Fugas - dicas dos leitores

O eléctrico (aqui na Bašèaršija) é o principal transporte público de Sarajevo.

O eléctrico (aqui na Bašèaršija) é o principal transporte público de Sarajevo.

Sarajevo, Janeiro 2012

Por Miguel Machado

A capital da Bósnia-Herzegovina há muito que deixou de estar nas primeiras páginas dos jornais pelos piores motivos e vive hoje o seu dia-a-dia com sinais evidentes de um lento regresso à normalidade. Mas em paz.

Neste Janeiro, 16 anos depois do meu primeiro ali vivido, o Aerodrom Sarajevo é agora Aeroporto Internacional de Sarajevo, totalmente renovado, onde se aluga um carro sem problemas - mesmo que o impecável Ford Focus tenha matrícula croata! As ruas em direcção ao centro não diferem de quaisquer outras de uma pequena cidade europeia (300.000 habitantes).

No entanto, ao longo da Zmaja od Bosne (popularizada como "Avenida dos Snipers"), lado a lado, notam-se edifícios perfeitamente recuperados mas muitos ainda a ostentar marcas da guerra civil.

A estátua de Tito frente à antiga Academia Militar, depois quartel das forças da NATO entre as quais as portuguesas, e hoje Campus Universitário, continua no seu lugar, na invulgar atitude de sempre, em andamento, olhar pensativo no chão.

Na Bašèaršija, o centro do centro histórico, passo pela recuperada (com fundos dos EUA) Ponte Latina, a tal onde "começou" a I Guerra Mundial. Estaciono sem dificuldade - parquímetro, 1 hora por 0,50 € - junto a outro dos símbolos da cidade, a antiga Biblioteca de Sarajevo, construída em 1896 e hoje ainda em recuperação depois do bombardeamento que a incendiou em 1992. Lojas de artesanato - prevalecem as peças em cobre trabalhado - e pequenos cafés, ourivesarias, sapatarias, cabedais, mas também muitos espaços convertidos aos artigos indiferenciados que podemos encontrar em qualquer parte da Europa.

Apesar de haver grande predominância de mesquitas com os seus minaretes, é possível ver abertas ao culto igrejas católicas e ortodoxas e sinagogas. Nas montanhas que cercam Sarajevo, Jahorina e Bjelašnica, onde se realizaram provas dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1984, as pistas de esqui voltaram a funcionar. Também na cidade, o antigo estádio Olímpico de Zetra e o de futebol de Grbavica, ambos muito danificados pela guerra, estão hoje recuperados.

A cidade pareceu-me algo triste, talvez seja impressão, fruto do tempo enevoado e frio, ou então das vidas marcadas pelas dificuldades que ali se fazem sentir há 20 anos. Para quem visita, os hotéis não faltam em Sarajevo, totalmente renovados ou mesmo novos e para todas as bolsas. Nos restaurantes os preços são sensivelmente mais baixos do que em Portugal.

Os parquímetros são controlados "ao minuto" por fiscais e atenção às regras de trânsito, a polícia é omnipresente e o controlo de viaturas nas estradas principais fora da cidade é sistemático.

No banco postal do aeroporto onde à chegada havia trocado euros pelo local marco convertível (KM) não me trocaram as sobras: "Não temos euros!" Mesmo reclamando, nada feito. Solução, gastar na free-shop. Afinal de contas, ainda bem: trouxe uns belos chocolates e cheirosos sabonetes de lavanda, tudo produção deste singular país europeu, que os portugueses também ajudaram a pacificar.

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