais teve qualquer problema. Tão inexplicável o problema como a resolução.

A partir daí passámos menos tempo na estrada e ganhámos qualidade de vida. Comprar o filtro foi um momento mágico que dividiu a viagem em duas metades.

Para trás ficaram as regiões mais frias e interiores, e com elas os casacos e os fatos de macaco que deixámos de usar; para trás ficou a angústia dos achaques do riquexó e os dias na estrada de sol a sol. Essa etapa terminou em Ganapatipule, onde há um templo de Ganesh junto a uma praia linda quase sem ninguém. Comemos camarões panados e bebemos gin com limonada, festejámos a chegada ao mar. Não sabíamos, mas festejávamos a passagem para a outra face da mesma moeda: o Verão, dias mais curtos na estrada, banhos de mar, e Cochim cada vez mais perto. Sem problemas mecânicos, e de manga curta, a vida ficou mais bela.

Histórias na bagagem

Entre os camelos do deserto do Rajastão e a ria de Coxim, ladeada por palmeiras que abrigam pássaros de canto exótico, tudo mudou, quilómetro a quilómetro.

Poderá ser "defeito profissional", mas pareceu-nos que, num país com tanta diversidade, a única entidade que se manteve fiel ao mesmo padrão de Norte a Sul foi o comportamento na estrada, a condução imprudente e as excepções que, todas juntas, fazem as regras. Há mil milhões de pessoas na Índia, o país não pode esperar. Se os camelos e os rebanhos não circulassem nas auto-estradas, se conduzir em contramão e furar por qualquer lado não fosse consentido, o crescimento da economia indiana cairia dois por cento. A Índia não pode parar, todos tentam chegar primeiro para nenhum ser o último.

Um dos riquexós chegou a Cochim uma semana antes da data prevista; razão desconhecida. A maior parte chegou no dia 15 de Janeiro. Na festa final, o reencontro, abraços e beijinhos, mazelas e memórias, duas semanas e 2500 km depois. As pessoas mudaram, há mais bigodes, gente bronzeada, turbantes, saris, sorrisos. Muitas histórias para ouvir, cada riquexó chegou com demasiadas aventuras para contar.

Os ingleses Rufus, Gareth e Doug foram entrevistados a meio da viagem, dois dias depois. Quando compraram o jornal e alguém lhes traduziu o artigo escrito em hindi, ficaram a saber que eram apresentados como uma banda de jazz em digressão pela Índia.

Gargalhada geral: a confusão gerouse porque a equipa se chamava Jaws, o nome do filme de Spielberg, Tubarão. A californiana Beth lembra dois momentos originados por avarias na estrada: uma noite passada numa tenda no deserto do Rajastão e uma tarde a jogar críquete integraram as equipas que jogavam ali à beira da estrada e trocaram o alcatrão pelo esplendor da relva. "As recordações vão continuar a emergir", sorri. Tal como na partida, os espanhóis continuam animados. Apesar de terem tido dois acidentes na estrada, chegaram a Cochim com o riquexó descapotável: um camião derrubou-os, arrancando-lhes a cobertura, e seguiu caminho.

Viemos todos juntos para a festa num ferry, de Cochim para a ilha Bolgatty, heróis regressados de uma campanha anónima, sem povo nas margens para nos saudar, mas acariciados pela brisa quente da noite. Caminhamos sobre as águas com a sensação do prazer que apenas exala quando se chega ao cume de uma grande montanha.

A pista de dança está cheia de marajás da estrada em delírio, os riquexós estão entregues e a cerveja e o rum são o combustível da noite.

O motor é o mesmo que puxou na viagem, a loucura saudável de jovens que ousam perder-se em caminhos desconhecidos para se encontrarem mais à frente, chegar mais longe. Esta noite é nossa, vale tudo, como a estrada.

Km a km

Jaisalmer
Km 0
Véspera da partida, um riquexó em reparação incendeia-se. Foi arranjado e partiu no dia seguinte, chegou a Cochim.

Estrada-Rajastão
Km 25
Ultrapassamos veículos de quatro patas. Parece fácil, mas acabámos de deixar Jaisalmer, ainda falta tudo.

Disa
Km 365
As estrelas da pop que se vêem no youtube decoram os locutórios, só um computador funciona, vamos por turnos. Não há troco, oferecem a sessão de Net.

Vila acidental
Km 402
Segunda oficina do dia. Um miúdo de oito anos arranjanos o riquexó: uma hora de trabalho, 20 rupias = 32 cêntimos. Mundo desigual.

Estrada-Guzerate
Km 477
Nós é que somos os exóticos da estrada.

Ahmedabad
Km 553
Circulamos na via rápida para evitar o trânsito da cidade com 5 milhões de habitantes. Dois homens numa mota abordamnos, a conversa em andamento estende-se por vários minutos.

Estrada-Guzerate
Km 612
Rajastão, Guzerate, Maharastra, Goa, Karnataka, Kerala. Cada Estado uma página, cada página vários dias, cada dia muitas horas, cada hora um centímetro.

Bharuch
Km 747
Podia ser em Helsínquia ou em Boston, mas é o Hotel Le President em Bharuch, o mais caro da viagem, mas tinha que se pedir para ligar a água quente 20 minutos antes do banho.

Estrada - Guzerate
Km 779
Contramão na auto-estrada, um clássico, desde a bicicleta ao camião.

Vila acidental
Km 815
Xeca, mecânico, patrão, Bruno. A segunda oficina em que fizeram questão de não cobrar: limpeza do carburador e afinação do ralenti. "Já está pago, façam boa viagem".

Fronteira entre o Estado de Guzerate e Maharastra
Km 871
Paramos para saber o que se passa com os belgas. Partiu-se o pistão do motor. Já comunicaram com outra equipa que trará um novo de Damão.

Estrada - Maharastra
Km 974
Uma operação stop que se preze só termina depois de uma foto de grupo.

Descida de montanha
Km 1001
Bom asfalto, descida prolongada, luz maravilhosa de fim de tarde; nesta meia hora mágica não trocávamos o nosso riquexó por nada deste mundo.

Manor
Km 1020
Várias equipas coincidiram no mesmo hotel de estrada.

Estrada - Maharastra
Km 1064
Sete da manhã. O nascer e o por do sol na estrada: visão habitual em várias etapas.

Thane
Km 1124
Cidade com mais de um milhão de habitantes, mas longe de entrar no top das 10 maiores. Hora e meia de travessia no trânsito.

Estrada - Maharastra
Km 1381
Na mão, o filtro para o carburador. Não o colocámos mas a partir daí o riquexó nunca mais teve problemas.
Amuleto de plástico.

Placa
Km 1437
"Sempre em frente"

Encontro improvável
Km 1555
Nove dias depois de sair de Jaisalmer, encontrar outros riquexós é uma festa: duas equipas de ingleses e indianos.

Goa
Km 1602
Confusão igual ao resto do país, mas com muitas igrejas e capelas na paisagem, um dos poucos indícios de 450 anos de Goa portuguesa.

Estrada - Karnataka
Km 1812
Pensávamos que andávamos devagar e que a estrada era mais dura para nós, mas uma sexagenária atravessa Karnataka de bicicleta. De lhe tirar o chapéu.

Turtle Bay
Km 1931
Seguindo as setas do Turtle Bay Resort por instinto chegámos aos nossos melhores aposentos da viagem, com hóspedes simpáticos com quem ficar à conversa.

Thalassery
Km 2184
Mais uma pensão com ambiente familiar. Foto de despedida dos hóspedes residentes: italianos, holandeses e estónios.

Estrada - Kerala
Km 2256
Uma coisa é certa: todos os dias há quilómetros para fazer, mas a estrada não é só para nós.

Guruvayur
Km 2337
Visita ao parque onde vivem 60 elefantes que entram em cortejos de festividades religiosas.

Cochim
Km 2503
O riquexó lilás antes de embarcar no ferry de Vypin para Cochim. Parece que chegámos, e a horas.

Parque de riquexós - Cochim
Km 2515
Houve vários acidentes pela estrada, mas nada de muito grave para os ocupantes. Todos chegaram.

Na Internet

http://estaviagemdavaumfilmeindiano.blogspot.com/

Os protagonistas

Bruno 30 anos, realizador de documentários e montador
Xeca 33 anos, engenheiro civil, especialista em eficiência energética
Nuno 35 anos, técnico de cinema, colaborador para a imprensa

Riquexó

Motor: 2 tempos, 1 cilindro, arrefecimento a ar, 145 cc; Potência: 7 cv às 5000 rpm Torque: 12,27 Nm às 3500 rpm Transmissão: 4 para a frente, 1 para trás; Travões: tambor de expansão hidráulica; capacidade combustível: 8 litros; Velocidade máxima: 55 Km/h Tara: 227 KG

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