Fugas - vinhos

Paulo Ricca

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Ser ou não ser «fashion victim» no mundo da viticultura

Face ao custo e à longa amortização necessárias para validar a escolha de uma vinha, seria de esperar uma decisão ajustada aos princípios da racionalidade, deixando de lado as paixonetas e o experimentalismo, procurando rentabilizar um dos factores de produção mais caros e de maior dificuldade de reconversão. A realidade, infelizmente, encarrega-se de destronar a teoria, revelando decisões meramente casuísticas e sem qualquer tipo de sustentação.

Só mesmo assim poderíamos compreender o súbito desnorte de tantos produtores com variedades exóticas de que pouco ou nada sabemos, sem histórico em Portugal ou na região, plantadas por simples feeling ou por um seguidismo pouco reflectido, correndo atrás de nomes que soam bem e parecem bem num contra-rótulo. Quantos dos hectares actual e recentemente plantados com as castas Viognier, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, ou mesmo Alvarinho, irão ser vítimas de uma reenxertia forçada num futuro próximo? Quantas destas castas da moda plantadas até à exaustão no centro e sul de Portugal, sem que alguma vez se tenha investigado sobre a sua mais-valia para Portugal ou para a região, poderão resistir aos ventos da moda e aos novos nomes que em breve irão surgir no horizonte? Qual será o custo económico de reconversão que produtores e viticultores terão de pagar para a sua substituição, eventualmente trocadas por uma nova vaga de castas da moda?

Como explicar a súbita explosão de vinhas plantadas com a casta Alvarinho no Alentejo, Tejo e Lisboa sem que por ora exista qualquer sinal de um vinho marcante e inspirador com esta variedade nestas regiões? Porquê insistir no Sauvignon Blanc em Portugal, casta aromática mas cândida, variedade que reclama por climas frios, quando existem tantas castas brancas aromáticas nacionais de eleição que poderão cumprir melhor o papel, juízos que poderão ser facilmente alargados às castas Viognier e Petit Verdot? É que ser fashion victim no mundo da viticultura é, para além de insensato, receita certa para o desastre financeiro.

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