Fugas - dicas dos leitores

Sri Lanka: Subida ao Adam''s Peak

Por Francisco Cipriano

Francisco Cipriano conta-nos uma subida que o marcou: ao Adam's Peack, ou Samanalakanda - montanha borboleta, montanha cónica de 2243 metros, no Sri Lanka.

O Hotel Slightly Chilled estava bastante abaixo na categoria quando comparado com os hotéis dos dias anteriores mais a Norte no Sri Lanka. Ainda assim, modesto, era um lugar charmoso de montanha com uma vista soberba. Tivemos uma refeição esplêndida nessa noite. O caril de frango e a salada estavam óptimos, ainda que super-picantes para o meu gosto (com chilis bombásticos). Tentei ir para a cama cedo mas não foi fácil adormecer. Foquei-me nos sons da natureza lá fora e libertei o meu corpo e o meu espírito. 

O despertador tocou à 01h30 da manhã e levantei-me para começar a subir o Adams Peak com a intenção de estar lá por volta das 6h00 para testemunhar o nascer do sol. Juntei-me a Bandu, o meu guia para Adams Peak. Entrámos no trilho e começámos a subir o penoso caminho. Adam"s Peak (ou monte Adam, ou ainda em linguagem local Samanalakanda - montanha borboleta) é uma montanha cónica de 2243 metros de altura localizada na província central do Sri Lanka. É muito conhecida pela Sri Pada, ou pegada secreta que supostamente estará impressa na formação rochosa perto do cume. Na tradição budista atribuída a Buda, na tradição hindu a Shiva, na cristã a S. Tomas e na Muçulmana a Adão. Mais uma lenda que prova que, na sua essência, as religiões se unem. 

Estava incrivelmente húmido quando começámos a subir e logo uns degraus depois demos conta que estávamos totalmente molhados de transpiração, apesar de ser noite escura e a meio da madrugada. A subida não é difícil, mas longa, sobretudo porque na sua maioria se faz por grandes degraus de pedra. No total são cerca de 5200 grandes degraus até ao topo. No Sri Lanka diz-se que somos tontos se não subirmos uma vez na vida o Adams Peak, mas que somos muito mais tontos se o fizermos mais do que uma vez. Já para lá de meio caminho parei e bebi um chá reconfortante numa das várias bancas que se encontram pelo caminho, onde também comi um naan, um pão achatado feito no fogo, que me souberam pela vida. 

No trilho encontrámos alguns estrangeiros que como eu exploravam este local, mas sobretudo partilhámos a nossa subida com peregrinos budistas que caminhavam em família, transportando presente e oferendas para Buda e para o santuário que se encontra no topo, entoando canções budistas para entreter as crianças. O percurso leva várias horas e estava muito movimentado, pois a época da peregrinação é justamente em Abril. 

Paro e olho para trás. Impressiona-me a quantidade de pessoas a caminhar e o rasto da iluminação que desce montanha abaixo. Ao nascer do sol, os peregrinos assistem ao romper de mais um dia, dão graças a Buda por ele e celebram a Pooja, uma cerimónia de oferenda. Fomos bastante rápidos e chegámos um pouco antes de o sol nascer. Já no topo, a humidade que tivemos durante a subida perdeu-se e deu lugar a um vento frio de altitude. Vesti todas as roupas que tinha tirado e todas aquelas que levei comigo na mochila e que até aqui, durante toda a viagem ao Sri Lanka, ainda não tinham sido necessárias.

Apreciei este local maravilhoso de gente e de tradição com tempo e com toda a serenidade que ele me mereceu. Por debaixo do templo há salas onde esperam os peregrinos e os seus familiares. Impressionou-me a quantidade de gente que ali dormia e que esperava a Pooja com dedicação. Impressionou-me a devoção a este Deus distante. O momento do nascer do sol foi mágico mesmo com a neblina. O sacudir das bandeiras de cor ao vento evoca o divino e joga com os cânticos e sinos que completam o cenário. Depois de o sol subir, e se formos rápidos numa corrida para o outro lado da montanha, vemos ainda a sombra do Adam"s Peak numa forma de triângulo perfeito reflectido no solo. 

A subida ao Adam"s Peack foi um dos momentos altos da minha viagem ao Sri Lanka - pelo desafio da subida, pela atmosfera criada em torno dos peregrinos e pelo respeito que todos mostram por este local misterioso e exótico onde não se consegue ficar indiferente. Voltei à aldeia de manhã, exausto mas com uma sensação de leveza, pronto para mais um dia de descoberta deste Sri Lanka que me encantou. 

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