Fugas - dicas dos leitores

Miami e a Arte Déco

Por Pedro Mota Curto

Nesta cidade, dir-se-ia que a língua mais falada seria a língua inglesa mas o que mais se ouve é a língua castelhana, quantas vezes com um sotaque tropical.
No entanto, com a maioria dos taxistas tudo é diferente. Nos seus automóveis amarelos, falam inglês e castelhano mas a língua que eles dominam verdadeiramente é o francês. Alguns vivem nesta cidade há muitos anos mas a maioria trabalha aqui durante quatro meses por ano, regressando depois à ilha onde residem e de onde são naturais, o Haiti. Lamentam-se da miséria existente na sua pátria, onde, segundo dizem, predominam os políticos desonestos, corruptos, ao que parece mais interessados em encherem os bolsos em proveito próprio do que em defenderem a causa pública.

Na cidade de Miami, em mais de sete milhões de pessoas, cerca de 65% por cento são cubanos. Muitos vieram de balsa, enfrentando os perigos de um mar parado, sem ondas, um caldo quente sem som. No entanto, no Verão podem surgir furacões.      

Aqui abriram cafés e restaurantes. O café serve-se exageradamente concentrado num grande copo, acompanhado por vários copos minúsculos. Depois, na mesa, divide-se o café pelos diversos copinhos, quase do tamanho de dedais, acompanhados por uma pastelaria notável, com ou sem coco. Nestes cafés, como na maioria da cidade, só se fala castelhano, a língua de Fidel.

Na marginal, corpos esculturais, de ambos os sexos, correm incessantemente, caminham, patinam ou andam de skate. Em pouco tempo, o infinito passadiço de madeira é preenchido com atletas de circunstância que procuram manter a forma e um estilo de vida saudável. 

Os edifícios são dos anos vinte e trinta do século passado, Arte Déco, genuinamente recuperada. Nesta cidade existem vários bairros, perto do mar, num total de mais de oitocentos edifícios de vários andares, construídos há quase cem anos e agora integralmente recuperados e conservados. Um deleite para a vista, para os passeios a pé, para os fotógrafos amadores ou profissionais mas também para o fervilhante comércio e restauração, convenientemente instalados nos andares térreos.

Parece evidente que nenhuma cidade construída à beira-mar, detentora de tão valioso património, tantos edifícios, deixaria de os manter, recuperar e conservar, preservando deste modo um futuro de turismo de qualidade, brilhante e consideravelmente atraente quer para os locais quer para os turistas oriundos de todo o mundo.

Caminhar nestas ruas é como um regresso ao passado. Nunca ninguém se poderia lembrar de demolir estes edifícios para em seu lugar edificar blocos de betão e de apartamentos. Estes americanos souberam preservar a sua cidade e a sua qualidade de vida.

A cidade de Miami, em Miami Beach e sobretudo em South Beach, é um excelente exemplo de preservação do património arquitetural e de manutenção da qualidade de vida de uma cidade que soube evoluir e acompanhar os ritmos da modernidade.

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