Mas esqueça o folclore e a estranheza dos preparados e concentre-se nos princípios. E o princípio subjacente assenta em doses mínimas de produtos naturais segundo as fases da lua e do sol. Tal como na homeopatia, qualquer sintoma de doença nas vinhas é encarado como um sinal de um mal maior, de um distúrbio no conjunto de forças da propriedade que, mais do que corrigir, é necessário compreender e equilibrar.
É indiscutível que os princípios da agricultura biodinâmica colidem com os conceitos científicos dominantes. E é também mais do que evidente que os principais actores fogem das explicações racionais sobre os porquês da agricultura biodinâmica. Nos poucos casos estudados, porém, os resultados parecem ser favoráveis à prática biodinâmica. No papel, no puro plano teórico, os princípios podem parecer absurdos, excêntricos e quase delirantes. Mas basta visitar uma vinha em regime biodinâmico para se distinguir a diversidade de vida no solo e perceber a vitalidade e qualidade da fruta das vinhas.
Para um agricultor biodinâmico, a presença na vinha, a atenção e dedicação diárias, a comunhão com a terra, passam a ser regra absoluta. O conhecimento de cada canto da vinha, de cada parcela, aprofunda-se. E estas são muito provavelmente as vantagens fundamentais da agricultura biodinâmica, a atenção e a necessidade de uma dedicação total, o conhecimento exaustivo da vinha que advém da sua vivência diária, condições que ajudam a explicar o sucesso da agricultura biodinâmica... desde que na adega os preceitos sejam menos radicais e mais conformes com as regras da enologia.
Os vinhos biodinâmicos serão por si só melhores e mais interessantes que os vinhos de agricultura tradicional? Nada aponta nesse sentido, tal como nada indica o contrário. Mas provavelmente os vinhos espelharão a expressão da vinha, do local e do solo de forma autêntica, tal como a paixão do produtor e o seu respeito pela natureza.
