Como se chegou a estes algarismos e como é possível manter esta conjuntura de preços tão peculiar? Porque os vinhos são vendidos muito caros, mas sobretudo porque a maioria das grandes casas, responsáveis por um pouco mais de dois terços do volume total da produção e comercialização de Champanhe, raramente possuem vinhas, encontrando-se dependentes da oferta de milhares de pequenos viticultores que vendem as suas uvas directamente ou, mais tradicionalmente, através de correctores da região, partidistas locais que se encarregam de fazer a ponte entre a produção e as grandes casas, cobrando uma comissão de um por cento sob as verbas acordadas. Os pequenos produtores com vinha própria, esses, representam pouco mais de um quarto da produção da região.
A tendência dos últimos anos, porém, aponta para um crescimento e florescimento destes pequenos produtores, constrangendo a uma escassez de uvas disponíveis, o que por sua vez força as grandes casas a aumentar os preços oferecidos por cada quilo de uva, muitas vezes sem sequer olhar para a qualidade intrínseca das uvas que compram. Talvez por isso se mantenha uma guerra surda entre a produção e as grandes casas, incapazes de denunciar ou recusar as uvas de qualquer viticultor sob a ameaça latente de passar a não poder contar com as suas uvas, imprescindíveis para quem todos os anos vinifica milhões e milhões de litros.
Para os pequenos proprietários, numa região onde a propriedade média ronda os dois hectares, a vida está facilitada. Só têm de entregar as uvas num centro de prensagem bem perto de si, algures entre os quase 1900 centros de prensagem que se encontram espalhados por toda a região, propriedade de adegas cooperativas, grandes casas, comunitários ou privados, onde as uvas são esmagadas e depois encaminhadas para os numerosos centros de vinificação das adegas cooperativas e grandes produtores. Adegas cooperativas que curiosamente, e apesar de processarem quase metade das uvas de Champagne, representam uma quase insignificância na produção total da região, limitando-se na quase totalidade a prestar um serviço de vinificação para as grandes casas... chegando muitas dessas adegas cooperativas a prescindir de manter qualquer marca comercial própria.
Uma estranha e fascinante realidade que reflecte uma enorme pujança económica e uma inteligência extrema na comunicação que dificilmente será reproduzível fora da região. Mas que pode, e deve, ser analisada com atenção, tentando colher e adoptar alguns dos modelos de sucesso da região.