O sol vai caindo entre os picos nevados, as sombras estendendo-se, os últimos esquiadores parecem fantasmas deslizantes. Está um frio de gelo à nossa volta. E, porém, contra todas as evidências, é de calções que estamos na rua, rodeados de neve por quase todos os lados. É quando o corpo entra todo no fumegante jacuzzi ao ar livre, numa invernosa alegria estival, que ficam para trás as dores das quedas nas infrutíferas tentativas de aperfeiçoar a arte de esquiar, os medos de deslizar de raquetes nos pés pelos precipícios, as vertigens de andar pelos ares. É nesta ilha-jacuzzi, no resort que nos serve de portal deluxe para descobrir as neves alpinas de Valmorel, que olhamos para os dias brancos que andamos a viver e percebemos melhor porque chamam La Belle a esta familiar estância francesa.
Deixamos para trás os porta-aviões da neve alpina - até pela vizinhança, das concorridas Courchevel a Val Thorens ou Val d' Isère - e ficamos nesta santa paz de Valmorel, uma pequena estância, é certo, mas que é porta para um Grand Domaine com mais de 150km de pistas, a partir dos 1400m e até aos 2832m.
Na Saboia, na região de Rhônes-Alpes, tem o seu epicentro numa aldeia em que tudo parece à medida certa, por umas ruelas de lojinhas e gastronomias e com o charme saboiano bem aplicado. Há uma razão para isso: foi construída de raiz, nos anos 1970, adoptando os padrões da tradição local e rejeitando o betão mais descaracterizado. E assim se tem mantido. Embora esteja a ser alvo de um crescimento súbito, muito graças ao Club Med que viemos estrear, aberto desde finais de 2011 e que eleva Valmorel para além da sua circunspecção. Ainda assim, com uma baixa ocupação urbana e seguindo, afiança o Turismo local, uma ética ecológica - o que lhe valeu, entretanto, um Green Globe, certificação internacional para o turismo sustentável.
Da janela da nossa suite - um verdadeiro apartamento, refira-se, repleto de mimos -, nada parece interferir com a harmonia de postal ilustrado. Estamos no coração da estância, um pouco acima da aldeia, numa espécie de palácio alpino, e aos nossos olhos abre-se o vale salpicado de neve, aldeias e chalets a iluminarem-se, os bosques a agasalharem-nos e o horizonte recortado pelas montanhas. Por estas alturas, a grande dúvida é se a harmonia se mantém quando, pela manhã, calçarmos as botas e sairmos para a lição de esqui...
À neve, esquiadores
Nada de perder tempo em bichas ou trânsitos. Este é um resort esquis-nos-pés e quase se pode dizer que a neve é um prolongamento dos lençóis. "Todos preparados para serem campeões?", incentiva-nos o instrutor Joel. "Oui, oui", replica um coro algo adormecido. Está um sol esplendoroso quando começamos: uns a escorregar, outros a parecer que patinam, um ou dois a praticar o sku. É mais um dia de alegria na escola de esqui do Club Med e, como as aulas estão incluídas, todos se aventuram. Em Roma, sê romano; na neve, tenta ser esquiador. Os mais profissionais já se exibem pelas dezenas de pistas divididas em vários graus de dificuldade. Os experimentadores sofrem. Alguns ficam-se pela graça da primeira lição, outros prosseguirão, dia após dia, a desenvolver a arte e ainda veremos alguns companheiros já em plenas façanhas deslizantes.
Mas, embora estejamos numa estância de esqui, a verdade é que, aqui no resort, há muita e boa gente que só vem pelo prazer de umas férias pacíficas cercadas pela neve ou acompanhar algum ente querido. "Troco já isto pela piscina!", confessa-nos Teresa, uma brasileira que, cansada de esquiar mais com as nádegas do que com os esquis, é um bom exemplo de quem se prepara para aproveitar tudo o que o resort prepara para os não-esquiadores. Enquanto terminamos a lição, felizes por conquistar uma inclinação de palmo e meio e nos preparamos para aproveitar o beberete servido em bar no meio da neve, damos uma primeira olhadela global a este resort que o Club Med considera de "nova geração", artilhado para ser uma pequena cidadela de onde nem é preciso sair. Até porque, da estada à alimentação ou ao bar aberto, de actividades a serviços e facilidades, está (quase) tudo incluído.
A celebrar um ano de existência, o empreendimento ergue-se em harmonia com as aldeias e vilarejos que acompanham os altos e baixos dos vales e montes, todo ele em materiais nobres, com a madeira, a pedra e os telhados cobertos a xisto. O "palácio" permite estadas em vários graus de luxo, ao gosto do freguês, já que inclui espaços de quatro e cinco tridentes (que é como o Med classifica os seus resorts, em vez de estrelas).
Dito isto, cabe-nos em sorte a experiência do Le Lodge, o mais luxuoso e exclusivo dos espaços, onde são disponibilizadas 25 suites de topo: a nossa inclui quarto de casal e quarto de crianças e devidas casas-de-banho, quarto de vestir, sala de estar e varanda privada com vistas oníricas. O Lodge garante ainda acesso exclusivo a um luxuoso salão privado com muitos mimos e o olhar directo ao Monte Branco. Se o tamanho família ou luxo não for suficiente, não há problema: a dois passos do edifício principal do resort, nasceram duas dezenas de chalets de luxo à Club Med, com apartamentos que podem ser alugados ao dia (havia ainda alguns também para venda...) - são verdadeiras mansões alpinas, com direito a mordomo ou chef e spa ao domicílio.
Pelo Club, o tempo passa-se entre o imenso espaço de restauração, com serviço self-service repartido pelas mais diversas escolhas gastronómicas, um festim contínuo de cozinhas da Itália ou França, de gastronomias alpinas ou asiáticas. Ainda experimentaremos o mais privado La Laiterie, com serviço à la carte e direito a fonduesde primeira. Para ginasticar, é dar umas braçadas na piscina interior, experimentar o ringue de patinagem, passar pelo centro de fitness ou relaxar no centro de bem-estar (há massagens e tratamentos chancela Carita). Isto enquanto a juventude, dos quatro meses aos 17 anos, se pode repartir por clubes e actividades temáticas (além de aulas de esqui ou snowboard) conforme as idades. O mesmo é dizer: os pais podem passar as férias com os filhos ao mesmo tempo que fazem férias dos filhos...
Nos intervalos disto tudo, entre idas e vindas da neve, é aproveitar as espreguiçadeiras e os raios de sol, que aqui até ainda sabem melhor que na praia. À noite, a animação é garantida: não sendo Valmorel um paraíso do après-ski ou da animação nocturna, o Club Med parece esforçar-se ainda mais do que lhe é habitual para animar as hostes pela noite fora - entre shows à Broadway, incentivos à dança colectiva e festas com DJ, nada falta. O bar aberto também ajuda, mas calma. Ou a manhã seguinte na neve será algo mais dura...
O mar da neve
A beleza de um dia radiante de sol visto de uma esplanada no topo de uma montanha coberta de neve é tão epidérmica que as palavras se tornam desnecessárias. Particularmente depois de termos chegado aqui em admiração vertical da paisagem no teleférico do Altispace. À nossa frente, um mar, mas a uns 1600m de altitude e de neve virgem. E, na esplanada do Les Voiles du Nant, parece que estamos na praia, tal a força do sol: não em vão, à nossa volta é só gente em tronco nu ou biquíni.
É aproveitar o descanso, que já temos outra experiência na agenda: trocamos os esquis pelas raquetas para o que será, julgamos, uma relaxante caminhada na neve. E, nesta área, já somos profissionais, certo? Errado. Os nossos guias trocam-nos as voltas e, de simples raquetas nos pés com (felizmente) um forte grampo metálico à frente, o passeio não é de todo na horizontal. Havemos de andar e andar, acompanhar o serpentear de um rio mais ou menos gelado, admirar bosques brancos e, muito particularmente, descer a pique inclinações que nunca nos passariam pela cabeça. A certo ponto, conseguimos mesmo, apenas inclinando completamente as raquetas e aferrando os grampos frontais na neve, ficar parados no ar, inclinados encosta abaixo. É apanhar-lhe o jeito e deixar a adrenalina fazer o resto. Lá em baixo, o resort. Mais abaixo, os vilarejos. Mas, agora que queremos espiar Le Bourg e arredores, porta de entrada em Valmorel, optamos pelo conforto do autocarro gratuito que interliga os pontos principais da zona...
Parece mentira mas a aldeia, embora aparente uma antiguidade secular, foi inaugurada em 1977. O seu pequeno centro é totalmente pedestre, ficando os carros fora da vista. O que a torna ainda mais ideal para passear e, claro, mais segura para famílias. Por aqui não há os luxos alpinos de outras estâncias nem se espere um après-ski de níveljet-set. Mas há o luxo da quietude. E também não falta nada. Envolta num charme pitoresco, acolhe umas dezenas de atracções, de lojas a restaurantes, bares ou cinema. Essencial é passar nas lojas gourmet do Bourg: entre a Bergerie de Valmo, a cooperativa regional Laitière ou La Ferme aux Gourmets, é um mundo de produtos locais, entre vinhos, compotas, enchidos e, claro, montanhas de queijos (o Beaufort des Montagnes, a especialidade, é um primor) para provar e comprar.
Ao longo da temporada há festas e eventos temáticos pela aldeia, além de programas especiais para as crianças. E, além de tudo, fica aqui o Turismo local, o sítio certo para eleger opções complementares para a experiência nevada. Por Valmorel e arredores há os mais variados programas de passeios pela neve (incluindo nocturnos), em raquetas ou de trenó, voltas em Segway ou voos em parapente ou visitas à região. Pode até aprender-se a construir um igloo.
Mas, entre gelo e neve, entre aldeia afável e resort de luxo, por mais voltas que demos, parecemos estar sempre a voltar à mesma atracção: para conjugarmos as temperaturas, nada melhor que um regresso, de cabeça fria e coração quente, ao taljacuzzi efervescente. Nunca os Alpes pareceram tão calorosos...
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Informações
A estância
A temporada de neve abre oficialmente a 21 de Dezembro e dura até 21 de Abril. A estância tem 22 pistas verdes, 39 azuis, 17 vermelhas, 8 pretas. Osforfaits isolados têm o preço base de 39,60€ para adulto e desde 25,40€ para criança por dia - há descontos de família, conforme o número de dias, período ou áreas.
Domaine Skiable de Valmorel
Bourg Morel - 73260 Valmorel
Tel.: +33 4 79 09 80 26
www.valmorel.com | www.valmopass.com
Como ir
Valmorel fica a 125km de Genebra (Suíça), 180km de Lyon, 90km de Chambéry, 649km de Paris - há ligações ferroviárias (TGV até Moûtiers-Salins/Brides les Bains), de autocarro e é possível reservar transfers das gares ou aeroportos (veja o site do Turismo oficial, www.valmorel.com, para as diversas alternativas). De Portugal, os voos mais facilitados, pela proximidade, serão para Genebra (a TAP (www.flytap.com) voa para Genebra de Lisboa ou Porto desde cerca de 180€, ida e volta).
Onde ficar
Club Med Valmorel
Hameau du Bois de la Croix
73260 Valmorel
Infos/reservas (Portugal): www.clubmed.pt, Tel.: 213309696
Em regime tudo-incluído, os preços mínimos, por pessoa, com tudo incluído (à excepção de programas e actividades facultativas) varia entre cerca de 1480€ (preço promocional) e 2480€, conforme as épocas (sem transporte). Se o desejar, o package pode incluir o voo e transfers.
(artigo actualizado com reportagem a 13.12.2012)
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A Fugas viajou a convite do Club Med e da TAP