Fugas - Viagens

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Dois actores, uma viagem em Itália, um carro, seis restaurantes

Por Alexandra Prado Coelho

Steve Coogan e Rob Brydon, dois actores de comédia, recebem uma incumbência do jornal The Observer: passear pelas mais belas paisagens de Itália e comer nos melhores restaurantes. É, depois de The Trip (o mesmo modelo mas em Inglaterra), A Viagem a Itália.

Aviso: a comida aqui é um pretexto. Na verdade, a própria viagem é um pretexto. Seis restaurantes, seis refeições aparentemente maravilhosas, cenários lindíssimos em Itália, da Toscana a Amalfi, passando por Roma ou a Liguria. Tudo o que justifica estarmos a escrever este artigo na Fugas não passa de um pretexto para um divertido e ao mesmo tempo melancólico dueto (duelo?) dos actores cómicos britânicos Steve Coogan e Rob Brydon – o filme de que falamos é A Viagem a Itália, de Michael Winterbottom.

O ponto de partida é simples: tal como tinha acontecido no filme anterior, The Trip (2011), em que ambos percorrem o Norte de Inglaterra, o jornal The Observer convida Coogan e Brydon para viajarem até Itália e fazerem críticas a seis restaurantes. “O voo é em primeira classe?”, é a primeira pergunta que Coogan faz quando Brydon lhe telefona. Aparentemente é, porque logo de seguida os dois homens já estão a discutir como se pronuncia Alanis, enquanto ouvem Alanis Morissete num Mini Cooper a caminho de um dos restaurantes.

Aliás, os dois admitem que de comida não percebem nada. Cada conversa à mesa é o início de um diálogo que começa não se sabe porquê e avança, como um comboio sem travões, não se sabe para onde. Basta uma ideia que surge a despropósito para Coogan e Brydon se lançarem numa improvisação que pode acabar (e geralmente acaba) numa imitação de um qualquer actor – um dos momentos altos do filme é a imitação de Michael Caine no filme Batman, e, já agora, também de Christian Bale. Mas há ainda Richard Burton, Hugh Grant ou Al Pacino.

Os filmes partiram de uma proposta feita pelo realizador aos dois actores, e começaram por ser uma série em seis episódios, para a BBC. O sucesso do primeiro levou ao segundo, mas o próprio Coogan confessa, a certa altura, ter dúvidas de que esta repetição da dose resulte. No entanto, o filme funciona em parte por causa deste registo semi-ficcionado em que nunca sabemos exactamente onde acaba a realidade – os actores são aqui versões ligeiramente ficcionadas deles próprios, e as vidas pessoais, relações com as mulheres, ex-mulheres e filhos entram na história (embora não correspondam inteiramente à realidade).

Coogan e Brydon são capazes de momentos de grande cumplicidade e de outros em que, sem perderem essa ligação, são impiedosos um com o outro. Quando Brydon vê um jovem italiano e acha que é parecido com ele quando era mais novo, o amigo comenta que seria parecido com ele depois de passar um ano com um cirurgião plástico. Mas, de qualquer forma, Brydon tem os seus momentos de vingança, nomeadamente quando esfaqueia Coogan, numa versão de uma cena do filme O Padrinho II.

Por vezes, as conversas parecem ter um ponto de partida. Um dos tópicos da viagem – a par das célebres refeições – são os poetas Shelley e Byron (cujo nome, nota Rob Brydon só difere deste por uma letra) e as vidas de ambos em Itália. O tema dá para fotos turísticas nos locais onde viveram, e para conversas filosóficas sobre a morte, um assunto que, aliás, regressa frequentemente, seja por causa das vítimas petrificadas da erupção do vulcão em Pompeia, seja por causa do avançar da idade dos nossos dois heróis, que parece explicar o facto de se sentirem transparentes aos olhos das jovens raparigas italianas.

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