Fugas - vinhos

Paulo Pimenta

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O Douro está bem, obrigado!

Por outro lado, muitos dos novos clássicos do Douro, vinhos que em poucas vindimas conseguiram ascender de forma notável a esse cobiçado estatuto, rótulos como Pintas, Poeira, Quinta do Vale Meão, Quinta do Crasto, Batuta e demais pares do reino, iniciaram os seus momentos de produção e de glória já no virar do milénio, algures entre 1999 e 2001, consagrando pouco mais de uma dezena de vinhos feitos. Com tão poucas colheitas no mercado, com tão poucos anos de vida nas prateleiras, com uma sucessão impressionante de tão bons anos no Douro, com a excelência indubitável das colheitas de 2001, 2004, 2005, 2007 e 2008, mal seria se a maioria destes ícones do Douro se mostrassem já cansados, agonizantes ou decadentes.

Nem mesmo a juventude extrema dos projectos, nem mesmo qualquer justificação que se poderia colar à compreensiva aprendizagem dos primeiros anos de vida, poderiam justificar tal descalabro. E a verdade é que não são necessárias quaisquer satisfações ou justificações porque a saúde da maioria dos vinhos do Douro da nova geração, tal como dos seus raros antepassados, mantém-se firme, recomendável, louvável, e com muitos anos de alegrias pela frente. Tenho tido a ventura de poder realizar muitas provas verticais de vinhos do Douro, sobretudo dos ícones do Douro, dos rótulos mais recentes aos mais clássicos, e as notas de felicidade têm sido uma constante ao longo destas provas.

As surpresas, a existirem, têm-se revelado especialmente pela positiva, pela qualidade e carácter inesperado dos anos considerados menores, pela consistência, solidez e frescura das penosas colheitas de 1999 e 2002, pela robustez da difícil vindima de 2006, pela tensão e viço absolutamente imprevistos dos vinhos da colheita 2003, um ano quente que vaticinava uma colheita mais indolente e pesada, sem a frescura e brilho que a maioria dos vinhos afinal demonstra. E o que é mais simpático é que a qualidade e consistência das várias colheitas espalha-se de forma uniforme por todos os produtores, do Baixo Corgo ao Douro Superior, dos enólogos mais jovens aos mais experientes, dos projectos mais recentes aos mais clássicos, contrariando as vozes críticas que se erguem para depreciar uma região, repetindo uma frase feita sem correspondência com a realidade.

Sim, os vinhos do Douro têm envelhecido bem e recomendam-se!

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