Fugas - Viagens

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O que comer (e onde) neste Outono

Por Andreia Marques Pereira

Os foodies não se podem queixar do Outono, época de festivais gastronómicos. Na ressaca da temporada das colheitas, é tempo de experimentar nos pratos e nos copos o resultado desse trabalho.

“Aos poetas a Primavera, aos gourmets o Outono”, escreveu o barão Brisse, gastrónomo e jornalista, em 1875. Aí está: para quem aprecia a boa mesa, não há estação como o Outono, com a sua cornucópia de sabores, bem na ressaca da temporada das colheitas. E aí está: depois da colheita, o proveito, nos pratos, nos copos.

Termina este domingo o maior (e mais conhecido) festival de cerveja do mundo, o Oktoberfest, em Munique, mas Outono é mesmo é estação de vindimas. Por isso, é a melhor estação para visitar as grandes regiões produtoras e deixar-se levar não só pela experiência do corte da uva, mas por toda a cultura que se desenvolve em torno deste ritual anual. E como as vinhas e adegas teimam em estar bem localizadas, à boleia destas descobrem-se paisagens inolvidáveis, aldeias e vilas de charme, feiras e mercados típicos. 

Rume-se, portanto, França, a Bordéus e Champanhe, provavelmente as duas regiões vinícolas mais reconhecíveis do mundo; em Espanha, não se perca a La Rioja; e em Itália, o Piemonte e a Toscana. E arrumados os países produtores “clássicos” (deixamos Portugal de fora de propósito), viaje-se por regiões menos óbvias: o vale do Mosela na Alemanha (a casa da casta Riesling), em torno de Trier, uma das mais antiga cidades do país, fundada pelo imperador romano Augusto; ou Tokaj-Hegyalja, na insuspeita Hungria – declarada património mundial da UNESCO, esta região vinícola aos pés da montanha Tokaj (parte dos Cárpatos), com mais de mil anos de tradição na produção de vinho, é a mais conhecida do país e produtora de um vinho singular, o Tokaji Aszú, doce pela “podridão nobre”. 

Nada melhor para combinar com um bom vinho do que boa comida e o Outono é a época dos festivais gastronómicos (que trazem com eles uma variedade de tradições locais, apresentando-se como verdadeiras montras etnográficas). À margem dos grandes restaurantes, as especialidades locais saem à rua e faz-se a festa. Desde as maçãs dinamarquesas em Ebeltoft (cidade do leste do país) — são mais de 300 e exibem-se em bolos, vinagres, sumos e cidra, claro — às maçãs normandas (também 300 variedades) que se fazem cidra na Fête du Cidre à l’Ancienne (festa da cidra à antiga) na pequena aldeia de Le Sap, passando pelos queijos ucranianos (em Lviv), a Europa oferece-se à degustação. 

E se falamos em queijos ucranianos é porque não são estrelas a nível mundial, como os franceses e os italianos que deixam um rastro ainda mais intenso nesta época. E a Itália torna-se mesmo num paraíso irrecusável, com a época das trufas a instalar-se em Outubro: os melhores cogumelos, fresquíssimos, por todo o lado – até para apanhar. A região da Istria, na vizinha Croácia, segue-lhe as pisadas: as suas trufas têm a fama de ser as melhores e os preços mais acessíveis. Na Andaluzia fazem-se festivais de tapas, na Galiza de marisco, o arenque apresenta-se em latitudes tão distintas quanto a Finlândia e França. Para os mais gulosos, o chocolate também anda à solta neste Outono: no Eurochocolate em Peruggia (Itália), no Salon du Chocolat em Paris, no Choco-Laté em Brugges, por exemplo. Quem disse que o Outono não se come?

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