Fugas - dicas dos leitores

A magia do Vietname

Por Maria Clara Costa - Amadora

Até visitar o Vietname, sempre que ouvia ou pronunciava este nome, o nome deste país, sentia um baque, ouvia o estrondo de um canhão, o som do rebentamento de uma bomba ou o silvo de um avião de guerra. Via gente a fugir, como aquela menina nua que ainda hoje entra na nossa casa, ora no crã da televisão, ora numa folha de papel de uma qualquer revista.

Hoje, depois de deambular pelas ruas de algumas das suas cidades, Hanói, Ha Long, Hoi An, Hue e Ho Chi Minh; depois de viver a aventura de atravessar avenidas apinhadas de gente, motos, riquexós, bicicletas e outros veículos; depois de observar a calma, o sorriso doce na cara daquela gente, a harmonia entre o trânsito pedestre e o motorizado, já pronuncio Vietname sem acompanhamento sonoro.

Agora desliza no ecrã da minha memória gente extremamente paciente, simpática, agradável, especialmente mulheres e crianças. Agora vejo hotéis fabulosos, ruas ladeadas de moradias de 1.º e 2.ª andares, com uma arquitectura muito própria, altas e muito estreitas, algumas da largura de uma porta e janela. Vejo jardins, parques, lagos, rios, uma infinidade de áreas de lazer pejadas de gente a desfrutar do bom tempo e da pródiga natureza. Gente sem stress, quase em silêncio: não se fala alto, as crianças são alegres mas não gritam e nós sentimo-nos contagiados por aquela tranquilidade e sossego e ficamos suficientemente calmos para absorvermos e registarmos toda a beleza que nos rodeia.

Também navegámos no rio Perfume e no delta do Mekong. Não foi apenas um passeio num rio, foi a realização de um grande sonho.

A alguns quilómetros de Ho Chi Minh (antigo Saigão), visitámos os túneis de Cu Chi. Aqui, a emoção e angústia tomam conta de nós, aqui voltam os fantasmas daquela guerra que não esquecemos. Ver, ao vivo, parte de muitos quilómetros de túneis estreitos, com entradas armadilhadas, construídos e usados por guerrilheiros vietcongs para combaterem o inimigo, faz-nos sentir um arrepio porque imaginamos o horrível sofrimento e dor de ambos os lados. Entrar nos túneis, caminhar de cócoras com o ar a escassear é algo que apenas nos dá uma vaga ideia do que foi a vida daqueles jovens (homens e mulheres) e nos faz questionar como é possível que, sendo fisicamente tão frágeis, tenham conseguido reunir tanta força e tão grande coragem... Também pudemos ver a cozinha, com a saída de fumos camuflada no exterior, o refeitório e tantas outras salas de trabalho naquele subterrâneo impossível de imaginar. Esta visita foi para nós uma comovente lição sobre a resistência do ser humano.

Em todas as cidades visitadas nota-se um desenvolvimento acelerado na construção civil, pavimentação de ruas e passeios. Estão a preparar-se para receber o turismo de massas. E eu preparome para um dia voltar, esquecer o "goood moooorning Vietnam!!", e apenas dizer com emoção: congratulations Vietnam!

Fugas n.º 532 - 31/07/2010

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