Fugas - vinhos

Paulo Pimenta

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São espumantes... e são nacionais!

No Douro, nas terras altas do Douro, nasce o Vértice, obra pessoal de Celso Pereira, o grande obreiro de um dos melhores e mais improváveis espumantes nacionais. Pena é que os vinhos não possam ficar a envelhecer mais uns anos em garrafa face aos custos brutais de ter o vinho parado durante quase uma década, porque as experiências com espumantes velhos que tive oportunidade de apreciar na casa são absolutamente arrebatadoras, tendo-me oferecido alguns dos melhores vinhos espumantes nacionais que já tive ocasião de provar.

Muito bom está o Vértice Millésime Bruto 2005, um espumante que começa por se apresentar algo misterioso na sua cor moderadamente salmonada. Frutado e muito ligeiramente floral, especiado e rico, exibe uma suavidade de boca quase comovente, uma alegria contagiante e uma frescura completamente transbordante. Seco, sem excessos, tenso na acidez, delicado na bolha, é um belíssimo espumante que mostra bem a arte da casa.

Num estilo radicalmente diferente, mais rijo e tradicional, com um estilo muito mais próximo aos vinhos velhos, mais clássico mas com um encanto quase intemporal, o Quinta das Bágeiras Grande Reserva Bruto Natural 2003, um espumante puro e duro, sem a suavização do açúcar, mostra cor amarela ouro com bolha fina e persistente. O nariz revela notas encantadoras de vinho velho, logo seguidas por indícios educados de uma discreta oxidação, massa levedada, iodo, alperce em calda, restolho e amêndoas torradas. A boca acompanha este arco-íris aromático imprimindo uma frescura notável que o prolonga suavemente para um final longo e vivo.

Para terminar, algo muito interessante e simultaneamente exótico, um espumante do Tejo, da Quinta da Lagoalva, o surpreendente Quinta da Lagoalva de Cima Bruto não datado. Um espumante de uma região pouco habituada a este estilo de vinho, adornado por uma tonalidade amarela limão pálida onde o nariz surge inesperadamente elegante, ataviado por notas de fermento de pão, bolo lêvedo, iodo, tabaco... e um delicado registo floral de pétalas de rosa. Apesar de menos aprimorada, a boca mantém o suave embalo do nariz, elevando-se a um patamar imprevisto. Por que não experimentar?

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