Porém, na vida real, nem sempre se consegue vindimar a tempo, na altura perfeita para cada casta.
Os imprevistos e as dificuldades podem surgir de todos os lados, desde a dificuldade em encontrar a roga para os dias em causa, em encontrar trabalhadores para vindimar naquelas datas, à dificuldade, para quem vindima à máquina, de encontrar uma máquina vindimadora disponível para aquele instante.
Mas também, nos anos mais peculiares, a operação pode tornar-se impossível quando todas as variedades parecem querer madurar em simultâneo, redundando no entupimento da adega, na incapacidade estrutural de acomodar tantas uvas no mesmo curto espaço de tempo.
Outras putativas dificuldades poderão advir de difi culdades de tesouraria, drama que, de forma inquietante, afecta tantos e tantos produtores nacionais, sujeitando muitos a uma gestão muito apertada dos activos.
Contrariedades financeiras que resultam de dramas transitórios de liquidez de tesouraria ou, nos casos mais trágicos, de dívidas acumuladas que impedem a compra de matérias indispensáveis e corriqueiras para o vinho, produtos como garrafas, rolhas... ou análises químicas periódicas. Para não falar dos encargos realmente pesados como a compra de barricas e demais facturas cíclicas do vinho.
Tantos e tantos engarrafamentos são sucessivamente adiados, comprometendo a saúde e grandeza dos vinhos, por simples falta de capacidade financeira para suster o custo de engarrafamento.
Quantos vinhos de excelência se têm perdido por falta de capital para comprar vidro e rolhas? Finalmente, a desorganização, a endémica incapacidade lusitana para o planeamento, para programar datas futuras, para traçar um plano de actividades... que se sabem ser cíclicas, fatais e indispensáveis em determinados momentos do ano. Por evidente desmazelo e desordem o aprovisionamento de rolhas não é garantido, os rótulos não são pensados, as datas de engarrafamento não são acauteladas, obrigando a atrasos sucessivos, a urgências e precipitações, a custos suplementares por imposição de horas extra, condicionando a feição dos vinhos por simples inércia.
Que mesmo assim germinem todos os anos em Portugal tantos vinhos superlativos, é extraordinário. Mas quantos mais poderiam nascer, e melhores, se as condicionantes da epidémica falta de liquidez e, sobretudo, da desorganização tão lusitana, se pudessem eliminar?