Tudo isto são, potencialmente, boas novas para Portugal, país que sempre alinhou no concílio da originalidade e dos vinhos de personalidade forte. Boas novas para um Portugal que sempre apostou nas castas nacionais, diferentes das restantes que enxameiam o mundo, sem ponta de comparação com os cinco suspeitos internacionais do costume, o Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Boas novas para um Portugal que soube manter intactas as tradições que se perderam em tantas outras paragens do mundo, sustentando costumes tão exóticos e singulares como a pisa a pé em lagar ou a fermentação em talhas de barro.
Boas novas para um Portugal que conseguiu resguardar as vinhas velhas, muitas vezes plantadas com castas misturadas, capazes de materializar vinhos radicalmente diferentes de tudo o que se faz no universo. Boas novas para um Portugal que continua a desafi ar a humanidade com os vinhos de lote, onde concorrem múltiplas variedades em simultâneo, ao revés do sentimento que o pensamento moderno apregoa por todo o mundo enológico.
Boas novas que nos individualizam na refrega pela originalidade e autenticidade... mas que o desleixo e o desconhecimento de tantos pretende agora hipotecar, aprovando e valorizando vinhos que em nada nos distinguem dos restantes vinhos do mundo.
Num ambiente martirizado pela uniformidade, pela monotonia da qualidade, com milhares de vinhos comparáveis, só a originalidade nos pode conduzir ao êxito e à boa ventura da exportação. Abandonar ou desprezar aquilo que nos diferencia do resto do mundo em busca de uma enganadora sensação de modernidade, é um erro grave de que dificilmente poderemos recuperar. Repudiar e divorciar-se das castas nacionais, das vinhas misturadas, da arte do lote, do lagar, da pisa a pé e das talhas de barro, das particularidades que são as nossas principais singularidades enquanto país produtor, é semelhante a cometer um suicídio vínico... de onde não será possível regressar.
E no entanto, são tantos os que se esquecem do passado, desagradecendo a experiência e engenho que o tempo nos legou, atropelando e desprezando aqueles que são os nossos símbolos de identificação mais fortes...