Fugas - vinhos

Jean Daniel Sudres

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A nobreza dos vinhos de Tokaji

Quanto mais puttonyos forem adicionados ao mosto, maior será naturalmente a doçura do vinho final, com maturações mínimas de cinco anos, embora a prática indique que o estágio mínimo costume estender-se entre os cinco e os oito anos em função da doçura do vinho final. Existe ainda um designativo especial e relativamente raro de 7 puttonyos, de vinhos extremamente doces, que corresponde comercialmente ao designativo Tokaji Aszú Esszencia... e que não deve ser confundido com o muito mais raro e muito mais caro Tokaji Esszencia!

Os Tokaji Esszencia, raríssimos, caríssimos e exóticos até ao limite do compreensível, são produzidos exclusivamente com uvas Aszú, inquinadas pela podridão nobre, oferecendo concentrações de açúcar absolutamente memoráveis. Teoricamente, os Tokaji Esszencia nem sequer deveriam ser considerados vinho, já que a concentração de açúcar é de tal forma elevada que os Esszencia raramente conseguem fermentar mais que três a cinco graus de álcool, proporcionando vinhos incrivelmente melosos, de graduação alcoólica irrisória, vinhos que poderão ficar a fermentar lentamente durante mais de dez anos seguidos, sem nunca chegar a dissipar a doçura pungente que os acode, sempre bem temperados por uma acidez congénita que lhes devolve um brilho especial na boca.

São vinhos raros e excêntricos, voluptuosos e opulentos, densos e quase decadentes, que de tão ricos e poderosos raramente se consegue beber mais que um pequeno gole de cada vez. Vinhos absolutamente indestrutíveis, um pouco na senda dos grandes vinhos da Madeira, embora nos Tokaji a conservação natural provenha do açúcar, em lugar da acidez viperina dos vinhos da Madeira. Vinhos tão doces e opíparos que enquanto os Tokaji Aszú Esszencia podem alternar entre as 180 e os 230 gramas de açúcar residual, teores de açúcar absolutamente fora de série, o Tokaji Esszencia ascendem aos irreais 800 gramas de açúcar residual... muito embora existam registos de vinhos com concentrações superiores a 900 gramas de açúcar residual!

Curiosamente, os vinhos de Tokaji não existiriam se à técnica única de lotear vinhos base com mostos de uvas atacadas pela podridão nobre não se juntasse ainda um segundo fungo, endémico nas velhas e longas adegas escavadas na rocha da região, fungo que opera de forma semelhante à levedura existente na região de Jerez, usada na elaboração dos Finos e Manzanilla da região, também ela considerada de estirpe única e indispensável para o afinamento do estilo incomparável dos vinhos de Jerez. Tão diferentes e tão iguais.

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