E por isso também, pela quase consanguinidade das vinhas, pela proximidade absoluta entre variedades diferentes que facilitou os cruzamentos acidentais que se materializaram em novas castas, Portugal pode hoje orgulhar-se de ser o segundo país do mundo com maior número de variedades autóctones que não existem em nenhum outro lugar do planeta, assegurando um estatuto de país rico na biodiversidade da videira.
As vinhas misturadas são, embora poucos o percebam em Portugal, um dos nossos maiores e melhores trunfos neste mundo global do vinho, um trunfo na promoção e na produção. Infelizmente, quando falamos em vinhas misturadas temos invariavelmente de acrescentar a palavra "velhas", falando sempre em vinhas velhas misturadas. Vinhas velhas porque ninguém hoje tem a firmeza, paciência, vontade ou visão para perceber a herança e património que estamos a desbaratar, desistindo de plantar vinhas novas misturadas.
O Douro, a região mais rica neste património, é um caso paradigmático. Aproveita as vinhas velhas misturadas elevando-as aos píncaros, sustentando muitos dos melhores vinhos do Douro nessas vinhas, mas esquecendo-se que estas mesmas vinhas velhas não poderão viver para sempre... nada fazendo para renovar este capital, desleixando o futuro, as novas gerações e um dos melhores trunfos do Douro e de Portugal. O que é estranho, muito estranho, sobretudo quando falamos num sistema de plantação que nasceu precisamente para minimizar os riscos associados e quando existem tantas vinhas velhas exemplares onde seria fácil buscar inspiração e material vegetativo para compor vinhas jovens que renovassem o passado glorioso.
De que é que o Douro está à espera? Estará o futuro da região condicionado a vinhos cujo lote pouco discorda do duo Touriga Nacional e Touriga Franca com um tempero de Tinta Roriz ou Sousão?