Nasceu assim aquele que viria rapidamente a transformar-se no maior fenómeno de sucesso da história do mundo do vinho, o [Yellow Tail], escrito assim mesmo, com os parênteses rectos a compor o nome. Para tal contribuiu o vinho, desenhado com o traço firme de quem não deixou nada ao acaso e que não confia nos imponderáveis da natureza, mas também o nome e a imagem fortemente colorida do rótulo, o primeiro dos muitos que se seguiram explorando a imagem simultaneamente exótica e querida de um animal.
O resto da estória... é história! Se os objectivos eram moderadamente conservadores para 2001, o primeiro ano de comercialização, admitindo a venda de 12.000 caixas de 12 garrafas, ou seja, um volume total de 144.000 garrafas, a realidade encarregou-se de subverter as regras proporcionando a venda de 112.000 caixas, ou, se preferirem, 1.344.000 garrafas, multiplicando as expectativas iniciais por dez. Quando se tem uma fórmula, uma receita mágica, multiplicar a produção por dez é algo que não custa muito na adega. Quatro anos passados, em 2005, as vendas já superavam as cinco milhões de caixas de 12 garrafas, equivalentes a 60 milhões de garrafas/ano, atingindo hoje o impressionante número de 12 milhões de caixas, correspondentes a 144 milhões de garrafas/ano, um número quase irreal e de difícil compreensão para a realidade nacional.
A pequena vinha dos Casella, que continua a não se estender para além dos 220 hectares, apresenta uma dimensão irrisória que não permite alimentar mais que um ou dois por cento do volume total produzido. Com o pragmatismo típico que caracteriza os produtores australianos, as uvas são compradas um pouco por todo o território, por vezes a milhares de quilómetros de distância, transportadas em camiões frigoríficos para abastecer a adega de Griffith, que continua a ser a adega única da família.
Simplicidade, consistência imaculada, imagem, preço, fruta farta e doçura parecem continuar a ser os segredos da [Yellow Tail]. Segundo os responsáveis pela marca, sofisticação não deve ser sinónimo de complexidade e complicação. Quem bebe vinho tem sido torturado com uma exposição a milhares de vinhos de dezenas de países, centenas de regiões e castas, enquanto na realidade a maioria deseja simplesmente perceber sabores simples e directos, sabores fáceis e reconhecíveis, sem ter a maçada e a dificuldade de querer memorizar demasiada informação irrelevante.
Uma forma diferente de encarar o vinho, marcando um contraste severo com a Europa, afastando conceitos como tradição e genuinidade em favor de satisfação e atenção ao cliente na procura de um produto standard e homogéneo, submetendo o produto ao interesse do consumidor. Poderemos facilmente falar em corrupção dos princípios de pureza e quase sacralização do vinho, forma como o encaramos na Europa, mas que é uma visão alternativa e financeiramente apetecível... isso é!