Fugas - vinhos

Adriano Miranda

Os verdadeiros embaixadores de Portugal

Por Rui Falcão

Já aqui o escrevi no passado, os vinhos portugueses sofrem de uma falta de imagem explícita que os afasta das listas de escolhas óbvias e intuitivas da maioria dos enófilos internacionais.

Sim, é verdade que em alguns mercados mais ou menos isolados, nomeadamente no caso paradigmático dos países lusófonos, existe uma proximidade cultural e emocional que permite que os vinhos portugueses mantenham uma imagem positiva e atraente. Uma imagem que retrata um país clássico e ligado às tradições, uma imagem favorável que autoriza o agradável e raro privilégio para os vinhos nacionais de poderem contar com uma empatia antecipada do consumidor, com uma simpatia natural que se manifesta desde o primeiro instante, quando o vinho ainda está na prateleira da garrafeira ou supermercado.

Em função dos diferentes mercados, de uma maior proximidade ou afastamento geográfico em relação a Portugal, da existência de uma maior afinidade cultural ou de uma ligação menos afectiva, da presença de uma maior aposta de comunicação e formação ou de algum alheamento comercial e institucional, os vinhos portugueses debatem-se com a eterna dificuldade de amargarem com uma ausência de imagem ou, nos piores casos, de uma imagem muito pouco lisonjeira.

Enquanto no primeiro caso, quando os vinhos nacionais vivem sob a anestesia e entorpecimento do anonimato, o problema pode ser facilmente corrigido com um investimento sério na formação e comunicação, no segundo caso, quando a percepção é negativa e a imagem pouco abonatória, a resolução será sempre delicada e financeiramente pesada, obrigando a investimentos dolorosos e dilatados no tempo. É muito mais fácil criar e implementar uma imagem positiva ou simplesmente razoável a partir do nada que tentar reverter uma valoração que à partida nos é claramente desfavorável. É muito mais fácil partir do zero que perder anos e proveitos a tentar simplesmente regressar ao ponto zero.

Se durante anos pouco se fez para combater esta triste realidade, há que reconhecer que Portugal tem, hoje, finalmente, uma política activa de afirmação internacional. Se durante anos os esforços foram maioritariamente casuísticos e fruto de boas vontades ocasionais, resultado de esforços e iniciativas individuais, existe hoje uma estratégia pensada, organizada, coerente e adaptada a cada um dos mercados identificados como sendo prioritários. Se durante anos a aposta na promoção se revelou inconsistente no tempo, na mensagem e na lista de alvos escolhidos, alternando de acordo com os humores e as ocasiões, introduzindo uma comunicação aleatória tanto na identificação dos mercados prioritários como nos conteúdos, hoje percebe-se uma mensagem perfeitamente racionalizada nos objectivos e na forma de os alcançar.

Concorde-se ou discorde-se com a estratégia finalmente acordada, a verdade é que Portugal acolheu por fim um plano e uma mensagem coerente, consistente nos conteúdos e na sua execução ao longo dos anos, coerente, consistente e com uma visão de médio a longo prazo. Como em todas as decisões políticas, como em todos os planos estratégicos do mundo, haverá quem se identifique com os grandes princípios e quem não se reveja nos objectivos adoptados. Nada de mais saudável e natural. Mas independentemente dos gostos pessoais, das teorias particulares e das conveniências individuais de cada agente do sector do vinho, a verdade é que foi estabelecido um código de actuação e uma lista de mercados prioritários, um mapa de objectivos mensuráveis, um modelo integrado de promoção e formação, um orçamento transparente e uma lista de propósitos que é clara e que é passível de ser fiscalizada no cumprimento dos objectivos e na apuração de responsabilidades.

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