Fugas - dicas dos leitores

Nova Iorque, a eterna

Por Maria João Castro

Um passeio por Nova Iorque, com visita a algumas das suas atracções mais apaixonantes, incluindo um salto à Estátua da Liberdade, visita ao coração do porto da cidade, a Chinatown, ao Central Park e à Times Square ou aos grandes museus.

Às 10h45 descolo num 757 da Continental Airlines da Portela. Farrapos da costa portuguesa estendem-se no horizonte, mostrando-se fulgurantes e insolentes. 

À mesma latitude de Lisboa, a manta de retalhos de povos e culturas e expoente máximo da heterogeneidade cultural e racial aproxima-se sem modéstia. A cidade foi fundada na ilha de Manhattan pelos holandeses, que haviam comprado terrenos aos índios algoquian. Chamada então de Nova Amesterdão, viu o seu nome mudar aquando da colonização da Inglaterra em 1664, dando-lhe o seu actual nome em homenagem ao duque York. Capital dos EUA entre 1785 e 1790, construindo-se de emigrantes, numa idêntica dissemelhança com nenhures.

Newark Airport. Manhattan. Hotel na 28.ª com a 5.ª avenida, a quatro minutos a pé do Empire State Building, a arranhar o céu nova-iorquino. Entro pelo átrio revestido a mármore da 5ª avenida. O empregado do segundo elevador (que leva do 86.º ao 102.º andar, o chamado observatório) parece ter o peso de todo o edifício às costas. Do observatório a vista não difere muito da plataforma abaixo de onde acabara de vir. A sul, ao longe, a Estátua da Liberdade, minúscula. Num plano ligeiramente mais próximo, os edifícios do distrito financeiro e ainda mais próximo o Flatiron, o edifício arredondado onde a 5.ª Avenida se liga à Broadway, que corta a monotonia do quadriculado urbano. Depois, a oeste, o rio Hudson e New Jersey; mais perto, os toldos do Macy´s.

Para norte, Madison Square Garden e de novo a Broadway e mais ao fundo Times Square. Segue-se o verde do rectângulo de Central Park e já para este o topo metalizado do edifício da Chrysler, o East River e a ponte de Brooklyn. De novo a Estátua da liberdade e o círculo está completo. Desço no ascensor veloz e saio para a rua, deixando para trás 365 toneladas de construção. 

O vento cumprimenta-me na rua a caminho do próximo destino: South Ferry e o Battery Park, a balanço da embarcação que me leva à estátua da Liberdade, minúscula ao fundo, sob o sol frio da manhã. Desenhada por Bartholdi e oferecida pela França, ela é o símbolo de toda uma nação. Do seu pedestal, a vista é abrangente, folgada e arejada. Próxima paragem do ferry: Ellis Island, a porta da América. Milhares de imigrantes chegaram aqui, carregadinhos de esperanças, prontos a desbravar uma nova vida. 

Regresso pachorrento já com a manhã finda, caminhando por South Street Seaport: o coração do porto da cidade, é hoje uma animada zona de cafés, restaurantes e zona de recreio, sob o tilintar dos mastros das embarcações fundeadas. O cenário é emoldurado por um lado pelo rio e por outro pelos edifícios do Financial District.

Desfila Chinatown com as suas ruas inundadas de caracteres chineses, anunciando lojas e produtos, o edifício Nações Unidas com as suas bandeiras a dançar ao sabor da brisa rarefeita. Depois, bem depois, há os museus, únicos, imensos, belos. O MOMA, o MET, o Solomon Guggenheim, a única obra de Frank Lloyd Wright em Nova Iorque.

Descansa-se no magnífico Central Park, ou numa esplanada do Times Square, a praça ícone de uma América sem igual. A azáfama de luzes, néones, gente e ruído. 

Na esquina, uma carrinha da Coalition for the Homeless distribui comida a um grupo de homens gastos. As suas caras tinham tomado a imobilidade e a rigidez de uma máscara. Haveria vida por detrás dos olhos parados? O funcionário distribuía sacos com gestos carregados de uma energia dramática. Será o outro lado da big Apple, aquele menos publicitado mas nem por isso menos verdadeiro.

Adormeço ao som de um trompete que se desprega de uma qualquer assoalhada do saguão. A noite tinha uma voz amigável enquanto a madrugada lenta ia cedendo terreno à manhã enublada.

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