Hoje, depois de deambular pelas ruas de algumas das suas cidades, Hanói, Ha Long, Hoi An, Hue e Ho Chi Minh; depois de viver a aventura de atravessar avenidas apinhadas de gente, motos, riquexós, bicicletas e outros veículos; depois de observar a calma, o sorriso doce na cara daquela gente, a harmonia entre o trânsito pedestre e o motorizado, já pronuncio Vietname sem acompanhamento sonoro.
Agora desliza no ecrã da minha memória gente extremamente paciente, simpática, agradável, especialmente mulheres e crianças. Agora vejo hotéis fabulosos, ruas ladeadas de moradias de 1.º e 2.ª andares, com uma arquitectura muito própria, altas e muito estreitas, algumas da largura de uma porta e janela. Vejo jardins, parques, lagos, rios, uma infinidade de áreas de lazer pejadas de gente a desfrutar do bom tempo e da pródiga natureza. Gente sem stress, quase em silêncio: não se fala alto, as crianças são alegres mas não gritam e nós sentimo-nos contagiados por aquela tranquilidade e sossego e ficamos suficientemente calmos para absorvermos e registarmos toda a beleza que nos rodeia.
Também navegámos no rio Perfume e no delta do Mekong. Não foi apenas um passeio num rio, foi a realização de um grande sonho.
A alguns quilómetros de Ho Chi Minh (antigo Saigão), visitámos os túneis de Cu Chi. Aqui, a emoção e angústia tomam conta de nós, aqui voltam os fantasmas daquela guerra que não esquecemos. Ver, ao vivo, parte de muitos quilómetros de túneis estreitos, com entradas armadilhadas, construídos e usados por guerrilheiros vietcongs para combaterem o inimigo, faz-nos sentir um arrepio porque imaginamos o horrível sofrimento e dor de ambos os lados. Entrar nos túneis, caminhar de cócoras com o ar a escassear é algo que apenas nos dá uma vaga ideia do que foi a vida daqueles jovens (homens e mulheres) e nos faz questionar como é possível que, sendo fisicamente tão frágeis, tenham conseguido reunir tanta força e tão grande coragem... Também pudemos ver a cozinha, com a saída de fumos camuflada no exterior, o refeitório e tantas outras salas de trabalho naquele subterrâneo impossível de imaginar. Esta visita foi para nós uma comovente lição sobre a resistência do ser humano.
Em todas as cidades visitadas nota-se um desenvolvimento acelerado na construção civil, pavimentação de ruas e passeios. Estão a preparar-se para receber o turismo de massas. E eu preparome para um dia voltar, esquecer o "goood moooorning Vietnam!!", e apenas dizer com emoção: congratulations Vietnam!
Fugas n.º 532 - 31/07/2010