Fugas - dicas dos leitores

O que não veio connosco

Por Bruno Queirós e Mariana Gordo

Em cada viagem, há sempre algo que fica para trás, algo que fica para a próxima. Bruno Queirós e Mariana Gordo escrevem exactamente sobre essa sensação, de ir criando uma lista dos locais que se perderam, por uma razão ou outra, e que ficam marcados para um regresso.

Não foi, mas ficou como a peça mais importante da aventura. Passou a ser a história que todos gostam de ouvir e alguns preferem não contar. Deliberadamente repetimos a negação, pois, de facto, as delícias que as férias em viagem nos proporcionam podem ser retratadas por imagens narradas infindavelmente em conversas que começam com "E daquela vez que nós..."; ou através de alguns artefactos que repousam como troféus nas prateleiras lá de casa, ou até momentaneamente numa cor de pele dourada, que reflecte o prazer que o Sol deixou, mas nada supera o sentimento da saudade, e esse ganha força com o que deixamos por ver e fazer nas férias que nos leva a afirmar: "Havemos de lá voltar!" 

Foi (e continua a ser) assim connosco e, por isso, permanece um sentimento de saudade por não termos entrado nas Pirâmides de Gizé, no Egipto. Desde então nos repreendemos por não o termos feito quando tivemos a hipótese e passamos a sonhar com o dia em que lá regressaremos para fechar esse ciclo.

Para quem gosta de viajar e vive para conhecer o Mundo, estas oportunidades perdidas são como uma colecção de cromos em que é aquele que falta que chama a atenção de quem colecciona e que o faz continuar a sonhar. 

Se para todos o Vietname é desconcertante e a antiga cidade de Saigão parece uma caricatura da civilização que conquista todos que por lá passam, para nós é uma forte convicção que lá regressaremos para conhecer a praça central, por onde, imagine-se, quis o destino que por lá não passássemos. 

Entenda-se que as férias são curtas para a vontade dos viajantes, e que de todas as aventuras só podemos contar, com paixão, histórias que não se repetem. Contudo, para nós o deserto Wadi Rum, na Jordânia, vai continuar a ser o local onde dormimos, comemos bem, fomos bem recebidos, mas não visitámos. 

Assim, Pisa será uma cidade linda, mas não uma subida ao último piso da Torre. Phuket, uma passagem de quatro dias e não de sete como merecido (fossem sete e reclamaríamos um regresso para 10 dias). Pequim, um aperitivo, mas não uma refeição completa para um país por descobrir. Marrocos, um país de temperos, mas sem conhecer o principal: Marraquexe. Praga é tudo menos uma Travessa Dourada que se quis preservar para uma futura visita. Obras ou cedências de colecções juntam Angkor Wat, Picasso em Barcelona ou as Torres de Notre Dame na mesma lista.

E a lista continua por muitos outros países e viagens, sempre com o sabor de que lá havemos de regressar para cumprir com o nosso sonho e vontade de conhecer mais, perpetuando na nossa vida um estado irrequieto de partir à aventura para onde fomos muito felizes.

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