Voltamos ao arco do céu. Depois do amarelo, vem o verde de que Andric tanto gosta. Tanto que chamou à sua crónica "Portugal, terra verde", cujas frases de que apanhamos boleia foram traduzidas por Jairo Dorado. Dragoljub diz que o verde é uma cor difícil de traduzir na imagem, porque "é fria. É preciso encontrar alguma coisa de outra cor que possa acentuar um detalhe", e aponta a foto aérea daqueles agricultores do Ribatejo que, relembra-nos Saramago, estão sempre "a lavrar, semear, adubar, mondar, colher, o mesmo princípio e o mesmo fim, o verdadeiro movimento contínuo, que não precisou de inventor porque foi o da necessidade".
Azul. Do mar que espera por aquele rio na imagem do fotógrafo-pássaro ou do mar interior do escritor: "Os rios, como os homens, só perto do fim vêm a saber para o que nasceram." Ao lado, há um outro rio, uma outra cor, um quadro quase duplicado nas pinceladas de Zamurovic: "Tenho sempre uma composição na cabeça que procuro na natureza, nos vários sítios do mundo. Este pequeno rio de curvas apertadas é quase igual a uma foto do rio Uvac, na Sérvia. A fotografia aérea é muitas vezes uma pintura abstracta. Depois descobre-se um detalhe, algo de real. Sou um pintor com máquina fotográfica." Escutando-o, José avisa que "há um quadro que ninguém poderá pintar, é uma sinfonia, uma ópera, é o inexprimível. (...) A oitava maravilha do mundo". E pasmamos todos diante dos vinhedos do Douro.
Com tantas cores, vocês esquecem-se das pedras, mais importantes do que as paisagens, avisa Pilar. E José concorda porque em Monsanto "procura pedras, as que nenhum escopro bateu, ou, tendo batido, nelas deixou intacta a brutalidade (...) Junta-se um homem, junta-se uma pedra, homem, pedra, pedra, homem, (...) até à formação do inteiro corpo português". É por passagens como esta que Pilar insiste que esta Viagem a Portugal não é um guia: "É um testamento e um projecto de vida. Oxalá pudéssemos voltar àquele Portugal. Modesto, com problemas, mas com consciência de ser e com uma honestidade que se derrama pelas páginas do livro."
Entre o azul e o violeta que fecha o arco-íris, está o anil, cor que muitas vezes o olho humano não distingue, mas que habitualmente não escapa à lente de Dragoljub Zamurovic. "Em cada livro ou grande projecto que faço tento sempre ter um arco." E onde foi o mais bonito? "Na Voivodina. Na planície via-se a volta completa, o que é raro. Tive imensa sorte em apanhar um homem com um burro e com ovelhas por baixo.
Infelizmente, não vimos nenhum arco-íris em Portugal." No caminho de Saramago houve um, "o mais perfeito e completo de todos", anotou o escritor. E quando o nosso companheiro de viagem "passa debaixo do arco-íris, vê que lhe caem sobre os ombros tintas de várias cores, mas não se importa, felizmente são tintas que não se apagam e ficam como tatuagens vivas".