Fugas - dicas dos leitores

Istambul: um pé na Europa, um pé na Àsia

Por Céu Mota

Admito que tinha ideias erradas em relação à Turquia. Nos dias que antecederam a partida, li o Guia American Express o mais que pude quanto à gastronomia, segurança, meios de transporte mais recomendados e, lógico, lugares mais importantes a ver em dois dias, para me certificar que não ia completamente às cegas para um lugar que era Europa e Ásia ao mesmo tempo!

A Turquia recebeu-nos muito bem logo no ar: a Turkish AirLines é uma companhia de qualidade e a tripulação deu testemunho de um país acolhedor, simpático para os turistas (em especial para as crianças) e que gosta de comer bem. Serviram borrego e beringelas grelhadas acompanhados com arroz branco tão bem como num qualquer restaurante português!

Segunda boa surpresa: constatar in loco a prática muçulmana das cinco orações por dia. «Toda a Istambul» e eu fomos acordadas às cinco da manhã com «um cântico transmitido por altifalantes colocados no alto dos minaretes chamando os fiéis para a oração». Horas mais tarde, entrei na Mesquita Nova com a minha família não para orar, mas para notar as diferenças. Guardámos os sapatos num saco de plástico branco que nos forneceram à entrada do templo e cobri a cabeça com um lenço que sensatamente meti na mala. Tentei gravar na memória os gestos dos homens que lavavam os pés, a cara e o pescoço, as mãos e os braços, antes de iniciarem a sua prece. Mas o meu espanto não foi com certeza maior que o de Robin - Kevin Kostner - no filme Robin Wood - ao ver o seu amigo muçulmano - Morgan Freeman - ajoelhar-se em plena colina verde da Inglaterra para rezar a Alá. De facto, os muçulmanos não precisam estar numa mesquita para se virarem para Caaba e baixar a cabeça em sinal de respeito pelo seu Deus. Num dos jardins do Palácio Topkapi, reparei num homem ajoelhado sobre o seu casaco estendido sobre a relva, substituindo o tradicional tapete, totalmente indiferente aos olhares curiosos dos turistas.

Mesmo ao lado da Mesquita Nova, o Bazar das Especiarias. As bancas mostram «pirâmides» de paprika, de caril, açafrão que chega do vizinho Irão, entre muitas outras. São mil cores, mil luzes e aromas que voltámos a admirar no Grande Bazar. Provámos um doce tradicional à base de mel e frutos secos e o popular chá com aroma de maçã no típico copo de vidro «túlipa».

O circuito do Bósforo foi um dos pontos altos da viagem. Do rio fiz quase uma dezena de fotos a algumas das mesquitas que se vêm por toda. Procurei distinguir a majestosa Haghia Sophia, símbolo da cidade, que tratam de pôr ainda mais bonita num esforço gigantesco de restauro, meses antes da antiga Constantinopla ser Capital Europeia da Cultura. A pedido do guia, o comandante do barco deixou-nos na margem asiática da cidade - todos queríamos «pôr o pé» no outro continente. Subimos à Colina dos Enamorados, deslizando por entre as famosas casas otomanas (Konak), que o governo não permite deitar abaixo.

Efectivamente, Istambul é  tesouro do nosso mundo. Há que salvaguardá-lo.

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