Fugas - vinhos

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O fenómeno José Neiva Correia

Trata-se de um magnífico complexo de edifícios em pedra de ressonâncias industriais e evocativo da arquitectura típica do château francês. Distribuídos por nove pavilhões, funcionam armazéns, adegas, laboratório, central de engarrafamento, tanoaria e escritórios. A adega principal possui uma capacidade de armazenamento de 2,5 milhões de litros de vinho e há uma outra por utilizar que é considerada a maior adega de tonéis de madeira do país.

Uma antiga destilaria foi, entretanto, reconvertida em tanoaria, que mostra bem o engenho de Neiva Correia. Para poupar em barricas novas, Neiva Correia compra barricas usadas à Seguin Moreau, uma das mais prestigiadas tanoarias francesas, e restaura-as de modo a poderem ter mais um ou dois anos de uso. Cada barrica usada custa em média 50 euros. Depois de restaurada e chofada (queimada), pode chegar aos 100 euros. No final do seu uso, as barricas são divididas em duas e vendidas por 60 euros cada para servirem como floreiras. Neiva Correia consegue, assim, dar a muitos dos seus vinhos um estágio em madeira de grande qualidade sem grandes custos.

É isso que explica que tenha no mercado vinhos bons, ou até muito bons, e de volume considerável. Por exemplo, o tal tinto Escada, do Douro, custa cerca de 14 euros e a DFJ consegue vender no mercado externo perto de 200 mil garrafas. Poucos produtores durienses se podem gabar de conseguir o mesmo.Na lista dos 100 melhores vinhos de 2011, a revista Wine Enthusiast colocou o Escada 2007 na 29.ª posição. E também distinguiu o Grand'Arte Alvarinho 2010 como a 9.ª melhor compra do ano.

Qual é o segredo de Neiva Correia? Conhecimento, sentido do negócio, criatividade e arrojo, visível na decisão de plantar na quinta da família inúmeras castas estrangeiras, como Pinot Noir, Syrah, Merlot e Caladoc (cruzamento entre Grenache e Malbec). Não o faz por capricho, mas sim com o propósito de conseguir produções elevadas e competitivas que assegurem a melhor qualidade ao mais baixo preço. Faz o que os australianos já há muito fizeram com sucesso.

Os mais puristas não lhe acham muita piada e há outros que o criticam de só fazer vinhos iguais, frescos e doces. Neiva Correia nem precisa de responder. O inglês Tim Atkin, master of wine e um dos mais reputados críticos mundiais, já o fez por ele, no prefácio que escreveu para o livro Grand'Arte, publicado no décimo aniversário da DFJ: José Neiva Correia "tem tanta vocação para fazer vinhos de topo como para produzir vinhos baratos, criando marcas destinadas a um mercado de massas e usando castas tradicionais e internacionais com assinalável mestria. A revolução portuguesa nos vinhos não teria acontecido sem a sua intervenção". 

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