Hoje, vamos a uma grande superfície e continuamos a encontrar vinhos do Novo Mundo a menos de três euros. Mas, e essa é a novidade, também já encontramos vinhos do chamado Velho Mundo, de Espanha e de Portugal, a menos de dois euros.
O caso dos vinhos espanhóis não deixa de ser intrigante. Não há muito tempo, chegou a estar à venda num hipermercado conhecido um vinho da denominação de origem espanhola Ribera del Duero a 1,50 euros.
Conseguir um preço destes num vinho de mesa (pode ser adquirido em qualquer lado) é possível, mas já custa a perceber como é possível colocar no mercado um vinho D.O.C de uma região tão afamada como aquela a 1,50 euros, tendo em conta que é preciso considerar os custos de exportação.
Mesmo sem esses custos, também não deixa de ser surpreendente o preço a que são vendidos certos vinhos portugueses nas feiras das grandes cadeias de distribuição. Recentemente, numa delas, o tinto Palestra 2008, do Douro, foi comercializado a 2,99 euros, mas quem comprasse seis garrafas só pagava quatro.
Ou seja, cada garrafa ficava a 1,99 euros. Acontece que este não é um vinho qualquer. É o mesmo vinho que, no início deste ano, a revista americana Wine Spectator atribuiu 89 pontos em 100 possíveis, apresentando-o como Best value (melhor valor). É vendido pela Dão Sul.
Na mesma feira, havia um vinho ainda mais barato, o tinto Vinha do Rosário 2009, da Casa Ermelinda de Freitas, das Terras do Sado.
Custava 1,99 euros e quem levasse seis garrafas pagava apenas quatro euros, o que dava um custo por garrafa de 1,32 euros. Vai-se ler a descrição do vinho e fica-se estupefacto: "Vinho de cor rubi, concentrado, rico em taninos de boa qualidade, muito complexo, com aromas a lembrar frutos vermelhos maduros, muito bem conjugado com a madeira, que lhe dá um toque de baunilha. Final de boca persistente e prolongado". Leu bem: o vinho estagiou em madeira (a crer na informação do folheto).
Ou os produtores andam a trocar líquido por liquidez, ou as grandes superfícies fazem dumping com alguns vinhos. O mais provável é acontecerem as duas coisas, embora não necessariamente de forma simultânea. Um dos produtores com vinhos naquela feira classificava a política de preços das grandes superfícies de "tourada", confirmando a existência de dumping. Quem agradece é o consumidor. Mas este é um problema que, a prazo, vai acabar por prejudicar o sector em Portugal (já está), produtores e comerciantes incluídos, porque a concorrência acabará por levar os preços a níveis insustentáveis, colocando em risco a viabilidade de muitas empresas. E é mais difícil subir um preço do que baixá-lo.
Barato sim, mas nem tanto.