Posso ser um flâneur e encontrar o carrossel do Doisneau a rodar vazio num jardim ou pensar que o click da máquina do Bresson salvou para sempre uma rua, uma esquina ou um instante. Imagino a mesma Paris do Atget deserta, suspensa, feita de passado. Sinto o cheiro das tintas em Montmartre, a arte e a poesia invadem a cidade.
Numa brecha do tempo vejo o Victor Hugo a escrever Os Miseráveis e o Rodin a moldar a Catedral, sempre com a mesma fúria, o mesmo desespero, a mesma intenção de luta contra o esquecimento.
O fantasma do Proust procura o tempo perdido e é isso mesmo que buscamos na cidade quando caminhamos pelas ruas, esse tempo em que as ideias ainda podiam mudar o mundo e nos cafés da Rive Gauche Sartre acreditava que somos uma liberdade que escolhe.
Mas as gárgulas continuam, impenetráveis, a olhar Paris do alto, elas sabem que a história do homem é feita de viagens, momentos de espanto entre o instante e a memória, o real e a imaginação.
Anoiteceu, a luz escondeu-se nas ruas, nas esquinas nas pedras da calçada. A cidade está cheia de sonhos. As estátuas guardam o silêncio nas palavras mas... spleen! Atravessando as palavras há restos de luz!