Fugas - vinhos

Bafarela 17 Superior 2011, vinho de culto em apenas cinco colheitas

Por José Augusto Moreira

O último vinho da casa Brites de Aguiar já tinha todo destino antes de sair da adega .

A diferença é sempre cativadora mas isso só não chega para explicar o fenómeno Bafarela 17, um vinho que tem apenas cinco colheitas e se tornou já num evidente fenómeno de culto entre os consumidores portugueses. Por curiosidade, prova-se uma ou duas vezes, mas é preciso que o vinho tenha sempre algo que conquiste os sentidos para que se torne procurado e apetecível para o consumidor.

E este não é, pelos vistos, só um vinho muito apreciado. É também muito procurado, com a produção a esgotar ainda muito antes de chegar à garrafa e tendo criado à sua volta um fenómeno de culto e uma espécie de clube de fãs. Mesmo quando cada garrafa atinge no mercado valores que se aproximam já dos 40 euros, o que, nos dias que correm, com vinhos de qualidade a serem oferecidos por preços cada vez mais irrisórios, começa a converter-se num caso de estudo

Neste caso, o vinho até pareceria reunir, em teoria, qualidades que o afastariam das modernas tendências de consumo: um grau alcoólico muito elevado (os tais 17% que lhe dão o nome) e fruta madura em quantidade mais do que generosa. Ora, a questão é que em vez de se tornar pesado e cansativo na boca, como seria previsível, o vinho surpreende mesmo pelo equilíbrio e sensações de frescura. Um caso evidente onde a teoria foi completamente superada pela realidade e que leva até o produtor — a família Brites Aguiar — a falar de um vinho ao estilo daqueles de que gostava o mítico Barão de Forrester. Secos e aromáticos, com excelente estrutura e boa acidez, como seriam os vinhos do Porto no tempo em que não eram ainda fortificados.

Extraordinário mesmo é que o Bafarela 17 se tenha convertido num vinho de culto entre os consumidores quando esta edição de 2011, que nos últimos meses foi lançada, é ainda apenas a sua quinta colheita. É que nem todos os anos a natureza propicia as condições para que se possa engarrafar um vinho com estas características. O primeiro foi em 2004 e surgiu como que do acaso e de uma grande vontade de experimentação.

A quinta, actualmente com cerca de 40ha, fica no vale do Torto, em Trevões, São João da Pesqueira, com patamares situados entre os 200 e 400 metros de altitude. Numa das parcelas, denominada Bafarela, em zona abrigada e de temperaturas extremas, a casta Touriga Franca tem até dificuldade em amadurecer mas nesse ano, com um Verão muito quente e seco, as uvas apresentavam-se quase pacificadas. Depois de entrarem nas cubas, os enólogos da casa, Pedro Sequeira e António Rosas, foram confrontados com graduações alcoólicas muito elevadas, mas com a singularidade de o vinho se apresentar excelente em todos os restantes parâmetros. Porque não arriscar e levar o vinho até à garrafa? Do desafio à prática foi apenas necessário convencer o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto a autorizar o engarrafamento de um vinho com um teor alcoólico de 17% e esperar pela reacção dos consumidores.

Sempre em quantidades muito limitadas, foram novamente engarrafadas as colheitas de 2006, 2008, 2009 e 2011. Se bem que nesta última tenha chegado já quase às 15 mil garrafas (contra as menos de nove mil de 2009), o vinho estava já todo destinado ainda antes de sair da adega. A Fugas provou-o num jantar temático com os produtos da casa Brites de Aguiar que teve lugar há cerca de um mês no Restaurante Egoísta, no Casino da Póvoa. Tal como os vinhos, esgotou rapidamente, tendo sido mesmo necessário recorrer a uma segunda edição.

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