Fugas - dicas dos leitores

Bijagós, paraíso perdido do Atlântico

Por Margarida Brandão Matias

Quando aterrei no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, às duas da manhã, senti a força da síndrome “antes e depois de África” que se mete na pele como uma doença tropical e permanece para sempre.

Rodeada do bafo quente da noite, lembro-me de olhar para o céu e ser acolhida por um cardume brilhante de constelações que só se deixam ver perto da linha do Equador. Através da avenida principal da capital, minada de buracos profundos aqui e ali, era difícil atravessar o véu de breu adoçado apenas por muitas velas que iluminam centenas de pessoas sentadas à beira da estrada. Da Guiné continental para o arquipélago dos Bijagós, uma pequena lancha levou-me da capital para um mundo cheio de vida selvagem, beleza natural e costumes tribais.

O arquipélago dos Bijagós é composto por 88 ilhas, apenas 23 das quais são habitadas, com Bubaque como ilha principal. Os naturais da tabanca de Bijantes, em Bubaque, são responsáveis por algumas das ilhas do arquipélago e a sua fé animista proíbe actividades económicas em muitas ilhas inabitadas e consideradas sagradas, como Rubane. Os poucos alojamentos que aí existem não teriam sido possíveis sem a permissão dos chefes dos Bijantes, que autorizaram a sua construção mediante uma gestão sustentável que empregasse gente da terra.

A magnitude da biodiversidade em todo o arquipélago é esmagadora para o olho europeu. Não admira que o conjunto de ilhas seja classificado como Património Mundial da UNESCO. De mangais a pântanos de água salgada, passando por palmeiras tropicais, selva densa, savana e dunas, tudo cabe dentro dos Bijagós.

A ilha de Orango, por exemplo, acolhe antílopes, crocodilos e uma variante rara de hipopótamos de água salgada. Em Orango, guiada pelo guineense Belmiro (grande adepto do Benfica), fui da praia em direcção ao centro da ilha munida apenas de uma garrafa de água e binóculos. São cerca de seis quilómetros até ao coração da ilha,onde uma comunidade de duzentos hipopótamos passa o dia recolhida num pântano. À noite atravessam a savana até à costa para se livrar das sanguessugas na água salgada.

Em Rubane, estirada na areia de veludo, vejo no horizonte uma piroga que transporta uma cama mais larga que o casco. Entretanto, os pescadores trazem uma barracuda que dá para doze. É hora de ir cozinhar! Um paraíso perdido no Atlântico, os Bijagós são um destino de férias deslumbrante, onde o crioulo se cruza com o português, a natureza oferece o jantar e o mar dedica-nos a banda sonora de uma viagem inesquecível.

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