Lágrimas provocadas pelo excesso. Excesso de beleza. Excesso de pobreza. Excesso de partilha. Chorei com a dona de uma ourivesaria, enquanto os olhos dela se enchiam de lágrimas a ouvir a tradução do que lhe tinha escrito no livro de visitas. Chorei na viagem de Jodhpur quando um rapaz me mostrou um álbum de fotografias de umas férias dele com amigos, num amanhecer frio, dentro de uma camioneta quase a desfazer-se, com a única intenção de partilhar com uma estrangeira de ar exausto, depois de 6 horas num comboio, com um lenço colorido na cabeça e cabelos desgrenhados, o que tinha vivido. Mas não são só as paisagens que dão o colorido à alma.
É também o cheiro constante do incenso, os temperos da gastronomia, as cores das roupas. Os sentidos estão alerta, em constante encontro com a realidade envolvente. Deve ser por isso que o toque é tão soberbamente aproveitado pelos indianos. São subtis enquanto apertam a mão, quase carinhosos no toque com os dedos. Parece o país da celebração de todos os sentidos. Inicialmente, estranhei aquela necessidade de toque com as mãos. No regresso, senti a falta desse mesmo contacto.
Quem foi e se apaixonou, não volta a mesma pessoa. Não volta a deixar de apreciar os sentidos, cada um a seu tempo. Nem a vontade de partilhar o que sentiu. Como ao escrever este texto, enquanto ouço a música que ouvi naquela loja de Pushkar, sentada no chão para escolher os CD`s que queria comprar. Sempre com a calma exigida pelos indianos, sempre com os pés descalços e o altar ao fundo, o incenso e as flores amarelos e alaranjados a enfeitar. Resta-me a palavra, a única que aprendi de facto: Namasté*! Namasté à chegada e à partida.