Fugas - vinhos

Nuno Oliveira

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Quem diria que o Monte Velho pode ser guardado?

Por ano são produzidas quase cinco milhões de litros de Monte Velho, o que equivale a um pouco mais de seis milhões e meio de garrafas, divididas entre quase cinco milhões e meio de garrafas de vinho tinto e quase milhão e meio de garrafas de vinho branco. Que diferença para a primeira colheita em que o Monte Velho foi produzido, em 1991, quando o acabado de entrar David Baverstock, enólogo da casa desde então, conseguiu produzir pouco mais de cinco mil garrafas do Monte Velho tinto.

Registe-se que hoje mais de metade da produção de Monte Velho é vendida fora de Portugal, exportada maioritariamente para Angola, Brasil e Estados Unidos da América. Para manter tal volume e consistência, o Esporão dispõe de uma rede de fornecedores de uvas em todo o Alentejo, de Portalegre a Beja, impondo como condição para a manutenção dos contratos que os seus fornecedores amanhem as suas vinhas em regime de produção integrada, condição indispensável para a certificação iminente do Monte Velho como vinho de produção sustentável.

Mas a verdade é que ao Monte Velho associamos essencialmente a ideia de vinho fácil e simples, agradável e de preço sensato mas sem os requisitos suficientes para poder, ou merecer, ser guardado durante mais que uma ou duas colheitas. Talvez para contrariar tal prognóstico, a Herdade do Esporão decidiu realizar uma pequena prova vertical dos seus Monte Velho, distribuídos pelas colheitas 2012, 2011, 2010 e 2008 nos vinhos brancos, e 2012, 2011, 2010, 2009, 2008, 2007 e 2004 nos Monte Velho tintos. Se a prova me pareceu menos óbvia nos brancos, onde, apesar de os vinhos se defenderem bem, o factor tempo começa a pesar dois anos após a colheita, nos tintos o Monte Velho foi uma revelação.

As colheitas 2008 e 2004 mostraram uma graça, jovialidade e capacidade de guarda inesperadas para um vinho deste volume de produção e cujo preço de referência ronda os quatro euros, surpreendendo pela robustez e agradabilidade proporcionados... passados quase uma década. Quem diria?

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