1.º
Estávamos no último dia da visita ao Nepal, nomeadamente a Katmandu, Batkapur e Patan, depois de mais um dia de alucinantes visitas a "mil e um" templos budistas e indus das três cidades. No dia seguinte levar-nos-iam ao aeroporto para seguirmos viagem para a Índia.
Neste tal último percurso, que durou mais do que era suposto, a determinada altura, o guia, que ia ao lado do condutor, numa carrinha de sete lugares, virando-se para trás pergunta-nos, em castelhano, língua que fazia parte do "pacote" da viagem:
- Ustedes poderiam levar para Delhi um iPhone que um turista esqueceu aqui no hotel?
Como o guia tinha sido sempre muito simpático connosco, de imediato lhe dissemos que sim.
Passou-se um minuto ou dois e ele faz uns telefonemas.
Tão à-vontade tinha ficado o nosso homem que, passados mais três ou quatro minutos, virando-se novamente para trás, pergunta.
- Ustedes poderiam também levar assim um pequeno embrulho, ao mesmo tempo que com as mãos indicava as suas dimensões: uns 30x20x20 centímetros.
2.º
No dia seguinte levaram-nos ao aeroporto. Esvaziados os bolsos de chaves e moedas e tirado o cinto, mais as bagagens, tudo passou pelas máquinas de ultra-som sem problemas. Continuando a andar em direcção à zona das portas de embarque, deparámos com uma grande fila, que a certa altura se desdobrava em duas, uma para homens, outra para mulheres. A primeira coisa que me ocorreu, não ligando muito ao caso, foi justificar a fila das mulheres por causa das muçulmanas, como acontece em muitas outras situações com elas. Puro engano. Tratava-se de uma separação por causa de um novo controlo que incluía a abertura das malas, a palpação das pessoas e cães "cheiradores".
Mais uma vez passámos sem problemas, dirigindo-nos finalmente para junto da porta de embarque. À hora prevista passámos a porta e entrámos no autocarro que nos foi deixar junto do avião com destino a Delhi.
Para nosso espanto, entre o autocarro e o avião havia uma espécie de pequena tenda aberta de dois lados. Para se ter acesso ao avião tinha que se atravessar a dita barraca, onde havia um novo controlo, o terceiro. Todas as malas e sacos foram remexidos. Resta acabar de contar o que se passou com o tal pacote de 30x20x20 centímetros que o guia nos pediu para levarmos, juntamente com o iPhone. Quando ele, na carrinha, nos colocou a questão obteve uma resposta imediata e seca:
- Desculpe mas não levamos nem iPhone nem pacote e lamentamos que nos tenha colocado essa questão.
O resto já é conhecido e aqui estou eu a contar a estória e não impossibilitado de o fazer, numa qualquer masmorra nepalesa.