Fugas - vinhos

  • Fernando Veludo/nFactos
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Depois do Douro levado ao limite, chegou a hora do Porto


Trunfos para jogar

Não há muito por onde desmentir esta estratégia. Os Gaivosa são vinhos sóbrios, elegantes, com a frescura obtida nas cotas mais altas da quinta, que chega aos 450 metros de altitude, complexos, com pouca madeira. Têm um perfil de certo classicismo, revelam aquela feição quente dos grandes tintos durienses e envelhecem bem. Domingos Alves de Sousa situa, genericamente, o seu pico por volta dos "12 anos de idade". A primeira colheita do Gaivosa resultou em "cinco ou seis mil garrafas", o máximo obtido foi em 1997, com 27 mil.

Sendo a porta-bandeira da casa, a Gaivosa é tratada com especial deferência. "Mexe-nos muito. E, entre as nossas propriedades, é a que dá melhores vinhos", diz Domingos Alves de Sousa. Mas, para crescer, a empresa Alves de Sousa precisava de terra. Paulatinamente novas quintas vão sendo compradas: a do Vale da Raposa, já referida, a das Caldas, a das Aveleiras, a da Estação e, há quatro anos, a Quinta da Oliveirinha, já no Cima Corgo, bem no coração da galáxia das grandes quintas do vinho do Porto. Ao todo são 110 hectares de vinhas, nos quais Domingos Alves de Sousa e a família (além de Tiago, também Andreia e João participam nas actividades da empresa) conseguem produzir 300 mil garrafas por ano.

Para as novas vinhas conquistadas os Alves de Sousa não precisaram de inventar uma nova receita. O caso de sucesso da Gaivosa estava aí para o provar. Em cada caso a preocupação foi a mesma de sempre: respeitar o terroir e a sua expressão, reduzindo ao máximo as intervenções na parte da vinificação. Surgem assim marcas associadas a cada quinta. Depois a especialização acentua-se e nascem vinhos provenientes de parcelas específicas: da Gaivosa surgiram nesta tendência o belíssimo Vinha do Lordelo e o soberbo tinto proveniente da vinha do Abandonado. Há também reservas Alves de Sousa nas gamas branco e tinto. (Na semana passada, a prova de um branco de 2004 revelou-se uma belíssima surpresa pela sua frescura, nervo e complexidade.)

Não admira, por isso, que Tiago, 33 anos, mais dotado técnica e cientificamente, se tenha limitado a seguir a corrente quando chegou à Gaivosa. "É verdade que cada geração tem o dever de contribuir com algo de novo. Mas o que vinha de trás enchia-me de orgulho. Até perguntava: como chegámos a este resultado?" Não é por isso que lhe falta que fazer. "Ainda há que aprofundar as nuancezinhas da Gaivosa", por exemplo. Ou fazer 20 a 30 viagens por ano ao estrangeiro, para onde a Alves de Sousa vende 73% da sua produção, com destaque para o Canadá e o Brasil.

Ainda assim, os Alves de Sousa sabem que não será pelo lado dos DOC Douro que surgirão missões arrebatadoras no futuro próximo. Por isso, o que se segue é uma aposta no vinho do Porto. A casa já produz vintage desde 2003, mas mais como uma rubrica que compõe o portefólio da Gaivosa do que como uma aposta estratégica - apesar das críticas positivas. Mas neste universo há ainda muito por onde caminhar. Este ano lançaram um Porto branco vinificado com maceração prolongada e estágio de sete anos que obteve aplauso na exigente imprensa britânica. Os vintage vão poder ser incrementados com a produção da Quinta da Oliveirinha, um terroir Porto por definição. E na calha estão também outras categorias especiais.

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