Fugas - vinhos

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Quando os vinhos sofrem por falta de convicção

Porém, e ditosamente, nem tudo está perdido. Os vinhos de convicção, por natureza imprevisíveis e provocatórios, continuam a existir, capazes de desassossegar a alma e de alimentar discussões apaixonadas. São vinhos que contam histórias do terroir e das pessoas, vinhos de personalidade forte, espelho fel de quem os criou e do local onde nasceram. Em Portugal o espírito ainda transborda, com vinhos de carácter vincado espalhados por todas as regiões.

Vinhos como o Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2007, por ora ainda fechado a sete chaves, quase brutal na força dos taninos, austero como deveria sempre ser nesta fase da mocidade. Mas a fruta, essa, já marca presença segura, amparada por uma estrutura gigantesca e por uma acidez perfeita que lhe asseguram um futuro radioso. A casta Baga num registo imperial! Ou o alentejano Montefino Reserva 2005, do Monte da Penha, saudavelmente rústico, com uma delicadeza e autenticidade capazes de conquistar os corações mais empedernidos. Apesar do estilo desconcertante, é fácil gostar deste Montefino, perfeito para a mesa, incrivelmente fresco, genuinamente cativante. Não é um vinho para ganhar concursos, mas sim um tinto para a mesa, para a tertúlia, para o saudável convívio à roda da mesa.

O Quinta das Maias Jaen 2007, de uma das castas mais desvalorizadas do Dão, oferece aromas frescos de groselha, morango e cereja.

Porém, como é frequente nos vinhos da Quinta das Maias, é a boca que lhe empresta o verdadeiro carácter, uma boca fina e precisa, objectiva e pragmática, temperada por uma acidez generosa que o refresca até à medula, avivado pela fruta delicada, empolgado por uma rusticidade elegante que lhe acrescenta verdadeiro carácter.

Muito mais intenso e desmesurado mostra-se o Quinta de Macedos 2005, desenhado num estilo feroz e desmedido, quase quixotesco na valentia e vigor dos taninos explosivos do final de boca. Muito embora os conceitos de proporção e equilíbrio não façam parte do vocabulário próprio deste Quinta de Macedos, o resultado final é francamente delicioso, na pureza e autenticidade de um vinho que desafia a lógica.

Vinhos de convicções fortes, sem receio de serem diferentes, vinhos de desassossego e inquietação, de alvoroço e excitação. Vinhos que abonam alegria.

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