Os chavões da moda vão variando ao longo do tempo, alternando segundo os humores da época, adoptando de forma mais ou menos aleatória as novas tendências e os novos desígnios que se anunciam, modificando-se suavemente ao sabor das marés do momento. O que hoje é aceite como correcto e seguro poderá amanhã ser entendido sob um olhar muito mais crítico e severo, segundo as conveniências e interpretações de cada ocasião. Os ciclos vão-se revezando de forma descontínua, apontando periodicamente para novas sonoridades, ora apontando baterias para os excessos de álcool dos vinhos contemporâneos, ora discutindo sobre os perigos do uso excessivo de uma determinada casta, ora alertando para os abusos na madeira,
Se alguns, poucos, de forma consciente ou involuntária vão pronunciando as modas, a maioria limita-se a repetir as ladainhas prescritas por terceiros, repisando os mesmos argumentos de forma mais ou menos indistinta, sem verdadeiramente meditar sobre o que afirmam com verbo solto, repetindo os mesmos raciocínios que, por força da insistência, rapidamente se transformam em verdade absoluta. Qualquer justificação, que resulte numa simplificação, desde que insistentemente repetida, atraente e de fácil memorização, rapidamente passa a convicção profunda.
Uma evidência da sociedade que se manifesta de forma ainda mais extremada sempre que nos prendemos em temas onde a paixão por vezes se sobrepõe à racionalidade, sempre que entramos no campo do lazer e do prazer, nas pequenas zonas de conforto em que a sociedade impõe que nos sintamos especialistas, apreciadores entendedores e com capacidade de análise. Quem nunca sentiu necessidade de se socorrer de um arsenal de frases feitas enquanto esgrimia argumentos sobre futebol, cinema, livros... ou vinho?
De tão repisadas algumas frases soltas acabam por ser aceites como autênticas, como evidências e certezas absolutas que não merecem sequer ser disputadas. No vinho estas conjecturas abundam, mesmo que muitas delas dificilmente consigam encontrar qualquer sustentação com a realidade. Entre os muitos chavões que circulam no meio, manifesto especialmente entre os enófilos mais apaixonados, corre o mito de que os vinhos do Douro não conseguem envelhecer com bondade, que os vinhos do Douro da nova geração morreriam cedo, incapazes de evoluir de forma positiva em garrafa.
Chegados aqui convém recordar que a larguíssima maioria dos Vinhos do Douro ainda dispõe, por ora, de um historial muito curto, com registos históricos de produção que raramente ultrapassam a década e meia, com as devidas excepções de clássicos como o Barca Velha, Reserva Ferreirinha, Quinta do Côtto e, embora em menor grau, do Duas Quintas Reserva, Redoma e Quinta da Gaivosa, para além de um par de rótulos entretanto moribundos ou mesmo desaparecidos. Basta reparar que vinhos como os Duas Quintas Reserva, Redoma ou Quinta da Gaivosa, os clássicos intermédios, viveram as suas primeiras edições no início da década de noventa, nas não muito distantes vindimas de 1991 e 1992.