Fugas - vinhos

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Pela rolha morre o vintage

Nada que não possa ser contornado com a substituição preventiva de rolhas nas garrafas mais antigas, um serviço que os principais e mais aclamados produtores de Porto Vintage deveriam prestar aos seus clientes, mas que, infelizmente, na maioria dos casos raramente prestam ou, quando o dispensam, concedem com relutância. Uma posição de algum distanciamento face ao cliente que merece reparo e que deveria ser corrigida, tanto no mercado nacional como nos principais mercados internacionais.

Numa conjuntura de crise para o sector do Vinho do Porto, num momento em que os produtores precisam de notícias positivas que destaquem de forma objectiva o Vinho do Porto, uma operação de re-rolhamento de Porto Vintage especialmente dedicada aos mercados ingleses e norte-americanos seria uma excelente operação de relações públicas para a causa do Vinho do Porto.

Basta atentar no que a Penfolds, produtor australiano detentor do rótulo Grange, um dos vinhos de maior nomeada internacional, cumpre periodicamente em algumas das principais capitais europeias e norte-americanas, fomentando operações de re-rolhamento, proporcionando um dos melhores serviços pós-venda do mundo. Para tal, os clientes da Penfolds são convidados a apresentar qualquer garrafa de vinho da marca que já tenham ultrapassado a fasquia dos 15 anos de idade, alertados através de publicidade objectiva, ajudada pelos media locais que se habituaram a destacar a operação.

Cada garrafa é analisada individualmente pelo enólogo da Penfolds, depois de aberta e de ter sido provada uma pequena porção de cada vinho, sob cuidados rigorosos para preservar a integridade do vinho. Se o vinho for considerado conforme aos padrões de cada colheita, os poucos centilitros removidos para prova são repostos com um vinho mais recente, em volume insuficiente para adulterar a compostura do vinho. A garrafa volta a ser rolhada e encapsulada na hora, sendo colado e acrescentado um sel

o especial assinado pelo enólogo que contém um código único que atesta a genuinidade daquela garrafa, garantindo que foi verificada e atestada naquele local e data. Este serviço é certificado e rastreado em cooperação com a prestigiada casa leiloeira Christie's, que autentica a identidade de cada garrafa. Curiosamente, estas garrafas costumam atingir cotações mais elevadas nos leilões internacionais, precisamente pela garantia que oferecem de ser um vinho genuíno, garantido e acompanhado pela Penfolds.

Ora, se um produtor australiano consegue assegurar este serviço há tantos anos e com tanto sucesso, por que é que os produtores de Vinho do Porto que propõem vinhos como o Porto Vintage, vendidos dois anos após a colheita com a promessa de um ciclo de vida de mais de 50 anos, não oferecem este serviço aos seus clientes?

Não seria este um dos receituários perfeitos para obter uma das maiores quimeras do marketing contemporâneo, a aproximação entre produtores e clientes finais? Não seria esta uma fórmula apropriada para oferecer um bom serviço pós-venda, garantindo a genuinidade de vinhos em leilão, gerando notícias positivas para o sector, realçando o carácter e a longevidade excepcional dos Porto Vintage? Por que razão o mundo do Vinho do Porto continua tão arredado deste objectivo, reservado e distante de clientes e consumidores?

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