Viajava-se pouco, as comunicações eram difíceis e demoradas e o resto do mundo estava sempre distante e parecia ser sempre estranho e exótico. Uma distância que foi liminarmente encurtada durante a segunda metade do século passado e que em plena época da globalização nos parece hoje estranha e longínqua, numa era onde tudo está à distância de um clique ou a poucas horas de viagem.
Foi por essa altura, sobretudo durante a última década do século passado, que algumas das grandes empresas nacionais, alguns dos grandes produtores de vinhos portugueses começaram a desenvolver e a implementar estratégias de expansão para além das suas fronteiras informais, redesenhando o mapa vinícola interno. Produtores como as Caves Aliança, a Bacalhôa, a Borges ou a José Maria da Fonseca começaram a produzir vinho em algumas das regiões mais apelativas e sonoras de Portugal, por vezes resgatando quintas espalhadas por diversas denominações portuguesas, por vezes comprando propriedades ainda sem vinha, por vezes simplesmente adquirindo uma marca já estabelecida e com património histórico e vínico consagrado.
Foi também por essa altura que surgiram alguns planos empresariais extremamente ambiciosos nascidos de pequenos e jovens produtores que germinaram com ideias de grandeza e expansão inscritos no seu ADN. Projectos como a Dão Sul ou a Companhia das Quintas, que nasceram inspirados pela vontade expressa de se alargar a outras regiões nacionais, produzindo vinho pelas principais denominações de Portugal, transformando a diversidade e complementaridade da oferta numa das suas apostas estratégicas fundamentais.
E finalmente o caso do maior produtor nacional, a Sogrape, que se aventurou de forma ponderada, mas arrojada, numa estratégia expansionista nacional e internacional que a levou não só a adquirir quintas na região do Vinho Verde, Dão e Alentejo, para além das quintas do Douro e Bairrada que já possuía, como também a comprar produtores já consagrados em países como Chile, Argentina, Espanha ou Nova Zelândia, elevando a Sogrape para a condição de um dos maiores e mais relevantes produtores internacionais, perdendo de vez a sua dependência inicial do ícone Mateus rosé.
Curiosamente, mas também naturalmente, o Alentejo foi durante muitos anos um dos pólos essenciais na estratégia da aposta de expansão da maioria dos produtores nacionais, um íman de atracção magnética irresistível perante o qual ninguém poderia ficar indiferente. Dispor de um vinho alentejano no catálogo transformou-se num requisito essencial para a maioria dos produtores portugueses com ambição que se propunham diversificar e consolidar o portefólio. Ir para o Alentejo passou a ser simultaneamente uma necessidade e uma obsessão, obrigando a investimentos avultados que invariavelmente implicam começar do zero na compra de uma herdade onde era necessário plantar uma vinha, erigir uma adega e criar uma marca.
Ainda mais curiosamente, hoje os papéis e as tendências começaram a inverter-se, assistindo-se à deslocalização da soma de vontades para a região do Douro, onde muitos começam agora a apostar na compra de vinhas, preferencialmente velhas ou muito velhas. São numerosos os exemplos de produtores nacionais, sejam eles de dimensão mais modesta ou de grandeza mais assumida, incluindo alguns produtores alentejanos no rol, que decidiram investir na compra de uma vinha duriense, esteja ela numa quinta histórica e já com vinha, ou no Douro Superior, onde a vinha raramente está presente... o que implica ter de acrescentar ao investimento inicial o custo financeiro e temporal de plantar uma vinha de raiz.