Fugas - dicas dos leitores

Experiência cabo-verdiana

Por Manuel Ferreira

O avião ganhou altura e virou rumo a sul, por cima da ponte Vasco da Gama, deixando para trás a nossa capital, rumo à ilha do Sal em Cabo-Verde. Logo que foi possível tirar o cinto de segurança, ficámos surpreendidos com aquilo que observámos: a maioria dos passageiros (cabo-verdianos) levantaram-se, trocaram de lugares e iniciaram uma interminável cavaqueira, que duraria até ao novo apertar de cinto, 3h e 30m depois, pouco antes da aterragem no aeroporto Amílcar Cabral.

Ao abrirem as portas do avião, uma aragem quente veio ter connosco, dando-nos as boas vindas ao arquipélago. Era meia-noite. Cumpridas as formalidades alfandegárias, entrámos no mini autocarro e iniciámos a viagem até à pequena vila de Santa Maria, onde ficava o nosso hotel. Deixamos para trás as luzes cintilantes da pequena cidade de Espargos, junto ao aeroporto, seguimos por uma estrada recta muito estreita cortada na planície pedregosa e desértica, iluminada pelas estrelas.

Chegados ao hotel, adormecemos ao som ritmado das pequenas ondas do mar manso e do uivar forte do vento alísio que entrava pela janela! A manhã surgiu muito nublada (mas por pouco tempo) e pudemos confirmar a beleza do local, que até aquela altura só tínhamos visto nos catálogos turísticos; uma praia a perder de vista, junto a um mar muito azul e verde; um ancoradouro em madeira, do início do século XX, verdadeiro ex-libris de Santa Maria, apesar de arruinado, ainda de grande serventia para os pescadores e turistas, visto ser o único cais da localidade.

Os dias seguintes foram uma sucessão de praia e ricas experiências gastronómicas como a cachupa, ao ritmo de mornas e coladeras que à noite entravam pela alma dentro! Não posso deixar de referenciar a excursão a Pedra Lume, antigo vulcão, onde na sua cratera ainda existe uma pequena amostra daquilo que foi a grande exploração salineira de outrora e que deu o nome à ilha. Lá pudemos banhar-nos numa água quente avermelhada, super concentrada de sal, onde até aqueles que não sabiam nadar, se mantinham à superfície.

O tempo passava a correr e foi com imensa pena que os oito dias de férias acabaram por chegar ao fim, naquela ilha entre África e a América do Sul. Ficou em nós uma vontade de partilhar esta experiência, porque sentimos a imensa alegria de um povo feliz apesar da pobreza material, de uma música que entra na alma, de um clima que nos abraça e aquece e nos dá a vontade de regressar um dia! 

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