Fugas - vinhos

Adriano Miranda

Comentário: O elogio do New York Times ao vinho do Douro

Por Pedro Garcias

O jornal New York Times publicou no passado dia 30 de Janeiro um artigo do crítico Eric Asimov, que tece grandes elogios aos vinhos do Douro e às belezas da região. Pedro Garcias comenta as conclusões.

O pretexto foi uma prova de 20 vinhos tintos durienses à venda nos Estados Unidos com preços que variam entre os sete e os 87 dólares. Não é a primeira vez que Eric Asimov faz este exercício e repete os elogios, mas a importância do artigo não justifica o júbilo manifestado por alguns produtores e por alguma imprensa nacional.

Vendo bem as coisas, o artigo é uma espécie de pau de dois bicos. Ajuda à notoriedade da região e dos seus vinhos num mercado importante como é os Estados Unidos, mas fá-lo elogiando, sobretudo, os vinhos mais baratos. Ora, o Douro não deve ter como vocação produzir vinhos baratos e bons, mas sim vinhos bons, exclusivos e caros. O Douro, até pela história e prestígio do vinho do Porto, não pode contentar-se em competir com regiões do género do Alentejo (sem desprimor para esta, claro). Deve aspirar a ser vista como uma espécie de Borgonha, Bordéus ou Champanhe.

Com os custos de produção do Douro, vender vinhos baratos só permite obter liquidez, não ganhar dinheiro. E uma imagem de prestígio, sofisticação e exclusividade não se constrói vendendo vinhos baratos. Por isso, quando vemos o painel do New York Times classificar em 5.º lugar o vinho Lavradores de Feitoria 2009, que custa em Portugal três euros e nos Estados Unidos pode custar 12 dólares, e remeter o Pintas (81 dólares) para 10.º lugar, só devemos ficar preocupados. E a nossa perplexidade aumenta quando constatamos que vinhos como o Vale Meão 2006 e o Quinta do Vallado Touriga Nacional 2009 nem sequer foram classificados, tamanho foi o desagrado dos provadores. Podemos não gostar do estilo destes dois vinhos, mas, olhando estritamente à qualidade de ambos, não é possível preteri-los em favor de um vinho como o Palestra (Quinta de Sá de Baixo, da Dão Sul), que custa nos Estados Unidos nove dólares e foi o terceiro vinho mais pontuado da prova.

Eric Asimov é um amante genuíno do Douro, mas entra em alguma contradição quando sublinha que "o fruto apetitoso, os sabores de especiarias, a boa acidez e os taninos robustos" que encontrou nos vinhos do Douro deixaram de ser apenas uma reminiscência do vinho do Porto, marcando na actualidade uma diferença em relação "aos Malbec e outros vinhos internacionais de pelúcia e frutado". Porque ao preferir o Palestra ao Vale Meão, o Lavradores de Feitoria Colheita ao Pintas, está a mostrar preferência por vinhos bem feitinhos, frutados e macios, de estilo Novo Mundo.

O que não se pode criticar é a sua preferência por vinhos com pouca ou nenhuma madeira e excessivamente concentrados. É uma questão de gosto, cada vez mais partilhado pela maioria dos consumidores. É verdade que ainda permanece no Douro uma grande obsessão por vinhos com longos estágios em barrica nova e demasiados extraídos. Mas não é menos verdade que os grandes vinhos tintos do mundo passam todos pela madeira. O que falta aos vinhos do Douro, e aos de outras regionais nacionais, é tempo de garrafa, para poderem afinar e ficar mais civilizados e complexos. Só que esse tempo custa muito dinheiro e em Portugal não há dinheiro para nada.

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