Finalmente, o vintage de 1834, que, como o enólogo da Ferreira notou, exibe um aroma, um corpo e uma intensidade na boca tão impressivas que poderia facilmente ser considerado o vinho mais jovem da sessão. Numa prova realizada em 1949, há o registo de um congénere da Kopke, produzido na Quinta de Roriz, que mereceu elogios por se tratar de um vinho "belo e brilhante". A mesma designação pode ser dada ao vintage da Ferreira. Podemos imaginar a sensação que proporcionou ao explorador sueco Auguste Andrée na viagem que tentou fazer de balão sobre o pólo Norte, em 1897 e que Bruce Guimaraens, enólogo da Fonseca durante meio século, conta na obra Porto Vintage, coordenada por Gaspar Martins Pereira e João Nicolau de Almeida. O balão caiu no Árctico e um relato de 27 de Setembro dá conta de um jantar numa placa de gelo flutuante, no qual se abriu um Ferreira de 1834 oferecido pelo rei da Suécia. Os restos mortais de Auguste e dos seus dois acompanhantes, bem como as suas memórias, foram resgatados 33 anos mais tarde.
Com evoluções distintas, cada um destes três vintage está ainda numa condição admirável. Não lhes falta volume de boca, nem padecem daquela fragilidade que por vezes marca a prova de vintage velhos, nos quais a falta de corpo apenas se consegue superar pela delicadeza dos aromas. Torna-se por isso obrigatório recordar a polémica que durante anos se desenrolou entre o potencial dos vinhos pré e pós filoxéricos. Muitos apreciadores consideravam que a adopção de porta-enxertos americanos, indispensáveis para conter a devastação do insecto, tinha acabado com os grandes Porto. Warner Allen, um enófilo e grande divulgador do mundo dos vinhos na primeira metade do século XX, escreveu em 1931 que "não tem havido vinhos nenhuns desde 1884, por melhor que seja a sua qualidade, que se conservem e melhorem tanto tempo como os grandes vinhos do passado". Valente-Perfeito, escrevendo na mesma altura, lamentava que, "antigamente, antes da invasão da filoxera, que devastou os vinhedos do Douro, a Novidade (designação que os portugueses davam aos vintage) tinha mais carácter e a sua maturação era mais laboriosa e lenta".
É hoje difícil apurar a verdade completa destas opiniões. Mas depois de se provarem os extraordinários Vintage da primeira fase da vida empresarial de Dona Antónia (que faleceria em Março de 1896) só se pode acreditar que essas três vindimas históricas fazem parte do melhor património do vinho do Porto e da História da região duriense.
Três Gigantes Centenários
Ferreira Vintage 1834
Um exemplo perfeito dos efeitos da garrafa. Aromas muito complexos, intensos e distintivos, mesmo dentro da ampla gama de sensações abertas pelos grandes vintage com décadas de envelhecimento. Corpo ainda denso, com um vinagrinho em perfeito equilíbrio com a doçura remanescente, permite uma prova fulgurante e com um longo final de boca. É, entre os três, o mais pujante e o que revela mais personalidade. Parece eterno.
Ferreira Vintage 1847
Aroma mais redondo, menos vinculativo que o seu par mais antigo. Excelente complexidade, com notas de iodo, de casca de laranja cristalizada e de flores secas. Grande delicadeza na boca. Vinagrinho menos acentuado. Dividiu as opiniões sobre se era, ou não, o melhor da prova. É, por ser mais delicado e menos afirmativo, o que impõe uma prova mais difícil. Não há é dúvidas sobre a sua excelência, embora seja legítimo supor que tenderá a durar menos do que os vintage de 34 e de 63.