Teria de ir para a estação rodoviária de Liliqao, do outro lado da cidade. Toma-se uma vez mais o metro e depois o autocarro, verdadeiras lianas nesta selva urbana que são a excelência do baixo custo: de forma a baixar o uso de viaturas particulares, o governo minimizou os preços dos transportes públicos, pelo que o bilhete do primeiro se cifra nos 0,20€ e o do segundo nos 0,10€.
Num terminal que me parece interminável, observo a massa humana nas inúmeras filas para comprar bilhete, à procura de quem tinha aspecto de proferir algumas palavras em inglês para dessa forma lhe pedir para o negociar por mim. A escolha recai sobre dois jovens que até iam para o mesmo destino.
Ao sermos atendidos, a resposta é novamente negativa. Enquanto desesperava, um deles puxa do telemóvel e, depois de fazer uma chamada, sorri e diz-me "não há problema, vamos todos hoje para Hohhot." Ficava depois a saber que, por sorte, o seu pai era amigo do chefe da estação e, como tal, apesar de o autocarro também estar lotado, caíram-nos três bilhetes do céu a preço de amigo no mercado negro.
Esperava-me um trajecto de oito horas com partida às 16h e chegada prevista para a meia noite. O autocarro necessitou de mais de uma hora para sair do centro urbano, sempre a andar a uma velocidade considerável. Setenta quilómetros mais à frente vejo de forma fugidia um lanço da Grande Muralha, em Badaling, um dos pontos mais turísticos do país. O veículo seguiu a sua marcha, mas esse instante foi o suficiente para atear o sentimento misto de incredulidade e maravilha que se apoderaram de mim perante tamanha construção, que não é menos que sobre-humana, erigida em tão íngreme lugar.
O sol começa a dar sinais que o dia está a findar. Tento repousar, mas em vão, seja pela conversa interminável movida pela curiosidade dos dois mongóis ou pelo mau estado da via. Mal sabia que a noite ainda nem uma criança era e que essa viagem soaria a interminável. Há dias em que a sorte e o azar parecem duas crianças matreiras, aliadas para nos pregarem uma bela partida.