Fugas - vinhos

  • Adriano Miranda
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Nasceu um grande vinho do Douro


Douro casa adentro

O projecto leva o nome Quinta do Pessegueiro e é, juntamente com o Château Saint Maur, na Provença, um dos Domaines Roger Zannier (além de vinhas, o empresário possui um hotel no Camboja e um chalet na estância de esqui de Megève, em França). O empresário optou pelo nome da primeira quinta que comprou no Douro, apesar de a adega se situar mais próxima da Quinta da Teixeira. Em redor da adega, vai ser plantado um hectare de vinha com castas brancas. A Quinta da Teixeira fica um pouco mais abaixo, já perto do rio, mesmo em frente à fantástica Quinta da Romaneira.

A encosta, muito íngreme, é um mosaico de matos mediterrânicos e vinhas em socalcos. Os acessos são em terra batida e, embora difíceis, proporcionam de todas as perspectivas panorâmicas deslumbrantes do vale do Douro. Mas, surpresa das surpresas, nenhuma se compara com os cenários que nos esperam na casa da quinta e futura unidade de agro-turismo. A obra, de estilo moderno com ressonâncias clássicas, de arquitectura senhorial, está quase terminada. Pela sua localização e pelo desenho dos quartos, salas e varandas, o Douro parece que entra casa adentro, gerando planos prodigiosos.

Em redor, estendem-se as vinhas, algumas ao alto, outras em socalcos. Mais em cima, dissimulados por entre a vegetação, escondem-se muretes seculares de xisto que já suportaram pequenos terraços de vinha ou de olival. Alguns estão a ser arroteados de novo, num trabalho quase arqueológico.

Nesta fase, a área de vinha da Quinta do Pessegueiro (somando todas as propriedades) é de 20 hectares e poderá subir para 30 hectares, não mais. É uma área relativamente pequena face aos muitos milhões de euros (entre os oito e os 10 milhões) que Roger Zannier já investiu no projecto. Mas o empresário costuma dizer que está a construir algo para os netos, não olhando, por isso, para a sua rentabilidade imediata.

Por agora, o que o move é fazer vinhos que se batam com os melhores do mundo. A gama da Quinta do Pessegueiro incluirá um colheita, um reserva e um reserva especial. A adega só começou a funcionar em 2010, mas desde 2006 que João Nicolau de Almeida começou a vinificar, numa adega alugada, algumas uvas das quintas da empresa. Os dois primeiros vinhos, dois tintos de 2008 e 2009, foram esta semana apresentados publicamente, em estreia mundial.

Provámo-los na adega, juntamente com as bases da colheita de 2010, e é notória a existência de um estilo que se afasta do perfil tradicional dos vinhos do Douro. João Nicolau de Almeida quer recuperar os conceitos do avô, Fernando Nicolau de Almeida, o homem que criou o Barca Velha, apostando em vinhos com mais acidez e menos álcool. Dos dois vinhos agora apresentados, o Quinta do Pessegueiro Reserva 2008 possui 14% de álcool e passou 21 meses em barricas novas. O Quinta do Pessegueiro Reserva Especial 2009 tem 13% de álcool e fermentou e estagiou em tonéis novos e usados.

O primeiro, lote de vinhas velhas, Touriga Franca e Touriga Nacional, é um vinho terroso e vegetal, com boa fruta na boca, excelente estrutura e madeira ainda bem evidente. Muito bom. O segundo, lote ainda mais alargado, juntando uvas das duas quintas, algumas de vinhas velhas, e também uma parte generosa da cada vez mais mal-amada Tinta Roriz (importante no Barca Velha, por exemplo), é simplesmente um vinho extraordinário.

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