Fugas - vinhos

Ana Ramalho

Relação qualidade/preço, o santo graal do vinho

Por Rui Falcão

Nem todos os dias temos empenho, e, sobretudo, disponibilidade financeira para poder beber os melhores vinhos de Portugal. Por isso tanto importa uma relação de algumas das melhores relações qualidade/preço do mercado.

Discutimos as probidades e desmerecimentos de cada vindima, os méritos e deméritos de cada vinho, elogiando e glorificando os vinhos mais virtuosos, endeusando, com a atenção que lhes dedicamos, muitos dos vinhos mais significativos de Portugal.

São as consequências naturais dos elogios fartos, das classificações elevadas e da consistência de colheitas. Felizmente que assim é porque o mérito merece ser reconhecido, a originalidade premiada e a qualidade enaltecida.

Tal como os piores vinhos devem ser penalizados e denunciados, sem a evasiva das falinhas mansas ou das deferências compassivas, sem receio pela denúncia, também os melhores vinhos merecem ser aplaudidos e louvados, separando a água entre a vulgaridade e a excelência... de forma clara e inteligível.

Sim, os vinhos de topo, de carácter vincado e qualidade irrepreensível, são importantes e decisivos, indispensáveis para a sustentação de um produtor, de uma marca, de uma região, para a afirmação internacional da imagem de Portugal. São os vinhos de topo que nos fazem sonhar, que exortamos e dissecamos até ao último pormenor, que se encarregam de preencher o nosso imaginário. São os mais cobiçados e suspirados, aqueles que todos gostariam de, pelo menos uma vez na vida, poder apreciar nas suas múltiplas cambiantes e nuances.

Infelizmente, são também, por regra, vinhos caros e de acesso difícil, edições limitadas a que raramente podemos aspirar. São vinhos de volúpia e meditação, vinhos para momentos raros e exclusivos, vinhos para partilhar com amigos especiais que compartilhem do mesmo entusiasmo e empenho pelo vinho.

São vinhos de sonho! Porém, para além da insipidez que seria ter de privar diariamente com obras-primas vínicas, com a grandeza e elevação dos melhores vinhos, transformando-os em meros objectos impessoais, a aventura revelar-se-ia inacessível e financeiramente insustentável.

Por isso são tão reclamados os vinhos que oferecem boas relações qualidade/preço, o santo graal de todos os consumidores, a equação mais pertinente de quem gosta de vinho.

Uma equação em que Portugal se evidencia, oferecendo um grupo alargado de vinhos que cumprem e excedem os requisitos, vendidos a um preço mais do que razoável.

As boas compras sobrevêm por todos os estilos, mesmo nos mais improváveis, naqueles onde o preço comedido raramente anda a par com a elevação. Exemplo perfeito desta virtude encontra-se no espumante Quinta dos Abibes Arinto & Baga Extra Bruto 2008, um espumante da Bairrada onde a complexidade e a seriedade são brindados a preços quase de saldo. Um espumante elegante e delicado, sóbrio e de enorme frescura, de equilíbrio perspicaz entre exuberância e moderação.

A sorte e o saber sorriram a este Abibes de nariz francamente feliz nas notas de fermento de padeiro, biscoito, levedura de cerveja e pêssego, capaz de acompanhar uma refeição da entrada à saída.

Igualmente desusado, por raramente associarmos os vinhos generosos aos predicados das boas relações qualidade/preço, apregoa-se o Barbeito Malvasia 2000 Single Cask 44A, um Vinho da Madeira de elegância extraordinária, segredando notas voluptuosas, manifestando uma tremenda complexidade e frescura, dando sinais contraditórios de impetuosidade e placidez. Um vinho onde se sente a intemporalidade e magia do Madeira a um preço mais do que acessível! Nos vinhos brancos sobressaem múltiplos exemplos da combinação entre qualidade e preço reduzido.

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